Fotos: Thayná Ferraz/Funai
Produções audiovisuais dirigidas por indígenas do Acre e por servidores da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) foram destaque no 3º Festival Internacional de Cinema Agroecológico (Ficaeco), realizado durante o 13º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), em Juazeiro, na Bahia. As obras foram exibidas e homenageadas entre os dias 16 e 17 de outubro, no Centro Cultural João Gilberto.
Os documentários “Katxa nawa: cantar para o crescer das plantas”, do povo Huni Kuĩ, e “Nosso alimento, nosso jeito de viver Madiha”, do povo Madiha Kulina, ambos da Terra Indígena Alto Rio Purus, no Acre, abordam a importância dos rituais, dos plantios e da diversidade alimentar tradicional dos povos indígenas.
As produções são resultados de uma parceria entre a Funai, por meio do Museu Nacional dos Povos Indígenas (MNPI), e as comunidades Huni Kuĩ e Madiha Kulina.
Fotos: Thayná Ferraz/Funai
Além da exibição no festival, os diretores indígenas receberam estatuetas em reconhecimento às produções. As obras já haviam sido pré-apresentadas na Terra Indígena Alto Rio Purus e na Coordenação Regional (CR) da Funai no Alto Purus. Novas sessões estão previstas para o Museu Nacional dos Povos Indígenas, no Rio de Janeiro (RJ), na COP 30, em Belém (PA), e em Rio Branco, em datas ainda a serem confirmadas.
Jorge Naxima Huni Kuĩ, um dos diretores do filme “Katxa nawa”, explicou que a produção nasceu do desejo de mostrar a luta dos Agentes Agroflorestais Indígenas pela preservação das sementes originárias e das festas tradicionais.“Plantar e colher nossos alimentos é também um cuidado com nossa terra e com nosso território”, afirmou.
Para Francisco Kulina, diretor do documentário “Nosso alimento, nosso jeito de viver Madiha”, o reconhecimento em um festival internacional reforça a visibilidade da cultura e das lutas de seu povo.
Fotos: Thayná Ferraz/Funai
“Esse documentário mostra a nossa cultura, a festa tradicional Ahie, e a fartura da nossa alimentação. Também evidencia nossa luta por direitos básicos, como educação diferenciada e acesso à água tratada de qualidade”, destacou.
Os dois documentários integram projetos culturais apoiados pela Funai, por meio do Museu Nacional dos Povos Indígenas, da Coordenação Regional Alto Purus e da Coordenação da Frente de Proteção Etnoambiental (CFPE) Envira.
A CFPE atua na defesa dos povos indígenas isolados e de recente contato nas cabeceiras dos rios Envira, Tarauacá e Jordão, promovendo ações de vigilância e monitoramento para garantir a integridade cultural e territorial dessas populações.
“As obras mostram como o manejo da agrobiodiversidade está ligado às cosmologias e às memórias dos povos, além de expressar o orgulho que eles sentem por sua alimentação e rituais”, afirmou Thayná Ferraz, especialista em indigenismo da Funai e coordenadora do projeto que resultou nas duas produções.
Fotos: Thayná Ferraz/Funai
Katxa nawa
Com 72 minutos de duração, o documentário “Katxa nawa: cantar para o crescer das plantas – Katxanawairan nukun yunu xarabu ewawa katsi itiki” foi dirigido por Jorge Naxima Huni Kuĩ, Maria de Fátima Pai Huni Kuĩ, Thayná Ferraz, Alice Riff e co-dirigido por Els Lagrou.
As gravações ocorreram na aldeia Mae Shane Kayta (Nova Fronteira), localizada na Terra Indígena Alto Rio Purus, e retratam uma festa tradicional do povo Huni Kuĩ. O filme também aborda a preocupação com a redução das variedades de espécies cultivadas nas aldeias e ressalta a vitalidade dos plantios e da caça, além da relação espiritual com a terra. O povo Huni Kuĩ, falante da língua Pano, vive na Amazônia, entre o Brasil e o Peru.
O longa “Nosso alimento, nosso jeito de viver Madiha – Ikha zamatapa, ikha madie, ikha wima naharo” tem 75 minutos e foi dirigido por Francisco Kulina, Daima Kulina, Thayná Ferraz e Alice Riff, com co-direção de Genoveva Amorim e Felipe Cerqueira.
Gravado na Terra Indígena Alto Rio Purus, o filme retrata a tradicional festa Ahie, destacando a resistência cultural do povo Madiha-Kulina, seu vínculo com a floresta e a importância da alimentação tradicional.
Os Madiha-Kulina pertencem à família linguística Arawá e vivem no Acre (Alto Rio Purus e rio Envira) e no Amazonas (médio e baixo rio Juruá). A autodenominação “Madiha” significa “os que são gente”.
Com informações da Ascom Funai