O “Arquipélago do Breve”

Por
Valterlucio Campelo

A imagem e o texto acima são do meu quarto livro, lançado esta semana, com o título “Arquipélago do Breve”. Ao todo são setenta microcontos, todos ilustrados, que transitam entre temas como política, filosofia e cotidiano, a maioria envolvida em doses de ironia.


Antes, considerando que se trata de um gênero pouco difundido no Brasil, expliquemos ao leitor, a partir de dois mestres: Dalton Trevisan, conhecido escritor brasileiro, diz que o microconto é uma evolução minimalista do conto, aproximando-se da precisão poética de formas como o soneto ou o haicai. Para ele, é uma narrativa reduzida ao essencial, onde a sugestão e o impacto imediato prevalecem, eliminando tudo que não é indispensável. 


Augusto Monterroso (escritor guatemalteco), autor do microconto mais famoso do mundo “Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá”, o define como uma forma de narrativa extremamente breve que combina humor, ironia e uma reviravolta surpreendente. Ele enfatizava a capacidade do microconto de sugerir uma história maior do que as palavras expressam, deixando ao leitor o trabalho de preencher as lacunas. 


Pois bem. Percebendo que na atualidade, principalmente os jovens, por diversos motivos, dedicam muito pouco tempo à leitura, penso que é desejável oferecer uma alternativa que se assemelhe ao estilo moderno de acesso à informação. Isso quer dizer produzir mensagens curtas, diretas, mas impactantes, deixando que ele mesmo, ativamente, construa a história completa na forma e intensidade que lhe interessar.


As ilustrações que fiz de cada microconto pretendem dar movimento e ligar o texto ao leitor como um reel, ou um gif, ou um tik tok literal, produzindo uma combinação em que o texto interpreta a figura e a figura anuncia o texto na perspectiva do autor, sem, contudo, ser definitivo.


O livro nem de longe é neutro. Ancorado na realidade atual, é impregnado por uma visão política que o leitor rapidamente identificará. Além dessa face, há nos microcontos um conteúdo filosófico cuja intenção é “cutucar” as mentes e levá-las a reflexões mais profundas e encontros com suas próprias inquietações. Também posso adiantar que uma boa dose de ironia permeia a maior parte dos microcontos.


Como exemplo, vejamos no microconto mostrado na imagem acima, em que descrevo o acontecimento hipotético de um encontro com um amigo que conta uma história peculiar. A presença desse personagem não nominado é real ou se trata de uma visão fora do contexto? Quem seria o personagem? Apenas o meu amigo hipotético teria aquela visão? O que significa ser o patrono do evento? Por que ele seria esse patrono? São algumas perguntas que não respondo diretamente, jogando no colo do leitor a tarefa de imaginar todo o resto.


A mágica do microconto é despertar uma leitura ativa. Ao invés de terminar com um: “e foram felizes para sempre”, esse gênero literário dialoga com o leitor permitindo que ele mesmo resolva o conflito ou, se for o caso, aceite o induzimento ligeiro, mas nem sempre claro, que o texto anuncia.


O minimalismo do microconto nunca conta tudo, ele oferece o essencial para que o leitor use a imaginação e preencha as lacunas conforme seu próprio repertório. Vale mais o subtexto do que o texto explícito. Além disso, ele é impactante, é um soco no estômago como disse Julio Cortázar, ilustre escritor e intelectual argentino.


Eu mesmo defino o microconto como uma ilha cercada por aforismos, contos, crônicas e poesias que, impregnada pela poeira de todos esses gêneros, se apresenta, despretensiosamente, como espaço de síntese realizada pelo próprio leitor.


Isto posto, com a generosa permissão do ac24horas, coloco o livro à disposição dos leitores através do e-mail valbcampelo@gmail.com


Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no  DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.


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