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O narcoterrorismo estará no centro do debate

Não se fala em outro assunto desde que as forças de segurança do Rio de Janeiro subiram o morro e, em uma ação extremamente exitosa, neutralizaram (linguagem policial) 117 (cento e dezessete) meliantes de toda espécie e graduação, e prendeu outros 113 (cento e treze) que, de última hora, resolveram levantar as mãos e baixar as armas. Um estrondoso sucesso operacional somente tisnado pela morte de 4 (quatro) policiais (dois civis e dois militares).


A questão da segurança finalmente chegou ao topo das preocupações dos brasileiros e das autoridades e, creio, dará o mote principal da campanha eleitoral de 2026. Para o brasileiro comum, trabalhador honesto que vive a cada dia o drama de conseguir prover sua família, pagar o aluguel e sobreviver nessa terra de meu Deus, parece um alento que se acenda na sociedade essa fogueira santa de luta pela redução da criminalidade e pela restauração da liberdade.


Milhares de quilômetros distante do Rio de Janeiro, seja no Acre ou no Ceará, no Amazonas ou no Rio G. do Sul, a crise de segurança que explodiu por lá antecipa a crise que explodirá por cá brevemente, se as medidas acertadas não forem tomadas. A rigor, a diferença entre os estados brasileiros é apenas de fase de ocupação do território por essas organizações, que de narcotraficantes evoluíram para uma espécie de narcoestado com suas regras de acesso, justiça e financiamento próprios.


Tomemos o caso do Ceará, que replica o Rio de Janeiro (ver AQUI e AQUI). Forçadas pelos bandidos, as pessoas abandonaram suas casas em uma comunidade do município de Pacatuba, e saíram apenas com o que puderam levar nas mãos, deixando suas vidas e a pouca propriedade para trás. Antes, a mesma coisa aconteceu no município de Morada Nova no sertão cearense. Sei de conhecer, que vários municípios são política e administrativamente geridos por essas organizações, desde a câmara legislativa à prefeitura. Quem não se converte à ONT (organização narcoterrorista) é expulso, espoliado, destituído de sua cidadania e viverá sob ameaça. Na capital, Fortaleza, dezenas de bairros só diferem dos morros cariocas pelo relevo, de resto, é igual. Gás, água, internet, transporte, acesso, obras, tudo passa pelo crivo e cobrança do estado paralelo implantado pela ONT.


Não sou especialista, não afirmo categoricamente nada sobre o assunto, estou livre de dizer, como a “especialista” do grande mídia, que uma pedrada derruba o sujeito com um fuzil (ver AQUI), mas como cidadão gostaria que cada uma das dezenas de organizações atuantes, dependendo do seu estágio, fosse classificada pelo Estado como narcoterrorista, obtendo-se com isso mais fortes e rápidos meios de ação para combatê-las, além de maior cooperação internacional. Em seguida, sem contemplação, que fosse formalmente declarada guerra a todas elas, operando imediatamente uma faxina geral, sem meios termos, sem vacilos, em todas as grandes e médias cidades conforme o caso. Antecipadamente ou, à medida do necessário, as leis podem ser facilmente adequadas para tal. 


Certamente surgirão os imbecis de sempre para dizerem “segurança não tem nada a ver com ideologia”, arrotando o centrismo vagabundo de quem não sabe para onde ir, mas é claro que o combate a essas organizações não passa ao largo do embate ideológico. Não é segredo para ninguém, nem para a mídia amestrada (ver AQUI), que a esquerda é a mãe do Comando Vermelho. O Primeiro Comando da Capital – PCC, bem mais recente, nasceu por outros motivos e cresceu como uma espécie de Sindicato, contando hoje com uma rede de núcleos espalhados por todos os estados da federação (ver AQUI). Pode-se dizer que, neste caso, a ONT nasceu sem DNA ideológico.


De toda sorte, a esquerda, que sempre defendeu o desencarceramento, a atenuação de penas, a expansão de privilégios e a contemporização com o crime (basta ver quem correu para acusar o governador Cláudio Castro), terá que encontrar um meio de no plano eleitoral se desvencilhar do passado de leniência com o crime e ostensiva agressividade contra as polícias. Não será tarefa simples. 


Enquanto os conservadores exigem penas mais duras, menos burocracia, mais recursos e facilidades para as ações policiais, os progressistas vestem o véu dos direitos humanos e distribuem simpatia e vantagem aos criminosos. Na última eleição, Lula teve mais de 80% dos votos dos nas prisões, ou seja, há uma notória preferência do crime organizado em relação à esquerda. Advinha quem pediu a ADPF 635 (ver AQUI) das favelas em 2020, que potencializou o CV? Quem se responsabiliza pelo crescimento das OTNs após a decisão suprema?


Percebendo que a coisa tomou um rumo imprevisto, Lula da Silva, que em Jacarta disse que o traficante é vítima do usuário, está em palpos de aranha. Não sabe a quem servir. Atende a demanda do povo e endurece o Estado contra os narcoterroristas, combatendo a criminalidade sem trégua, ou mantém a leniência consertada com seu partido e suas origens? Até aqui está na muda. Como não pretende de forma alguma declarar as facções como organizações narcoterroristas, para não as submeter à ação de governos estrangeiros, prefere um silêncio fugidio. Aguardemos.


Sim, a direita se aproveitará e erguerá ainda mais alto a bandeira da segurança. Pré-candidatos como o Caiado, por exemplo, que desde antes já se posicionava com firmeza contra a criminalidade, se movimentará à vontade. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que, no início da gestão, deu um aperto na criminalidade da baixada santista, sendo por isso perseguido pelo petismo, também terá o que mostrar. No Nordeste, dominado pela esquerda, não há o que referenciar a não ser o crescimento acelerado das OTNs da Bahia ao Maranhão. 


Considero muito bem-vinda ao centro do debate político a causa da segurança pública que, neste caso, é de segurança nacional. Por muitos anos as forças políticas evitaram essa questão, uns por não atentarem para a dimensão do monstro que se nutria da leniência, outros por medo de confrontarem o politicamente correto estabelecido principalmente pela mídia. Hoje, nota-se que por trás das drogas que alguns querem liberar, há uma força maior, muito maior, que não será derrotada com covardia e tergiversações do tipo “temos que pegar os cabeças”, uma óbvia desculpa para não pegar ninguém.


Valterlucio Bessa Campelo escreve semanalmente nos sites AC24HORAS, DIÁRIO DO ACRE, ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites. Seu último livro, “Arquipélago do Breve”, encontra-se à venda através de suas redes sociais e do e-mail valbcampelo@gmail.com.