Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Enfim, a COP30. A Cúpula dos Líderes já terminou e foi dada uma referência importante aos diplomatas para as discussões que se estabelecem a partir desta segunda-feira, com o início do encontro efetivamente. Sobretudo o mundo pobre valoriza a Conferência das Partes. É onde ele, o mundo pobre, tem mais voz. É ali que ele escancara do que é vítima; é ali que os algozes ficam mais nítidos. E nesse debate, infelizmente, o Acre entra miúdo. Nunca foi grande, é bem verdade. Mas já teve representação, simbolicamente, mais forte.
Atualmente, qual é a instância mais representativa que o Acre alcançou para esta conferência? A coordenação da Câmara Setorial de Agricultura e Economia Verde do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal, abreviado para “Consórcio Amazônia Legal” (CAL). É uma instância polícia que reúne os nove estados brasileiros que integram o bioma. O secretário-adjunto de Estado de Agricultura, Edivan Azevedo, é o coordenador.
O Acre entra pedindo licença nesse encontro não por ingerências e incompetências deste governo. A questão é mais grave porque a camada que define protagonismos está bem mais adiante. É a Economia quem dita importância. Trata-se de um debate que evidencia, a cada edição, como o fator ambiental não pode ser negligenciado por mais ninguém, sobretudo pelos grandes atores da cena econômica em escala global. E, nesse aspecto, o econômico, o Acre nem fala.
Na prática, o que se tem de Acre na COP? A Embrapa tem a participação mais densa: leva na mala o Netflora (o mateiro digital), o Sistema Guaxupé (pecuária sustentável), os Sistemas Agroflorestais, os Sistemas Agrícolas Tradicionais, a Cadeia Produtiva do Bambu (Bioeconomia).
O Governo do Acre chega com o programa Pecuária+Sustentável; Cadeia Produtiva do Cacau (Rotas do Cacau); cadeia produtiva do mel, redução de desmatamento de 27,62% (segundo o Inpe), um REDD+ Jurisdicional e o controverso orçamento climático. Não fosse a Embrapa, o Acre estaria em uma situação beirando o constrangimento.
Onde o Acre se agiganta em fóruns como a COP? O Acre é enorme no plano simbólico. E só uma pessoa que ignora por decisão é capaz de negligenciar politicamente o poder dos símbolos. E é justamente no plano simbólico que reside a maior fragilidade, aí sim, do atual Governo do Estado.
Gladson Cameli iniciou o governo dando carão em fiscal do Imac durante encontro com agricultores de base familiar na Estrada Transacreana. Aliás, antes disso, ainda em campanha eleitoral, visitava fazendas da moda, cercado de soja por todo o juízo. Deixou-se fotografar por todos os ângulos em um futuro que se anunciava recheado de grãos. Colocou a faixa de governante e ainda manteve por um tempo o raciocínio contaminado pelo maniqueísmo ilógico “agro X floresta”.
A prática do governo, os acordos já firmados pelo Estado do Acre com organismos internacionais, os eventos extremos (frutos das mudanças climáticas) foram se impondo na agenda do governante. Resumindo: Gladson começou o governo fotografando-se numa plantação de soja. E termina dizendo que não precisa derrubar uma árvore para fazer a economia do Acre prosperar.
Do ponto de vista administrativo, deu um cavalo de pau. Do ponto de vista político, construiu uma imagem que lhe fragiliza de uma ponta a outra. Não é suficientemente “floresta” porque necessita do setor agrícola para conduzir programas da área de produção que lhe rendam dividendos eleitorais; e não é suficientemente “agro” porque precisou adotar a retórica da sustentabilidade ambiental para poder ter acesso a recursos que lhe dão alguma autonomia para além do Orçamento Geral da União. Sem contar a dificuldade com que trata desses assuntos. É visível a falta de intimidade e traquejo. Essa postura vacilante e dúbia segue barranco abaixo, contaminando a gestão e as relações.
Algum assessor, no surto provocado pelo desespero, lembrou: “Mas o Acre tem Marina!”. É verdade. Exceção feita aos acreanos que estarão na COP, qualquer outro participante (mesmo brasileiro) é capaz que tenha dúvidas de onde saiu aquela gigante franzina e com coque bem ajustado.
Dói um pouco dizer, mas Marina extrapolou as divisas do Acre. Ultrapassou até mesmo as fronteiras do país. No debate ambiental e econômico, ela é uma personagem do Mundo. É uma mulher cuja história e trabalho têm relevância universal. Goste-se dela ou não.
Enfim, para ser justo, não se pode cobrar do Acre uma coerência de ação que nem mesmo o governo brasileiro teve. O presidente Lula afirmou que essa será a “COP da Verdade”. Disse isso sem corar, momentos após toda a cúpula política do governo vibrar com a liberação do Ibama para que a Petrobras realize estudos de pesquisa exploratória de petróleo na foz do Rio Amazonas. O próprio Brasil entra miúdo nessa conferência.