Os dados atualizados do Ministério da Agricultura (MAPA) mostram que o Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária do Acre deve atingir R$ 3,94 bilhões em 2025, um crescimento expressivo de 30,2% em relação a 2023, conforme pode ser observado na tabela a seguir. O desempenho é impulsionado principalmente pela pecuária bovina, que continua sendo o carro-chefe da economia rural acreana, respondendo por quase 70% de todo o VBP estadual. No entanto, o dado mais emblemático do período é a impressionante expansão da cafeicultura.

O MAPA calcula o Valor Bruto da Produção (VBP) multiplicando o volume da produção agropecuária pelos preços médios recebidos pelos produtores, utilizando como base dados do IBGE sobre produção e pesquisas de preços. MAPA projeta e atualiza essas estimativas com base nas informações mais recentes disponíveis, deflacionando os valores pelo Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI) da FGV.
O salto do café: 314% em dois anos
Entre 2023 e 2025, o VBP do café saltou de R$ 33,7 milhões para R$ 139,6 milhões, um aumento de 314,2%, o maior entre todos os produtos analisados. Com esse avanço, o café passou a ocupar a quinta posição no ranking estadual e superou a soja, que registrou VBP de R$ 123,6 milhões e crescimento bem mais modesto (16,3%). No gráfico a seguir, constam as variações dos principais produtos agropecuários do Acre.

Esse resultado marca uma virada histórica na matriz produtiva acreana: pela primeira vez, o café — tradicionalmente associado ao cultivo familiar e a pequenas propriedades — alcança um patamar econômico comparável às grandes culturas de grãos. A cafeicultura ocupa vários polos de produção em várias regiões do Acre.
Trata-se de um reflexo direto da expansão da área plantada, do aumento dos preços co mercado interno e externo, do aumento da produtividade e, sobretudo, da consolidação de arranjos cooperativos estruturados, como a Coopercafé, sediada em Mâncio Lima.
A Coopercafé, cooperativa singular vinculada à Cooperacre, tem desempenhado papel estratégico na transformação da cafeicultura acreana. Ao articular assistência técnica, beneficiamento industrial e comercialização conjunta, ela vem permitindo que centenas de produtores familiares ingressem em mercados formais, ampliem sua renda e profissionalizem suas operações.
O salto do VBP do café, portanto, não se explica apenas por fatores climáticos ou de preço, mas pela organização produtiva baseada no cooperativismo de resultado — um modelo que combina sustentabilidade, inovação e solidariedade econômica. O Juruá, onde a produção da farinha de mandioca ainda é uma potência econômica, o café se tornou outra forte cultura e consolida-se como o epicentro dessa nova etapa do desenvolvimento agroflorestal do Acre.
O avanço do café tem uma forte participação do cooperativismo rural que indicam uma diversificação positiva da economia agropecuária acreana. A contribuição da Coopercafé (Mâncio Lima) influenciou positivamente esses números. Outras cooperativas como a Coopaeb (Brasiléia/Assis Brasil) e Cooperxapuri (Xapuri) também estão incentivando a introdução do café junto aos seus cooperados.
Esse modelo evidencia a consolidação do “novo cooperativismo agroflorestal”, que transforma atividades familiares em empreendimentos economicamente viáveis e ambientalmente sustentáveis, promovendo a interiorização do desenvolvimento rural e a diversificação da economia do Acre.
Mesmo com a hegemonia da pecuária, a participação crescente de outros produtos como café mostra que há espaço para cadeias de maior valor agregado e menor impacto ambiental. O desafio agora é consolidar políticas públicas e instrumentos de crédito que sustentem esse crescimento, garantindo que o “novo cooperativismo” — liderado por experiências como a Coopercafé — se mantenha como vetor de desenvolvimento regional e inclusão produtiva.
Ao contrário da soja, cuja viabilidade econômica depende de grandes extensões de terra, alto nível de mecanização e elevados investimentos em insumos, o café apresenta-se como uma cultura inclusiva, capaz de se adaptar às pequenas propriedades da agricultura familiar. No Acre, essa característica tem permitido a inserção de centenas de famílias rurais em uma cadeia produtiva organizada, rentável e ambientalmente sustentável. Enquanto a soja se concentra em grandes fazendas e exige logística e capital intensivos, o café pode ser cultivado em áreas reduzidas, integradas a sistemas agroflorestais, preservando a floresta e diversificando a renda. O avanço da cafeicultura demonstra que é possível combinar produção, inclusão social e sustentabilidade, consolidando o café como uma alternativa estratégica para o fortalecimento da agricultura familiar e do novo cooperativismo acreano.
Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas













