Foto: Embaixada dos EUA/Divulgação
Apesar da cautela, o Brasil espera que a conversa entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump, prevista para a próxima semana, possa trazer algum tipo de avanço nas negociações para dissipar a maior crise em mais de 200 anos de relações bilaterais.
O encontro, que pode ser virtual, é apenas o primeiro passo para um entendimento que deve ser difícil.
Até aqui, Trump tem demonstrado que pretende colocar sobre a mesa o que considera uma “caça às bruxas” do Judiciário brasileiro ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado a mais de 27 anos de prisão. Do outro lado, Lula repete que soberania e democracia são questões inegociáveis.
Apesar disso, integrantes da gestão petista avaliam que a reunião pode ser o início de um isolamento crescente do bolsonarismo, a depender do resultado da conversa.
Aliados também apostam na habilidade de Lula para negociar e sair com um resultado que seja minimamente positivo depois de explicar o cenário brasileiro.
Na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Trump surpreendeu e disse que teve uma rápida conversa com Lula nos bastidores, suficiente para afirmar que havia uma “excelente química.”
“Nós não tivemos muito tempo para falar aqui, foram tipo, 20 segundos. Nós conversamos, tivemos uma boa conversa e combinamos de nos encontrar na semana que vem, se for do seu interesse. Ele parecia um homem muito legal, na verdade, ele gostava de mim, eu gostava dele. E eu só faço negócios com pessoas de quem gosto”, afirmou Trump.
O Palácio do Planalto, em nota, afirmou que a conversa proposta por Trump foi imediatamente aceita por Lula.
Agora, assessores dos dois presidentes devem tomar as providências necessárias, mas ainda não está certo se a futura conversa será presencial ou por telefone.
As declarações de Trump causaram surpresa por terem sido feitas em meio a uma crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos.
Desde julho, o governo americano vem em uma ofensiva comercial contra o Brasil, taxando a importação de produtos brasileiros, aplicando sanções contra autoridades brasileiras e tentando interferir em decisões do Poder Judiciário brasileiro.
O entorno de Bolsonaro minimizou as declarações do presidente americano e diz que a fala de Trump é apenas uma estratégia para forçar Lula a ir à mesa de negociação.
Para bolsonaristas, que veem nas sanções americanas aplicadas ao Brasil uma saída para livrar Bolsonaro da condenação, Trump força Lula a negociar.
À CNN, sob reserva, aliados de Bolsonaro dizem que Trump criou um problema para Lula e ainda ironizou afirmando que o Brasil não tem como ir longe sem os EUA.
“Lamento muito dizer que o Brasil está indo mal e continuará indo mal. Eles só conseguirão se sair bem quando trabalharem conosco; sem nós, eles fracassarão, assim como outros fracassaram”, alertou.
Aliados do ex-presidente também disseram que o fato de Trump não ter mencionado Bolsonaro em sua fala faz parte de uma estratégia para forçar o encontro com Lula e depois cobrar a anistia.
Desde o anúncio das sanções em julho, com a sobretaxa de 50% a produtos brasileiros e medidas contra autoridades brasileiras, Lula tem reafirmado que não negocia a soberania. Ele voltou a repetir a fala nesta terça-feira em Nova York.
“Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis”, disse Lula ao citar o julgamento de Bolsonaro pela trama do golpe de Estado.