Estudo recente do DIEESE mostra que o salário médio real no Brasil permanece estagnado há anos, mesmo com o aumento do custo de vida e a recuperação parcial da economia. Não temos nem de perto o poder de compra de um país com economia desenvolvida: no Brasil, o carro é considerado bem de luxo e o smartphone é financiado como um automóvel. Essa defasagem salarial impacta diretamente o consumo das famílias, a produtividade e o próprio desenvolvimento nacional. A renda do trabalhador é o principal motor do mercado interno, e quando ela não cresce, todo o sistema econômico perde dinamismo.
A discussão sobre o aumento dos salários no setor privado não deve ser tratada apenas como uma questão trabalhista, mas como uma estratégia de desenvolvimento econômico e social. Quando o trabalhador ganha melhor, ele aumenta o consumo e ajuda o próprio comércio, fortalecendo a economia local e ampliando a arrecadação do governo sem elevar impostos. Assim, o ciclo virtuoso do desenvolvimento se estabelece a partir do fortalecimento da renda.
Um dos desafios para essa política é equilibrar o aumento salarial com a sustentabilidade das empresas. Nesse ponto, o poder público pode exercer um papel decisivo criando programas de incentivo que recompensem empresas que valorizam seus funcionários.
Cingapura criou um programa exemplar de incentivo salarial, o Wage Credit Scheme (WCS), vigente de 2013 a 2020, substituído em 2022 pelo Progressive Wage Credit Scheme (PWCS). O mecanismo consiste em o governo cofinanciar parte dos aumentos salariais concedidos pelas empresas a trabalhadores locais.
Quando uma empresa concede aumento de salário a um empregado, o governo devolve uma porcentagem do valor adicional pago. Essa porcentagem varia conforme a faixa salarial e o período orçamentário, priorizando trabalhadores de menor renda e pequenas e médias empresas.
Relatórios do Ministério do Trabalho de Cingapura mostram que mais de 78% das empresas concederam aumentos entre 2022 e 2024, mesmo com pressões de custo. O Banco Central de Cingapura (MAS) destacou que o PWCS ajudou a manter equilíbrio entre aumento salarial e produtividade, evitando inflação salarial abrupta. Além disso, o programa tem previsão orçamentária definida, o que impede que os gastos cresçam sem controle e garante previsibilidade ao setor produtivo.
Nosso modelo atual de desenvolvimento não tem surtido efeito suficiente para melhorar a qualidade de vida da população. Benefícios sociais não atrelados a políticas de emprego têm efeito limitado, uma vez que não inserem as pessoas de forma direta e produtiva no mercado de trabalho. O crescimento econômico recente tem sido incapaz de gerar renda real, reduzir desigualdades e fortalecer o setor produtivo. Para mudar esse cenário, será preciso inovar — e copiar modelos bem-sucedidos pode ser um bom atalho. Programas que incentivem empresas a pagar melhor, como o exemplo de Cingapura, demonstram que é possível combinar justiça social e eficiência econômica.
Valorizar o trabalho é fortalecer a economia. Um programa que estimule as empresas a reconhecer o valor de seus funcionários é uma política de alto impacto social, capaz de gerar riqueza, aumentar a produtividade e equilibrar responsabilidades entre o setor privado e o Estado.
Cingapura provou que é possível crescer pagando melhor. Cabe a nós adaptar essa ideia à nossa realidade e construir um modelo de desenvolvimento mais justo e sustentável.
Marcello Moura é empresário, presidente da CDL Rio Branco e Líder do movimento Cidadania Empreendedora.
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