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Desigualdade regional marca segurança alimentar em 2024

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, em 13 de outubro de 2025, os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) Anual – 4º trimestre de 2024, que revelam a situação da segurança alimentar no Brasil. N tabela a seguir, destacam-se dados que evidenciam diferenças marcantes entre as regiões: enquanto o país apresenta 75,8% dos domicílios em segurança alimentar, a Região Norte registra apenas 62,4%, refletindo vulnerabilidades persistentes no acesso a alimentos. O Acre, contudo, destaca-se positivamente ao alcançar 76,5% dos lares em segurança alimentar, superando a média nacional e situando-se entre os melhores resultados da Amazônia, em contraste com estados que ainda enfrentam índices elevados de insegurança alimentar, como Pará, Roraima e Amazonas.


A pesquisa classifica a insegurança alimentar em três níveis:


Insegurança alimentar leve: preocupação ou incerteza quanto ao acesso a alimentos e redução da qualidade para não afetar a quantidade;
Insegurança alimentar moderada: falta de qualidade e redução na quantidade de alimentos entre adultos;
Insegurança alimentar grave: falta de qualidade e redução na quantidade de alimentos também entre menores de 18 anos. Nessa situação, a fome passa a ser uma experiência vivida no domicílio.


Grau e intensidade da insegurança alimentar


A insegurança alimentar total atinge 37,6% dos domicílios da Região Norte, quase 14 pontos percentuais acima da média brasileira (24,2%). No Acre, com 67 mil domicílios, o percentual é 23,5%, praticamente igual ao do país, o que mostra melhor resistência social e alimentar frente às demais unidades do Norte.


Na insegurança leve: o Acre, com 37 mil domicílios, o percentual é de 12,9%, apresentando índices bem inferiores aos da Região Norte (23,6%) e ao Brasil (16,4%), o que sugere melhor acesso e estabilidade na aquisição de alimentos.


Na insegurança moderada: o estado, 13 mil domicílios, representando 4,7% do total, acompanha de perto a média nacional (4,5%) e está bem abaixo da Região Norte (7,8%), indicando que a redução quantitativa de alimentos é menos frequente nos lares acreanos.


Na Insegurança grave (fome): embora ainda expressiva (5,9% dos domicílios), a taxa no Acre é abaixo da média regional (6,3%), mas quase o dobro da média brasileira (3,2%), revelando que a fome persiste como problema localizado, mas de menor alcance que no restante do Norte. No Acre, o número de domicílios com  insegurança alimentar grave, saiu de 10 mil em 2023 para 17 mil em 2024.


Interpretação e possíveis fatores


O melhor desempenho do Acre pode ser atribuído a fatores estruturais e de política pública, entre os quais: a expansão de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família e políticas estaduais de segurança alimentar; uma distribuição territorial menos dispersa que em outros estados da Amazônia, facilitando o alcance das políticas sociais.


Por outro lado, a presença ainda elevada de insegurança alimentar grave (5,9%) demonstra que persistem bolsões de pobreza e vulnerabilidade, principalmente, em comunidades rurais isoladas e periferias urbanas.



Os dados de 2024 revelam fortes desigualdades internas na Região Norte no que diz respeito à situação de segurança alimentar, conforme pode ser observado na tabela acima.


Enquanto Rondônia lidera com 81,5% dos domicílios em segurança alimentar, Pará (55,4%) e Roraima (56,4%) figuram entre os piores desempenhos do país. O Acre aparece em segunda posição regional, com 76,5% dos lares em segurança alimentar.


Comparativo de insegurança alimentar no Norte


A insegurança alimentar total no Acre atinge 23,5% dos domicílios, índice inferior aos registrados em todos os estados vizinhos — exceto Rondônia (18,5%). Nos demais, as proporções são bem mais elevadas: Tocantins (29,6%), Amapá (32,5%), Amazonas (38,9%), Roraima (43,6%) e Pará (44,6%). Esse dado confirma que o Acre está entre os dois estados menos vulneráveis da Região Norte, situando-se em um patamar próximo ao das regiões Sul e Sudeste.


Intensidade da insegurança alimentar


A insegurança alimentar leve é relativamente baixa no Acre (12,9%), atrás apenas de Rondônia (13,6%), e bem inferior aos percentuais do Amazonas (24,4%), Roraima (27,8%) e Pará (27,5%). A insegurança moderada no Acre (4,7%) aproxima-se da média nacional (4,5%) e mantém-se abaixo de quase todos os estados da região, exceto Rondônia (3,0%) e Tocantins (4,4%).


Já a insegurança alimentar grave (fome) é o ponto de maior atenção: com 5,9% dos domicílios, o Acre apresenta taxa mais alta que a média brasileira (3,2%), embora menor que a de Amapá (9,3%), Pará (7,0%), Amazonas (7,2%) e Roraima (6,7%).


Os resultados de 2024 indicam que o Acre consolidou avanços significativos na segurança alimentar, aproximando-se do padrão nacional e superando a média da Região Norte. Essa posição reflete o impacto de políticas de transferência de renda e maior integração dos mercados locais, que ampliaram o acesso a alimentos no estado. No entanto, a persistência de 5,9% dos domicílios em insegurança alimentar grave — cerca de 17 mil famílias — mostra que ainda há desafios a enfrentar, especialmente em áreas rurais e comunidades isoladas. Reduzir essas desigualdades internas e consolidar políticas de produção e abastecimento sustentáveis são passos essenciais para alcançar a plena segurança alimentar no Acre e na Amazônia.


Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas