Foto: Imagem ilustrativa gerada por inteligência artificial I google/gemini
O ac24horas lançou neste domingo (26) o documentário “Os Desafios das Políticas Habitacionais em Rio Branco”, uma produção dirigida por Whidy Melo, com direção de conteúdo de Marcos Venícios. A obra, disponível no site e nas redes oficiais do jornal, mergulha em uma das questões sociais mais complexas e urgentes da capital acreana: a luta por moradia digna e o impacto das políticas públicas sobre milhares de famílias.
O filme abre com a voz da moradora Valdenir Soares dos Santos, do bairro Papouco, que há décadas resiste à remoção de sua comunidade. Sua fala resume a tensão de quem vive entre o medo da desapropriação e o apego a uma vida construída às margens do Rio Acre, no centro da capital. “A única coisa que nós queremos aqui é ajeitar nossa crechezinha, nossa escola, nossa escada… porque adianta não tirar nós daqui, aqui nós temos tudo isso”, disse.
A partir desse ponto, o documentário conduz o espectador por um retrato multifacetado da crise habitacional, entre a visão técnica da professora Maria de Jesus Morais, pesquisadora e doutora em Geografia Política, as declarações do prefeito Tião Bocalom, e depoimentos de moradores, líderes comunitários, vereadores e secretários municipais.
O documentário relembra o programa “Mil e Uma Dignidades”, lançado pela prefeitura em 2022, com a promessa de construir mais de mil casas de madeira em um único dia. A proposta, inicialmente vista como ousada, acabou sendo adiada e substituída, em parte, por novas unidades do Minha Casa Minha Vida, fruto de parceria entre a prefeitura e o governo federal. Segundo o prefeito Tião Bocalom, Rio Branco nunca havia acessado o programa federal por falta de terrenos e contrapartidas municipais. “Agora nós temos terreno, nós pagamos a diferença, nós estamos fazendo infraestrutura”, afirma o gestor em sua participação no filme.
O vídeo mostra que o governo federal investe cerca de R$ 35 milhões em cinco conjuntos habitacionais localizados nos bairros Tucumã, Rui Lino, Bom Sucesso e Santo Afonso. Em troca, a prefeitura precisa garantir saneamento, pavimentação e rede de água – condições que, segundo líderes locais, ainda não são realidade em muitas regiões. No bairro Jacarandá, o líder comunitário Adalcimar Pereira de Souza resume a preocupação com eventual sobrecarga dos serviços públicos, que já são falhos. “Com o crescimento das casas, muita gente vai vir morar aqui. Nesse crescimento, nós precisamos dessa benfeitoria aqui dentro da nossa comunidade”, apontou.
O documentário também registra críticas de parlamentares e moradores à condução dos programas habitacionais. O vereador Zé Lopes aponta falta de planejamento: “A prefeitura deveria ter, ao invés de promessas eleitoreiras, um plano estruturante para o saneamento básico, a habitação e o transporte público”. Em contraponto, o secretário de Assistência Social, João Marcos Luz, defende os programas. “As pessoas não estão indo para um lugar com esgoto a céu aberto. Onde elas vão, podem ter certeza, é uma infraestrutura boa”, falou.
Mas a professora Maria de Jesus Morais questiona o discurso oficial e aponta um problema histórico de segregação urbana em Rio Branco, ao mostrar estudos que mostram que a expansão urbana da capital acreana tem empurrado populações mais pobres para áreas periféricas e, em muitos casos, já marcadas por conflitos de terra. “Você vai limpando algumas áreas da cidade dessa população chamada de indesejável e vai direcionando para outra faixa. O termo ‘indesejável’ é entre aspas, porque é muito desejável em termos de voto”, opinou.
Um dos trechos mais sensíveis da obra mostra a resistência de moradores do bairro Papouco, que serão realocados para o conjunto Rosa Linda, próximo à Cidade do Povo – regiões dominadas por facções rivais. O líder comunitário Wellington Pinheiro alerta: “A gente não quer sair daqui porque o Rosa Linda é aqui, e a Cidade do Povo é do lado. Vai ser uma guerra total. Pode preparar a funerária”, dispara.
Em resposta, o prefeito Bocalom diz que “meia dúzia” de pessoas resistem à mudança por ligação com atividades criminosas e que a remoção será feita “queiram ou não”.
Na reta final, o filme revela imagens inéditas do galpão onde são armazenadas e montadas as casas do projeto Mil e Uma Dignidades, após denúncias de vereadores sobre madeiras apodrecidas e ligações irregulares de energia. A prefeitura rebate as acusações e mantém a promessa de entregar entre 20 e 30 casas por mês, com a meta simbólica de um dia “quebrar o recorde” de construir mil casas em 24 horas.
O documentário “Os Desafios das Políticas Habitacionais em Rio Branco” é uma produção do ac24horas e está disponível na íntegra no canal oficial do jornal no YouTube, e pode ser acessado pelo link abaixo:
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