Foto: Jardy Lopes
Poucos produtos agrícolas estão tão tatuados no povo brasileiro quanto a macaxeira (mandioca, aipim). Isso está em tudo: da quantidade de estudos acadêmicos à variedade de sabores revelada na culinária, lá está ela, soberana, enraizada, nervosa. Como em toda a Amazônia, em Rio Branco, não é diferente. E ter uma celebração que lembra dessa importância pode ser um avanço.
A escolha do local para a segunda edição do Festival da Macaxeira foi um acerto. Já que se escolheu realizar o evento, é preciso ter a compreensão de que precisa haver público. Não adianta pensar um festival desses sendo realizado em um pólo agrícola ou um projeto de assentamento para ter público restrito.
É preciso ter público. É preciso ter consumo de produtos. É preciso ter venda. Quem não gostar dessa lógica, paciência. Mas no mundo real, produzir para o comércio é uma realidade na história da humanidade faz algum tempo. Tendo isso como premissa, a escolha do Horto Florestal para a realização do evento foi um acerto.
Deixa a maltratada Praça da Revolução em paz; preserva o trânsito, já também maltratado do centro da cidade, em função das obras de infraestrutura, e garante espaço mais amplo para expositores e consumidores.
Pelo que foi apresentado no primeiro dia do festival, a segurança foi um ítem levado muito a sério. O policiamento está em todo lugar, além da segurança privada contratada para garantir tranquilidade. Outra medida associada ao fator “segurança” foi a iluminação. O Horto Florestal está muito bem iluminado, o que facilita o trabalho para a vigilância.
Outro acerto da Prefeitura de Rio Branco foi a decisão de não contratar artistas nacionais para integrar a programação. Nesse aspecto, as demais prefeituras deveriam se espelhar no que está sendo feito no Festival da Macaxeira e Agronegócio. É mais honesto com a realidade da cidade.
Diferente do que será feito em Epitaciolândia. Independente de o recurso que pagará uma cantora famosa não ser oriundo do orçamento municipal, mas de emenda parlamentar, o gasto é um acinte à realidade do município. Tivessem juízo, a parlamentar e o prefeito destinariam o recurso à outras finalidades.
Voltemos à Rio Branco. A única ressalva em relação ao evento daqui se relaciona à concepção da festa, exposta no título “Festival da Macaxeira e Agronegócio”. A contradição gritante acaba expondo uma espécie de complexo de inferioridade. É preciso respeitar o perfil da nossa agricultura. E esse perfil está longe (mas muitíssimo longe!) do conceito de “agronegócio”. Seria muito mais respeitoso o simples “Festival da Macaxeira”. Ponto.
O “agronegócio” é necessário para satisfazer uma percepção de grandiosidade que nem o próprio poder público tem pelejado por ela. O agronegócio não dialoga com a descapitalizada rotina do produtor de base familiar; passa longe dos assentamentos agrícolas e da lama dos ramais de todo dia. Ter uma agricultura pujante, viva, com diversidade de produtos, distribuindo renda, sem uso de agrotóxicos e, no mais sofisticado dos modelos, fortalecendo o cooperativismo, é próprio da Agricultura Familiar; não do agronegócio. Feita essa ressalva, a festa se caracteriza pela simplicidade. Como é o povo daqui. Simples assim. O acerto está aí.