Foto: Luís Roberto Barroso • Antonio Augusto/STF
Em 2022, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso começou a sinalizar a pessoas do seu convívio que provavelmente não permaneceria na Corte até 2033, quando completaria 75 anos e teria de se aposentar compulsoriamente.
Na época, ele havia feito um trato com a esposa, Tereza, que enfrentava complicações de um câncer no fêmur: assim que deixasse a presidência do tribunal, em setembro de 2025, sairia do cargo para que ambos pudessem viajar e aproveitar a vida.
“Infelizmente, ela faleceu antes, essa motivação específica eu já não tenho. Mas a vida é feita de ciclos”, disse Barroso em entrevista exclusiva à CNN, no fim de setembro, quando estava prestes a entregar a presidência do Supremo ao ministro Edson Fachin.
Uma série de novos fatores surgiram na vida do ministro e sacramentaram uma decisão sobre a qual ele já refletia há muito tempo – por exemplo, as sanções impostas pelos Estados Unidos, que suspenderam os vistos do ministro e de seus familiares.
No discurso de despedida, Barroso disse que a saída “nada tem a ver com qualquer fato da conjuntura atual”.
Mas também destacou que “os ônus da função acabam se transferindo aos nossos familiares e pessoas queridas, que sequer têm responsabilidade pela nossa atuação”.
A auxiliares, o ministro vinha demonstrando descontentamento com o que considera ser uma “crise de civilidade” global. As sanções impactaram seu cotidiano: ele é colaborador da Harvard Kennedy School e, nas férias, costuma viajar aos EUA, onde fica recluso, lendo e escrevendo artigos.
Barroso também estaria reflexivo sobre o seu dia a dia no STF fora da presidência. Pela primeira vez desde que assumiu a cadeira, em 2013, ele passou a integrar a Segunda Turma, composta por ministros com quem não tem tanta proximidade (Dias Toffoli, Gilmar Mendes, André Mendonça e Nunes Marques).
Na lista de prós e contras, o ministro até chegou a ponderar que, fora da Corte, pode perder a visibilidade e deixar de ser tão requisitado para ajudar a “pensar o Brasil”, como gosta de dizer quando é convidado para debater os grandes temas da sociedade.
Porém, depois de fazer uma “reflexão profunda”, concluiu que sua missão como magistrado já foi cumprida e que, agora, é hora de cuidar da vida pessoal. Há poucos meses, tornou-se avô – ter mais tempo com o neto Rafael também pesou para a decisão de deixar a Corte.
O ministro também se anima com a perspectiva de mais liberdade para circular sem o aparato de segurança que se tornou indispensável desde que o bolsonarismo adotou o STF como alvo. Além disso, o próprio declarou que, daqui em diante, quer mais “espiritualidade, literatura e poesia” na vida.