Foto: Alan Apurinã, à esquerda, de camisa preta e calça azul, enquanto Ricardo Weibe Tapeba está à direita, com crachá e perna cruzada I Whidy Melo/ac24horas
Lideranças indígenas ocupam o gabinete da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) na noite desta quarta-feira (24), em Rio Branco, exigindo mudanças na coordenação distrital de Saúde Indígena do Alto Rio Purus. O coordenador Evangelista da Silva de Araújo Apurinã, alvo das acusações de má gestão, defendeu-se das críticas durante a manifestação, que contou com a presença do secretário nacional de Saúde Indígena, Ricardo Weibe Tapeba. Em resposta, Alan Apurinã, indígena da região de Boca do Acre e pretendente ao cargo, diz ter em sua posse um dossiê com denúncias e reivindicou uma consulta ampla às comunidades.
A ocupação ocorreu em meio a um clima de tensão, com as lideranças cobrando transparência e melhorias no atendimento à saúde indígena, enquanto outros dizem não terem sido consultados pelo movimento. Evangelista rebateu as alegações de ineficiência, destacando avanços e desafios herdados de gestões anteriores. Ele admitiu parte das críticas, mas enfatizou o trabalho em andamento para resolver problemas como sistemas de abastecimento de água e notificações do Ministério Público. “De tudo que vocês colocaram, de fato 50% dela eu concordo, 50% eu não concordo, porque as coisas de fato estão andando. Eu não vou conseguir cobrir mais de década que já houve de saúde indígena”, disse Evangelista, pontuando que o subsistema de saúde indígena completa 26 anos e deveria focar em manutenções, mas enfrenta obstáculos como importações sem recursos adequados. O coordenador também destacou o diálogo constante com as comunidades: “Dialogar com as comunidades, a gente dialoga, o espaço do conselho é um espaço disso. Eu já respondi lideranças aqui meia-noite, depois que eu chego do CASAI é que eu consigo olhar o celular”.
Em contraponto, Alan Apurinã, que alega ter sido indicado por caciques de diversas aldeias, criticou a falta de consulta prévia na nomeação de Evangelista e apresentou um dossiê com evidências de irregularidades. “Teve alguns caciques que tiveram me procurando pra que eu pudesse entrar como chefe aqui. E o que que eu fiz? Eu falei assim, gente, pra que eu entre como chefe, eu preciso fazer uma consulta com todo mundo. E que essa consulta, ela seja gravada”, relatou Alan, afirmando possuir gravações e apoios documentados. Ele enfatizou que as comunidades o escolheram para representar as insatisfações: “Eu fui apontado pelas comunidades indígenas e eu tenho prova disso. Então a minha consulta ela é pública”.
O opositor listou acusações graves no dossiê, como assédio moral e sexual dentro da SESAI. “A gente tem um dossiê com fotos, com áudio também, que as comunidades insatisfeitas fizeram. […] Assédio moral, assédio sexual, que a gente tem um dossiê, quem é mulher aqui sofre isso muito dentro da própria SESAI. A gente quer combater as pessoas que ficam querendo beijar as mulheres”, denunciou Alan, que citou sua experiência no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), onde diz ter atuado em casos de prisões de magistrados. Ele dirigiu-se diretamente a Evangelista: “Evangelista, você é o antigo chefe, cara, muito mesmo. Isso aconteceu, sabe por quê? Faltou consulta. Se você consultasse cada aldeia, fizesse um grupo dos cacique, todo esse povo estava apoiando você hoje. Foi só uma pequena falha”.
A manifestação reflete tensões acumuladas no atendimento à saúde indígena no Acre, região com comunidades remotas e desafios logísticos. O secretário nacional Ricardo Weibe Tapeba, presente no local, ouviu as falas, mas não há informações imediatas sobre decisões tomadas. A SESAI, ligada ao Ministério da Saúde, não emitiu comunicado oficial até o momento.