O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer evitar que a tensão entre Venezuela e Estados Unidos se torne o tema central do encontro que deverá ter com Donald Trump no domingo (26), em Kuala Lumpur, na Malásia.
Embora o petista já tenha dito que não há “assunto proibido” com o colega americano, a prioridade será tratar das sobretaxas impostas a produtos brasileiros, assim como das sanções aplicadas a autoridades, como o cancelamento de vistos americanos e a Lei Magnitsky, adotada contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e à sua esposa.
Na avaliação de auxiliares do governo, usar o encontro, ainda sem confirmação oficial, para discutir questões regionais, como Venezuela e Colômbia, seria desperdiçar uma oportunidade de resolver problemas domésticos e de estreitar os laços com a Casa Branca após meses de crise.
A situação começou a desanuviar há um mês, quando Lula e Trump se encontraram nos bastidores da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Ao discursar, o presidente americano afirmou ter tido uma “excelente química” com o brasileiro.
Desde então, os dois chefes de Estado se falaram por telefone, e suas equipes passaram a trabalhar para viabilizar o encontro previsto para este domingo. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, já conversaram por telefone e tiveram uma reunião na Casa Branca.
Segundo integrantes da gestão Lula, o objetivo é sair da conversa ao menos com a sinalização de retorno ao cenário de negociação anterior à aplicação das tarifas de 50% em julho. A meta é retomar o patamar de 10% definido por Trump em abril, antes do agravamento da crise comercial.
A avaliação é de que uma discussão sobre a situação venezuelana e outros temas regionais, como a Colômbia, poderia desviar o foco das negociações e reacender diferenças ideológicas entre os dois presidentes. Ainda assim, Lula não deverá se furtar a tratar do assunto se for provocado.
Nos últimos dias, a tensão entre Estados Unidos e Venezuela tem se intensificado. Como mostrou a CNN Brasil, Trump considera planos para atacar instalações de cocaína e rotas de tráfico de drogas dentro do território venezuelano, embora ainda não tenha tomado uma decisão final.
A Venezuela não é conhecida por ser uma grande fonte de cocaína, mas o governo Trump tem tentado vincular o presidente Nicolás Maduro ao tráfico de drogas.
Em coletiva em Jacarta, capital da Indonésia, Lula sinalizou estar aberto a discutir todos os assuntos.
“Podemos discutir qualquer assunto. O que eu disse é que não tem veto, e vamos depender do que ele vai propor”, afirmou antes de embarcar para a Malásia.
O presidente disse ainda estar confiante em fechar um acordo com os Estados Unidos, mas reconheceu que isso não deve acontecer na reunião com Donald Trump no fim de semana.
“Se eu não acreditasse que fosse possível fazer um acordo, eu não participaria da reunião. Se bem que o acordo certamente não será feito amanhã ou depois de amanhã. Ele será feito pelos negociadores, que vão ter que sentar junto com o pessoal do governo americano para negociar”, afirmou Lula.
Esclarecer polêmicas
Como mostrou a CNN Brasil, Lula está pronto para esclarecer a Trump falas recentes que podem ter soado indigestas ao americano às vésperas do encontro, como a defesa do uso de moedas locais entre países do Brics e a fala sobre combate ao tráfico.
No caso da fala sobre o tráfico de drogas, Lula está preparado para citar as ações propostas pelo governo nos últimos meses de combate ao crime organizado, como a PEC da Segurança e o projeto de lei enviado pelo Ministério da Justiça à Casa Civil, batizado de PL Antifacção, que endurece penas e amplia o cerco econômico aos grupos criminosos.
Em relação ao uso das moedas locais, o argumento é que se trata de uma opção de longo prazo, não de uma medida para excluir o dólar do comércio internacional.
Atualmente, essa possibilidade existe entre Brasil e Argentina, mas nem 5% das negociações ocorrem nas moedas locais, já que a moeda americana continua sendo a preferida para o comércio internacional.


















