Após visitar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nesta segunda-feira (29), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que deve ser candidato à reeleição em 2026. E o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que também participou do encontro, afirmou que qualquer definição sobre o candidato presidenciável do campo depende do desfecho do projeto de anistia aos condenados por golpismo.
O senador insistiu que seu pai deveria ser o candidato, mas afirmou que Tarcísio é um grande ativo da centro-direita e ressaltou que todos desse campo, inclusive o governador, estarão juntos em 2026.
“O recado que eu quero dar para que não haja dúvidas é que, independentemente de como as coisas vão transcorrer daqui para frente, eu, o Tarcísio, nós, os partidos de centro-direita, vamos estar juntos de qualquer forma em 2026”, disse Flávio.
Quatro homens estão reunidos em ambiente interno. Dois deles, um de terno escuro e outro de camisa branca, apertam as mãos com expressão de cordialidade. Os outros dois, um de camisa verde e outro de camiseta preta, observam a interação. Fundo neutro com pouca iluminação.
“Sou candidato à reeleição, como eu tenho dito. Isso já está claro. Vim fazer uma visita de cortesia, visitar um amigo”, disse o governador, acrescentando que tem apenas gratidão e não interesses em relação à Bolsonaro.
Flávio afirmou que “vai batalhar até o final” para que Bolsonaro esteja na rua em 2026 e que não tem como tomar uma decisão a respeito da corrida presidencial antes do fim do projeto de anistia “porque o cenário pode mudar a qualquer momento”.
“Não vai ter decisão nenhuma enquanto a gente não souber com clareza o que vai acontecer com esse projeto da anistia. […] Somente após esse processo legislativo e até o seu desenrolar final, não tem porque
“Ninguém vai conseguir ouvir, da única pessoa que pode tomar essa decisão, que é o Jair Bolsonaro, ele se colocar fora de uma disputa que ele claramente, de forma injusta, foi retirado”, completou. O ex-presidente está inelegível e foi condenado a 27 anos de prisão na trama golpista.
Tarcísio e Flávio acrescentaram que o projeto de redução de penas, que tramita na Câmara dos Deputados sob relatoria de Paulinho da Força (Solidariedade-SP), não atende o bolsonarismo e voltaram a pedir anistia, ou seja, perdão ao ex-presidente e aos presos do 8 de Janeiro. Segundo eles, porém, esse tema não foi tratado nesta reunião.
“Vamos para o voto, para o plenário. A maioria do plenário decide. Isso não pode ficar a cargo de um presidente da Câmara ou do Senado, se pauta ou não pauta, e ainda sofrendo algum tipo de influência por parte de autoridades de outros Poderes”, disse o senador.
O governador de São Paulo afirmou ainda que Bolsonaro está com bastante soluço, uma consequência das cirurgias decorrentes da facada que ele levou em 2018, durante a campanha eleitoral. “É muito triste ver o [ex-]presidente na situação que ele está, a gente conversando e ele soluçando o tempo todo.”
Tarcísio chegou ao condomínio de Bolsonaro, no Jardim Botânico, por volta das 13h30 e saiu por volta das 16h30. A visita foi solicitada por Tarcísio no último dia 15, mas autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), somente para esta segunda — o ex-presidente tinha visitas nos dias anteriores.
Tarcísio publicou em sua agenda oficial a viagem a Brasília, mas não mencionou o encontro com Bolsonaro.
A passagem do governador pela capital federal coincide com a posse do ministro Edson Fachin na presidência do STF, mas o governador não vai comparecer. Flávio, por sua vez, criticou o que chamou de excessos e ativismo de Moraes e disse “pedir a Deus que realmente dê muita sabedoria e força ao ministro Fachin para que ele consiga fazer essa autocontenção”.
Pouco antes da chegada de Tarcísio, um grupo de cinco manifestantes exibiu uma faixa, na entrada do condomínio, com a frase: “E aí Tarcísio, já desistiu da Presidência?”. Eles também gritaram “sem anistia”.
Quatro pessoas seguram uma faixa amarela na calçada de uma rua, com a mensagem “E aí Tarcísio, já desistiu da presidência?”. Ao fundo, há árvores, postes de energia e um prédio cinza. Algumas pessoas caminham na calçada próxima.
Se há um mês a eventual candidatura presidencial de Tarcísio estava em alta, alavancada por dirigentes do centrão, agora sua perspectiva é de concorrer à reeleição no estado.
Nesta segunda, deputados aliados ao governador voltaram a afirmar que Tarcísio não quer disputar o Palácio do Planalto, mas admitem que há espaço para mudanças até março, quando ele teria que deixar o cargo para concorrer à Presidência.
Em relação ao projeto de anistia, a avaliação de aliados de Bolsonaro é que o ex-presidente deve aceitar um acordo para o projeto de redução de penas, contanto que haja garantia da manutenção de sua prisão domiciliar. Por ora, a orientação do PL é de buscar uma anistia ampla, mas a cúpula do Congresso não vê espaço para essa proposta avançar.
Afilhado político de Bolsonaro, Tarcísio é o presidenciável preferido do centrão e de setores da economia, mas a oscilação entre a moderação e o bolsonarismo que lhe acompanha desde que concorreu ao Palácio dos Bandeirantes agora se mostra também um entrave para a corrida de 2026.
Como mostrou a Folha, Tarcísio freou a ofensiva presidencial. Sua exposição como presidenciável nas últimas semanas lhe rendeu ataques de Lula e de Eduardo.
No início de setembro, o julgamento de Bolsonaro no STF e a articulação de Tarcísio pela anistia, que fez a pauta ganhar adeptos no Congresso, impulsionaram o governador sob a perspectiva de que o ex -presidente declararia apoio a ele na corrida. O empenho pelo perdão é considerado um gesto importante para conquistar a ala mais radical do bolsonarismo.
Agora, o cenário é outro. A anistia é tida como inviável na Câmara e perdeu espaço para a redução de penas, Bolsonaro insiste em ser candidato, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirma que também vai concorrer mesmo sem a bênção do pai, Lula (PT) recuperou popularidade e teve sinalização positiva de Donald Trump, houve manifestações da esquerda contra a anistia e a PEC da Blindagem, e o discurso radical de Tarcísio contra o STF no 7 de Setembro foi visto como um erro pelos setores que o apoiam.
Antes do discurso do 7 de Setembro, Tarcísio contou com a boa vontade de Moraes para furar a fila de pedidos de visita a Bolsonaro e autorizar um encontro no início de agosto.
O governador tentou a mesma estratégia em 15 de setembro ao pedir ao Supremo para visitar Bolsonaro no dia seguinte. Moraes permitiu que a visita ocorresse somente duas semanas depois, sob o argumento de que a agenda de Bolsonaro já estava preenchida até aquele momento.
Nem mesmo a tentativa da defesa de Bolsonaro de fazer um rearranjo nas visitas para priorizar Tarcísio foi levado em consideração por Moraes, o que fez o governador cancelar sua viagem à Brasília na época.