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COP30 – uma flopada medonha 

Sim, me refiro no título à 30ª Conferência das Partes – COP30, ainda em andamento em Belém/PA, que para a maioria terminou por flopar (gíria que significa fracassar). Ao mesmo tempo, uso uma expressão bem nordestina (medonha) que costuma designar algo inesperadamente grande, ou seja, foi um fracasso monumental. Não poderia ser outro o balanço de mais este superfestival ambientalista que todos os anos se repete em algum lugar do planeta, para reverberar debates repetidos, promessas velhas e metas de descarbonização cada vez mais urgentes e inalcançáveis.


Quem já lidou com cheques no comércio, lembra que algumas vezes o devedor chegava no dia aprazado, mas, ao invés de resgatar o cheque, comprava mais mercadorias e trocava um cheque correspondente à dívida antiga, digamos, de R$1.000,00 por um de R$2.000,00 para mais adiante. O credor, cada vez mais desconfiado, aceitava, afinal, não queria perder o bom freguês, até que a dívida ficava impagável e a inadimplência era declarada, obrigando o credor a fechar aquela conta. Pois é isso que está acontecendo com as COP’s desde a primeira. Estamos no trigésimo cheque sem fundos trocado por um maior que no próximo ano será novamente frustrado.


Em Belém, além do escandaloso gasto com o aluguel de grandes barcos que serviram de hotéis movidos a óleo diesel sem limites, do afluxo de jatões e jatinhos queimando combustível, de 160 geradores para fazer funcionar muito mal os aparelhos de ar condicionado, de preços de hospedagem acima da camada de ozônio, de alimentação cara e escassa a queimar os bolsos de jornalistas e turistas-ambientalistas, de instalações mal executadas que permitiram a inundação de áreas internas, ainda teve manifestação/invasão das instalações por uma horda de descontentes enfurecidos. Um troço somente comparado com as ruas cheias de lama, esgotos e urubus que fazem a paisagem mesma da capital paraense.


Em certo momento, nem a ONU aguentou e mandou uma cartinha reclamando da organização, da segurança e da manutenção das instalações. É um atestado da incompetência em letras grandes, ao qual as autoridades responderam minimizando os fatos apontados e prometendo providências. 


E o Lula da Silva, que planejou se tornar agora o papa ambientalista? Flopou também. Com a ausência dos principais Chefes de Estado e a negativa da maioria em encher o cofrinho da turma (o risco financeiro é alto), depois de mais um aborrecimento com uma noitada de carimbó frustrada que a Janja havia preparado para os visitantes, Lula resolveu fazer uma bate-volta para uma conversinha de pé-de-oreia, na Colômbia, com o narcoditador venezuelano Nicolas Maduro. Ninguém sabe o que conversaram nessa quadra em que o presidente americano está agindo contra o narcoterrorismo. A versão oficial foi de que Lula prestou solidariedade ao colega sul-americano. 


Tá bom, mas quais os resultados efetivos da COP30? Ainda não se sabe com segurança. Normalmente sai dali uma carta com mais compromissos (lembram do cheque?), com mais promessas de programas e de dinheiro a rodo para as ONG’s e governos aderentes. Por enquanto, temos novos resultados de “pesquisas engajadas” a favor do aquecimento global antropogênico e uma palavrinha bonita para embalar o pacotão – justiça climática. Doravante, não se falará de qualquer coisa sem que esse bordão seja inserido.


Até a Greta Thunberg, que veio (de jato) fantasiada de He-Man, já adotou a ideia como norte moral. Vamos ao significado de justiça climática. O que diabo é isso? perguntaria o cético com relação a ambas (justiça e clima). Vamos lá. “Justiça climática” é um conceito que pretende tratar das consequências da “crise climática”. Pressupõe que os impactos das mudanças climáticas não afetam todas as pessoas e comunidades de forma igual, portanto é necessário redistribuir esses impactos com equidade. Justiça ambiental já ficou para trás antes de valer, a palavra agora é climática para ser mais ampla e acessível aos iniciados na seita e tem em vista o pobrismo de sempre, ou seja, as comunidades pobres, indígenas, países em desenvolvimento e minorias étnicas que, por sofrerem mais com eventos como secas, inundações e ondas de calor, apesar de terem contribuído menos para o aquecimento global, precisam de reparação. Vem aí o direito climático, esperem.


Um dos problemas com a “justiça climática” como reparadora de “injustiças” é que, como a régua é dada pelas emissões de carbono na atmosfera, os injustos (os que emitiram/emitem) talvez não sejam tão injustos assim. Tome-se como exemplo a pecuária. Alguém aí já mediu quanta fome e desnutrição foi evitada pelo consumo de proteína animal? Na agricultura, quanto se deve aos fertilizantes e máquinas? Outro exemplo, o cimento. Sabe-se que toda a produção de cimento no mundo resulta em emissão de CO² na atmosfera. Alguém pode dizer quantas doenças, catástrofes e mortes foram evitadas pelo conforto e segurança de uma casa de alvenaria? Quanto as cidades e os cidadãos devem ao cimento? Imaginemos o mundo sem ele. Agora, imaginemos punir esses setores em função de que os GEE por eles produzidos prejudicam com maior ou menor força este, ou aquele estrato social. 


A ideia parece ser: “Enfiem impostos nessa gente poluidora e passem o dinheiro para as ONG’s e governos que vai dar certo”. Jura? Pois um estudo publicado na revista Science (ver AQUI) revelou que de 1500 políticas climáticas executadas no período 1998-2022, em 42 países nos seis continentes, apenas 63, SESSENTA E TRÊS! Foram bem-sucedidas em suas metas de redução das emissões de GEE. Que tal? Qual dirigente confiará que essa gente vai entregar resultados da execução de 1,3 TRILHÕES DE DÓLARES – (cálculo do governo Lula – AQUI) para uma transição energética “justa”, mitigação e adaptação e a preservação das florestas tropicais como eixo central de uma nova economia verde? É uma grana medonha!


Enfim, aguardemos mais alguns dias para sabermos o que vai sair de Belém, além dos barcões, barcos e barquinhos, jatões, jatos e jatinhos. Da minha parte, modestamente, continuo acompanhando o cientista sueco Bjørn Lomborg, segundo o qual é mais racional priorizar investimentos em soluções eficazes, como combate à fome, doenças e adaptação climática em vez de cortes drásticos em emissões de carbono que poderiam prejudicar economias em desenvolvimento e perpetuar a pobreza, enfatizando que recursos limitados devem ser alocados de forma inteligente, em inovações tecnológicas e políticas que equilibrem o bem-estar humano imediato com sustentabilidade de longo prazo.



Valterlucio Bessa Campelo escreve semanalmente nos sites AC24HORAS, DIÁRIO DO ACRE, ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites. Seu último livro, “Arquipélago do Breve”, encontra-se à venda através de suas redes sociais e do e-mail valbcampelo@gmail.com.