Sem apresentar provas, o presidente dos EUA, Donald Trump, associou hoje o uso de Tylenol na gravidez, nome comercial do paracetamol, com o desenvolvimento de autismo.
O que aconteceu
FDA (órgão equivalente à Anvisa nos EUA) enviará notificação aos médicos sobre o risco, segundo Trump. “Eles recomendam fortemente que as mulheres limitem o uso de Tylenol durante a gravidez, a menos que seja clinicamente necessário”, disse o republicano.
Presidente dos EUA afirmou que bebês são “carregados” com até 80 vacinas de uma só vez. “Eles injetam tanta coisa nos bebês que é uma vergonha”, afirmou, mais uma vez sem apresentar provas.
Até hoje, a administração de paracetamol em mulheres grávidas era considerada segura pela FDA. Alguns pesquisadores renomados, como David Mandell, especialista em autismo da Universidade da Pensilvânia, já afirmaram não entender como o remédio poderia ter ligação com o autismo.
Anúncio acontece pouco mais de cinco meses após secretário da Saúde Kennedy Jr. prometer força-tarefa mundial para encontrar a causa do transtorno. Em abril, ele afirmou que o país tinha uma “epidemia de autismo” e disse que encontraria o motivo disso. “Lançamos testes e pesquisas massivas que envolverão centenas de cientistas”, afirmou.
Prazo de cinco meses para apresentar um resultado levantou o alerta de cientistas. Segundo o jornal The Washington Post, alguns especialistas alertaram para o fato de que pesquisas do tipo precisam de um longo tempo para serem conduzidas.
Secretário da Saúde lançou Iniciativa de Ciência de Dados Sobre o Autismo, que vai selecionar 25 pesquisas para ter incentivo de R$ 50 milhões. Intuito é extrair dados e investigar o que pode contribuir para a condição médica.
Grupos antivacinas têm endossado o discurso de Kennedy contra o remédio. Ao longo de semanas, o Children’s Health Defense, que já foi liderado pelo secretário, tem postado vídeos afirmando que esperavam o relatório do secretário sobre o Tylenol, mas “também sobre as vacinas e seus componentes”.
Outras tentativas de ligar o remédio ao transtorno do espectro autista já caíram por terra por “falta de evidências”. Em dezembro de 2023, um juiz federal indeferiu centenas de processos judiciais que alegavam que o Tylenol poderia causar o autismo se consumido por mães durante a gravidez. Na ocasião, o magistrado não permitiu que testemunhas especializadas falassem no tribunal.
Outros estudos, como uma pesquisa publicada no Journal of the American Medical Association em 2024, falharam em encontrar ligação do paracetamol com o autismo. A pesquisa em questão analisou 2,4 milhões de crianças nascidas na Suécia e não encontrou qualquer evidência que ligasse a condição com o remédio.
Médicos alertam que o não tratamento da febre em mulheres grávidas pode levar a problemas fetais sérios. Entre os problemas estão os defeitos de tubo neural, problema na estrutura que forma o cérebro e a medula espinhal do bebê nos primeiros meses de gestação.
Kennedy é conhecido por seu histórico negacionista e foi denunciado por associações médicas após modificar recomendações de vacinas contra covid-19 para crianças. Especialistas afirmaram que o país seguia por um “caminho perigoso”.