O IBGE divulgou os resultados consolidados do Produto Interno Bruto para o ano de 2023. Para o Acre, a informação foi preciosa e merece reflexão mais contida e menos apaixonada. O número cru aponta que o PIB do Acre, em 2023, foi de R$ 26,3 bilhões. Isso representou um crescimento real de 14,7%. Foi o maior crescimento entre todos os estados do país. Essa é uma informação matemática. Comemore quem, por vários fatores, precisa comemorar.
A análise econômica, no entanto, exige menos entusiasmo. Embora seja necessário ressaltar que uma das obrigações lógicas de qualquer analista é reconhecer que um crescimento de 14,7% do PIB indica que as decisões e manutenções de ordem econômica têm sido acertadas. Não reconhecer isso seria leviano e, por fatores sobretudo ideológicos, injusto. O conceito obriga a reforçar que PIB em crescimento é consequência de atividade econômica aquecida, em fluxo, em movimento. Essa é uma premissa necessária na busca de uma leitura equilibrada da cena econômica acreana. Mas é preciso ir além.
É necessário apresentar algumas “camadas” de análise, também na busca por equilíbrio e justiça. Para isto, é bom frisar: os dados consolidados apresentados pelo IBGE guardam relação ao ano de 2023. E essa é uma informação importante. O ano de 2023 foi o primeiro ano do segundo mandato de Gladson Camelí. Os quatro anos anteriores foram marcados pelo drama humano da pandemia da Covid-19. Nesse período, a economia sofreu, minguou.
O que fez, então, com que os dados de 2023 se apresentassem com esse desempenho? O primeiro fator foi a rápida resposta que o setor agropecuário conseguiu apresentar. Com 17,1%, reaqueceu áreas econômicas importantes em diversas cadeias produtivas.
O segundo fator: o próprio Governo do Acre. A máquina pública continuou sendo a toda poderosa na economia local: aumentou a participação no PIB do Acre de 35,9% para 38,5%. Cresceu a despesa da máquina pública administrativa. Sobretudo no Acre, isso faz aquecer a economia.
O terceiro fator é a herança. Como foi dito, em 2023, Camelí tinha tentado administrar um lugar pobre, com economia fragilizada, em plena pandemia. Passou os dois primeiros anos da gestão atordoado, dependendo mais do Ministério da Saúde, cujo líder maior era negacionista anti-vacina, do que do desempenho dos agentes econômicos locais. A máquina pública (que aumentou a participação no PIB em 2023 e é o maior agente econômico regional) foi recebida por Camelí, em 2019, com o mínimo de estruturação.
Resumindo em uma frase de boteco: Camelí não teve que “quebrar pedras” para fortalecer braços e pernas do maior agente econômico regional. Com um destaque: impulsionado por um fator político, o governador acabou gerando um ativo econômico importante: manteve o pagamento do funcionalismo público em dia. Esse é o mérito, associado à manutenção de programas que já estavam em atividade, criados por gestões anteriores. Reconhecer essa herança, politicamente, é improvável que a atual equipe de governo o faça. Praticamente impossível que isso ocorra. Novamente: na busca de ser equilibrado e justo, é necessário que isso seja lembrado e reconhecido.
Para além da colossal importância econômica da Administração Pública no PIB do Acre, a Agropecuária foi, sem dúvida, o destaque. Em 2019, teve uma participação no PIB de 7,5%. Saltou para 17,1% em 2023, ancorada pela pecuária e pelas safras de soja. Um segmento econômico crescer 9,6 pontos percentuais em quatro anos, concorrendo contra todos os problemas de infraestrutura que se tem por aqui, não é um desempenho qualquer. Sem contar a sequência de secretários de Estado de Agropecuária que mal aqueciam a cadeira no primeiro mandato de Camelí. Só para se ter uma referência de comparação, nesse mesmo período, a indústria local passou de 7,2% para 8% de participação no PIB.
Há outro detalhe importante sobre o PIB. É um indicador macroeconômico por excelência. É termômetro de atividade econômica. É uma referência importante. No entanto, é preciso lembrar que ele não indica nada sobre a capilaridade desse PIB no miúdo da vida das pessoas.
Falando economês: não detalha a distribuição da renda. De outra forma, em 2023, cada acreano teria tido no bolso durante o ano R$ 31.676. É a 17ª posição de PIB per capita entre os estados brasileiros.
Tudo o que se falou neste espaço é sabido pela equipe de Governo. Uma demonstração disto foi a discrição com que a informação do PIB foi recebida. É um dado positivo, sem dúvida, mas que só empolga os comunicados oficiais e os ânimos plenos de propósitos.