O Sindicato dos Médicos do Acre (Sindmed-AC) emitiu nesta quarta-feira, 29, uma nota pública manifestando preocupação com a forma como parte da imprensa local e alguns atores políticos têm tratado a morte de um recém-nascido prematuro extremo, José Pedro, em Rio Branco (AC).
Segundo o sindicato, determinadas declarações públicas e reportagens têm transformado o episódio em um “espetáculo”, promovendo julgamento antecipado das médicas envolvidas antes de qualquer apuração técnica e imparcial dos fatos. “Essa postura fere frontalmente o princípio constitucional da presunção de inocência, garantia fundamental que se aplica a todos os cidadãos”, afirma a nota.
O Sindmed-AC critica ainda a pressão para que as profissionais se justificassem publicamente, sugerindo que o silêncio poderia ser interpretado como culpa. “Tal atitude apenas reforça a tentativa de espetacularizar a dor, ignorando que tanto a família quanto as médicas sofrem com a perda de uma vida”, destacou a entidade.
A nota lembra que a Medicina não é uma ciência exata e que desfechos indesejados não significam necessariamente erro ou negligência. “Quando falhas acontecem e são devidamente apuradas, elas deixam marcas profundas, sobretudo nos próprios médicos, cuja vocação e propósito sempre foram o de preservar vidas”, pontua o sindicato.
O Sindmed-AC também manifestou perplexidade com a exposição pública das médicas, enquanto casos envolvendo acusados de crimes graves frequentemente têm os nomes preservados. A entidade questiona se o silêncio das profissionais não seria fruto do medo, da dor e do trauma de já terem sido condenadas socialmente.
NOTA À SOCIEDADE CIVIL
O Sindicato dos Médicos do Acre (Sindmed-AC) vem a público manifestar profunda preocupação e repúdio à forma como parte da imprensa local e alguns atores políticos têm tratado o lamentável episódio envolvendo a declaração de óbito de um recém-nascido prematuro extremo em Rio Branco.
O objetivo de certas manifestações públicas — carregadas de acusações precipitadas e julgamentos morais — não parece ser o de buscar justiça ou consolar a família enlutada, mas o de transformar um episódio doloroso em espetáculo e promover uma execração pública das médicas envolvidas, antes mesmo de qualquer apuração técnica e isenta dos fatos.
Essa postura fere frontalmente o princípio constitucional da presunção de inocência, garantia fundamental que se aplica a todos os cidadãos, inclusive àqueles injustamente acusados.
Alguns comunicadores chegaram ao absurdo de exigir que as profissionais viessem a público se justificar, insinuando que o silêncio equivaleria à culpa. Tal atitude apenas reforça a tentativa de espetacularizar a dor, ignorando que tanto a família quanto as médicas sofrem com a perda de uma vida.
É necessário recordar que a Medicina não é uma ciência exata. O desfecho indesejado de um caso não significa, por si só, erro ou negligência. Quando falhas acontecem — e são devidamente apuradas — elas deixam marcas profundas, sobretudo nos próprios médicos, cuja vocação e propósito sempre foram o de **preservar vidas.
Causa perplexidade observar que parte da imprensa, que com frequência preserva a identidade até de acusados de crimes graves, neste caso tenha optado por expor publicamente os nomes das médicas, submetendo-as a um julgamento social devastador e a um sofrimento emocional de proporções incalculáveis.
Perguntamos: alguém se perguntou se o silêncio dessas profissionais não é, na verdade, fruto do medo, da dor e do trauma de já terem sido condenadas socialmente antes mesmo de qualquer processo ético ou judicial?
A sociedade, infelizmente, costuma lembrar dos médicos apenas nos momentos de tragédia. Pouco se fala das vidas salvas, dos plantões exaustivos, dos sacrifícios pessoais e familiares que fazem parte da rotina de quem se dedica a cuidar.
Mas basta uma suspeita — ainda que não comprovada — para que recaia sobre o médico um peso desproporcional de críticas e acusações. Nenhuma outra categoria é tão cobrada, tão exposta e tão pouco compreendida.
O Sindicato dos Médicos do Acre reafirma sua solidariedade e apoio incondicional às médicas envolvidas, profissionais de conduta ilibada e de reconhecida competência técnica. Reiteramos também nosso respeito e pesar à família do recém-nascido, que vive um momento de dor incomensurável.
Por fim, conclamamos a imprensa, os gestores públicos e toda a sociedade a agir com responsabilidade, prudência e empatia, permitindo que os fatos sejam devidamente apurados pelas instâncias competentes, sem julgamentos sumários ou execração pública.
Rio Branco, 29 de outubro de 2025
Sindicato dos Médicos do Acre


















