O presidente do União Brasil, Antonio Rueda, irmão do chefe de Representação do governo do Acre em Brasília, Fábio Rueda, é citado em uma reportagem do ICL Notícias como intermediário em uma negociação envolvendo a venda de uma empresa de gás de cozinha, a TankGás, ligada a dois suspeitos de comandar um esquema de lavagem de dinheiro para o PCC. As informações foram confirmadas por três líderes do setor que pediram anonimato por medo de represálias.
Segundo relatos, em abril de 2024, Rueda teria convidado um executivo do setor de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) para uma reunião em Brasília com Roberto Augusto Leme da Silva, conhecido como Beto Louco, que se apresentou como investidor da TankGás. Um mês depois, os ativos da empresa foram vendidos para a Consigaz, empresa com sede em Barueri (SP).
Beto Louco e Mohamad Hussein Mourad, apelidado de Primo, são investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) por lavagem de dinheiro através de fraudes fiscais no setor de combustíveis e fundos de investimentos da Faria Lima, estando ambos foragidos da Justiça.
Fontes do mercado afirmam que Rueda, Beto Louco e Mourad viajaram em jatos executivos da empresa TAP (Táxi Aéreo Piracicaba). Um ex-piloto da TAP afirmou que Rueda seria sócio oculto de quatro aeronaves, informação que o dirigente negou.
Procurado, Rueda negou ter participado de qualquer reunião relacionada à TankGás e disse desconhecer os suspeitos. “Repudio veementemente essas insinuações levianas e politizadas. Desconheço qualquer reunião ou tratativa mencionada e nego qualquer vínculo com o que foi citado”, declarou. A reportagem tentou contato novamente, mas não obteve resposta.
De acordo com líderes do mercado, a reunião tinha como pauta a venda da TankGás, empresa especializada na comercialização de botijões de GLP, e visava apresentar uma proposta às grandes distribuidoras nacionais. O preço sugerido por Beto Louco teria sido R$ 60 milhões para deixar o mercado.
A TankGás, sediada em Jandaia do Sul (PR), passou a operar aproveitando-se de uma lei estadual que permitia o envase de botijões de outras marcas, prática proibida pela ANP. A empresa enfrentou ações judiciais de concorrentes e do próprio órgão regulador, o que motivou a oferta de venda dos ativos operacionais à Consigaz. A companhia paulista confirmou a aquisição estratégica, sem revelar valores, e negou contato com Beto Louco ou Primo.
O caso também envolve a Ruby Capital/Altinvest Asset, alvo da Operação Carbono Oculto, suspeita de lavagem de dinheiro para o PCC. O advogado Rogério Garcia Peres, líder da Altinvest, é apontado como responsável por operações financeiras ligadas ao grupo de Mohamad Mourad, mas nega qualquer envolvimento com o crime organizado.
O Sindigás, sindicato do setor, criticou as propostas de flexibilização do envase da ANP, alertando que medidas podem abrir brechas para o crime organizado no mercado de GLP e ressaltou o alto custo de fiscalização e ausência de análise econômica que justifique a mudança.
A reportagem revela um panorama de complexidade regulatória e atuação suspeita no mercado de gás, com implicações que chegam ao setor político, regulatório e empresarial.