Foto: Sérgio Vale
O secretário de Governo do Estado do Acre, ex-deputado estadual Luiz Calixto, foi o entrevistado desta quinta-feira (23) no programa Bar do Vaz, transmitido pelo portal ac24horas e apresentado pelo empresário Roberto Vaz. Durante a conversa, Calixto abordou diversos temas relacionados ao cenário político local, com destaque para as articulações e perspectivas voltadas às eleições gerais de 2026.
Calixto abriu a entrevista destacando sua postura, que, segundo ele, é dura, mas ética. “Fiz uma opção de não fazer jogo duplo. Posso estar errado, mas tenho lado”, afirmou. O gestor falou sobre sua trajetória na vida política, relembrou traições pós-vitória nas eleições e mencionou divergências.
“Na verdade, vou dizer por que tem pessoas que têm um discurso para ganhar a eleição e outro discurso depois que ganham. Porque a grande preocupação do eleitor, e a minha também, não é apenas ganhar uma eleição, nem ajudar a ganhar, mas saber como essa pessoa vai se comportar depois dela. Alguns, antes do período eleitoral, se comportam como um poço de humildade, de retidão, de compromisso; mas depois que chegam ao cargo, sequer atendem um telefone. Ou seja, fazem de tudo para se eleger e depois esquecem dos compromissos, dos amigos, dos parceiros que estiveram na caminhada até o cargo. Tenho divergências com isso. Porque, se você tem uma conduta razoavelmente reta, não precisa mudar seu discurso de antes da eleição para depois dela. Muita gente faz isso”, explicou.
Calixto ainda deixou claro que não é refém da política. “Nunca mais fiz nenhum compromisso político de ordem pessoal. Modéstia à parte, graças a Deus, ao meu trabalho e ao meu esforço, eu não tenho uma dependência excessiva da política. Faço política porque gosto, mas não sou refém dela. Se, porventura, alguém não me atender, não vou passar por dificuldades. Quem conhece a minha carreira sabe: cheguei ao topo da carreira na auditoria fiscal. Então, não tenho essa dependência excessiva.”
O gestor também abordou sua relação com a deputada estadual Michelle Melo e afirmou ter contribuído diretamente para que ela assumisse a liderança do governo na Assembleia Legislativa. “Não, não aconteceu nada. Aliás, a Michelle foi a primeira líder do governo mulher do Estado do Acre, e essa foi uma construção feita por mim. Nunca tive divergências com ela. Tanto é que a articulação para que se tornasse nossa líder foi conduzida por mim. Eu exerci o papel de defensor do governo na Assembleia, e lá temos pautas de interesse do Executivo que precisam ser defendidas. Tive uma discussão com o deputado Edvaldo, mas não sei exatamente onde a deputada Michelle entrou nisso. Quem construiu as condições políticas para que ela fosse líder do governo, modéstia à parte, fui eu”, destacou.
Luíz também comentou sobre o papel de um líder de governo na Assembleia Legislativa. “O líder do governo tem que ser uma pessoa que saiba escutar muito e ter muita paciência. Nós tratamos com parlamentares, cada um com suas opiniões e convicções. Não adianta querer empurrar nada goela abaixo de um deputado. É preciso trabalhar na base do diálogo. O líder não pode se comportar como capataz de uma bancada. As coisas precisam ser discutidas, avaliadas e depuradas. Não adianta impor. É preciso negociar, ouvir e ceder. O líder deve ter essa capacidade de agregar. E, muitas vezes, não posso dizer que isso tenha sido um defeito da deputada Michelle, mas ninguém é líder sem ouvir sua bancada”, declarou.
O secretário de Governo afirmou se considerar um democrata e rejeitou os rótulos de “direita” ou “esquerda”. “Eu sou democrata. Esquerda e direita? Não, porque eu não concordo com isso. O cidadão diz: ‘sou de direita’, mas não abre mão do seguro-desemprego, do terço de férias, das férias regulamentares, dos direitos sociais — e isso tudo são pautas progressistas. Fui formado politicamente dentro do PMDB, onde tínhamos as pautas mais progressistas possíveis. Acho ridículo ver pessoas sem conteúdo, sem formação intelectual, dizendo que são de esquerda ou de direita. É uma grande contradição”, afirmou, alfinetando o senador Márcio Bittar e o presidente da Apex/Brasil, Jorge Viana. “O Márcio Bittar hoje é uma pessoa da extrema-direita, mas até pouco tempo atrás era do PPS, um partido de origem comunista. O Jorge Viana diz que é de esquerda, mas foi formado dentro da Arena, um partido da direita, que defendeu a ditadura militar. Isso tudo são rótulos. Eu prefiro dizer que sou um democrata. Convivo bem com pessoas que têm pensamentos distintos”, concluiu.
Calixto negou ter problemas pessoais com o senador Márcio Bittar, mas deixou claro que o governo apoiará um candidato ao Senado que esteja alinhado com a candidatura da governadora Mailza Assis. “Não tenho problema pessoal com ninguém. O que eu falei e continuo defendendo é que o senador Márcio Bittar já deu demonstrações de que não tem uma candidatura ao governo definida. Pelo lado da governadora Mailza, precisamos de pessoas que estejam firmes e comprometidas com a campanha dela. A partir do momento em que ele não faz isso, a cadeira fica desocupada. E com a cadeira desocupada, precisamos buscar outro que possa ocupá-la. Eu acho o prefeito Bocalom um nome razoável, bom, mas ele mesmo já negou. Dentro da candidatura da governadora Mailza Assis, vamos apoiar um candidato ao Senado que esteja alinhado com ela. Não faz sentido uma pessoa trabalhar contra a candidatura ao governo e ainda assim receber apoio do governo. Nosso primeiro voto será para o governador Gladson Cameli, candidato preferencial. O segundo voto será dado a quem esteja comprometido com a campanha e a reeleição do governador. Esperamos que o senador Márcio assuma essa postura, declare publicamente que está aliado e passe a receber o apoio”, declarou.
Calixto também destacou que Mailza Assis não tem vícios na política acreana. “Ela não tem vícios. Ela é diferente nesse aspecto. Prefere calar do que discutir. Ela não carrega os vícios da política, nem as marcas que poderiam comprometer sua reputação. Isso, muitas vezes, incomoda algumas pessoas, porque querem que ela seja igual a eles. A calma dela é uma grande vitória. Mailza nunca foi candidata a um cargo majoritário. Comparando, Jorge Viana começou sem cargo, Flaviano Lima foi direto para governador depois de prefeito nomeado, Tião Viana foi direto para o Senado. Cada um começou sua trajetória de uma forma diferente”, mencionou.
Calixto opina que o prefeito Tião Bocalom deva concluir sua gestão e relembra tentativas frustradas no passado de gestores que abandonaram a prefeitura para concorrer ao Palácio Rio Branco. “Ele assumiu um compromisso com a população Rio Branco de fazer uma data de prefeito. Então ele não pode deixar suas promessas pela metade. Deixar que… Nós temos muitos problemas no saneamento, ruas, melhoramento de postos de saúde, ou seja, ele não cumpriu a tarefa dele. então eu acho que ele deveria continuar na prefeitura cumprir o seu plano de governo porque é muito simples, você ganha vendendo entre aspas, vendendo uma expectativa, aí quando chega no meio do mandato, diz, não, isso aqui não vale mais nada agora eu vou atrás de um outro objetivo diante disso”.
O secretário de Governo do Acre, Luiz Calixto, alertou o prefeito Bocalom sobre exemplos de derrotas políticas no passado, citando Flaviano Melo em 2002 e Marcus Alexandre em 2018. “Nós temos dois exemplos que não foram exitosos. Flaviano, no auge da carreira dele na prefeitura, se afastou, abandonou todos os compromissos e foi para uma eleição… e perdeu. O outro exemplo recente é Marcus Alexandre. Ele ganhou a eleição para a Prefeitura, no auge da sua carreira, muito bem avaliado, mas largou a Prefeitura, ou seja, esqueceu os compromissos assumidos anteriormente com a população para ser candidato a governo — e perdeu. Eu espero, não sei se a população vai compreender bem essa decisão do prefeito Bocalom, porque ele assumiu, ele ganhou — nós apoiamos o prefeito Bocalom com a expectativa de melhorar as condições da cidade: água, saneamento, produção. Ele não pode simplesmente jogar tudo pela janela e deixar tudo para trás para seguir outro objetivo”, afirmou.
Calixto aconselhou o prefeito Bocalom a permanecer à frente da Prefeitura e apoiar a vice-governadora Mailza Assis nas eleições de 2026. “Eu acho que o prefeito Bocalom deveria continuar na prefeitura e ajudar a Mailza a se eleger para o governo”, pontuou.
O gestor destacou ainda que Mailza Assis não tem intenção de trocar o secretariado do governador Gladson Cameli, mas afirmou que mudanças eventuais seriam normais. “A governadora tem repetido todas as vezes que não há duas equipes, não existe a equipe da Mailza e a equipe do Gladson — é um grupo só. Evidentemente, ela tem declarado que não fará mudanças sem justificativa, mas creio que, mesmo mantendo a equipe que atua sob o comando do governador Gladson, ela tem autonomia para fazer ajustes que considere necessários. Ela precisa dar o tom de governar, mas não haverá grandes alterações. Mudanças pontuais são naturais e fazem parte da gestão”, explicou.
Segundo o secretário, Mailza Assis esteve ao lado de Bolsonaro na última eleição, mas deixou claro que ela não é radical. “Ela não é radical, não é extremista. Tem a capacidade de dialogar com todas as forças democráticas. Isso é um grande mérito, porque precisamos fugir dos extremos, tanto da extrema esquerda quanto da extrema direita. Ela não nega que é seguidora do bolsonarismo, mas não é extremista, não é uma pessoa radical que vive nessa lógica confusa que muitos não entendem. Isso, sem dúvida, é uma grande virtude”, comentou.
Calixto também comentou sobre o cenário eleitoral e a possibilidade de diálogo com o senador pré-candidato Alan Rick. “Dificuldade, sim, porque já temos dois candidatos declarados. Mailza é candidata pelo PP, pela Federação União Brasil, e Alain é candidato, dizem, pelo Republicanos. Ela não vai abrir mão da candidatura, não há motivos para isso. Mailza tem qualidades para vencer, e provavelmente Alain também acredita que tem condições de ganhar. Portanto, não vejo espaço para uma conversa política entre eles neste momento”, afirmou.
O secretário de Governo reafirmou que espera o apoio do prefeito Tião Bocalom a Mailza Assis em 2026 e mencionou o apoio dado pelo governo à sua reeleição em 2024. “E é o que eu espero. Todo mundo sabe que nós não estamos fazendo alegação nenhuma. Mas quando recebemos o comando do governador Gladson para entrar na campanha do Bocalom, quem estava na dianteira, muito à frente, era o Marcos Alexandre. Coincidentemente, depois que colocamos em prática o comando do governador, o Bocalom ganhou — e ganhou bem. Então, política é reciprocidade. O governador nunca cobrou do Bocalom uma fatura. Nunca discutiu qual nome deveria assumir determinada secretaria. O Bocalom montou sua equipe de governo de acordo com suas necessidades e conveniências. Portanto, nada mais natural, nada mais normal que isso fosse retribuído. Afinal de contas, parceria política é isso; é também uma rede de um grupo. Então, eu ainda espero que o prefeito Bocalom permaneça na prefeitura para continuar sua gestão, cumprindo os compromissos assumidos e atendendo às necessidades da população, sem deixar as coisas feitas pela metade para embarcar em outro objetivo”, garantiu.
Assista à entrevista:
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