“Vivemos na parte mais rica do país e não estamos preparados para explorar”, diz pesquisador Valtemir Souza

Por
Saimo Martins

O programa Bar do Vaz, do jornalista Roberto Vaz e transmitido pelo ac24horas, entrevista neste fim de semana o professor e doutor Valtemir Souza, autor do livro “Amazônia: Imigrações Internacionais, do Haiti para o Acre (Brasileia/2010–2016)”. Segundo Souza, a obra tem como objetivo registrar a trajetória da população haitiana que chegou ao Acre durante o período.


“O Acre é um estado eminentemente de imigrantes. Desde o século XIX, houve uma grande corrente migratória do Nordeste para cá, e agora essa é a última migração de grande vulto: uma migração internacional que chega ao Brasil pelo Acre”, explicou.


A importância da discussão sobre migração


O autor destacou que a pesquisa foi motivada pela riqueza cultural e social que acompanha os fluxos migratórios. “A migração é sempre muito rica, porque além de trazer novas experiências, também abre novas possibilidades de discussão. Vieram pessoas formadas, outras sem formação nenhuma, mas todas trouxeram conhecimentos e trajetórias que mereciam ser registradas”, disse.


Foto: Sérgio Vale

Souza comparou a chegada dos haitianos a um momento de travessia histórica. “É como Moisés na travessia do deserto. A porta estava fechada, mas foi preciso bater para que se abrisse. No início houve dificuldades, mas depois a situação foi se ajustando. Hoje, eles ainda continuam migrando, mas em um ritmo bem menor”, afirmou.


O pesquisador ressaltou que o Acre desempenhou papel central na recepção e redistribuição dos migrantes. “O Acre foi o centro de distribuição dessas pessoas. Estivemos em Brasileia, Rio Branco, São Paulo e até na Bahia. Muitos se estabeleceram por aqui, formaram família. Foi um processo natural e, felizmente, sem episódios de violência nem da parte dos acreanos nem dos haitianos”, lembrou.


Foto: Sérgio Vale

Amazônia: riqueza e desafios


A obra também traz reflexões sobre o contexto socioeconômico da região amazônica. Para Souza, existe um contraste entre a riqueza natural e as dificuldades enfrentadas pelos moradores. “Vivemos na parte mais rica do país e, ao mesmo tempo, não estamos preparados para explorar de forma adequada as riquezas que a natureza oferece. Tudo que usamos vem da natureza, transformada em algo útil”, afirmou.



O livro, que ainda não tem data confirmada de lançamento, deve ser apresentado oficialmente na Universidade Federal do Acre (UFAC). A obra reúne dados socioeconômicos, depoimentos e análises sobre a imigração haitiana no estado entre 2010 e 2016.


O professor revelou que conhece alguns haitianos que constituíram família no Acre e citou exemplos. “Tem um que trabalha no mercado, no shopping Aquiry, aliás, são dois. Há também um que mora em Brasiléia, um rapaz que visitamos em sua casa, casado, com filhos, e outro que vive na Vila Albert Sampaio”, relatou.


Ele destacou ainda que pretende doar exemplares do livro, além de disponibilizá-lo para venda. “A ideia é tanto fazer algumas doações quanto realizar algumas vendas”, afirmou, acrescentando que contou com o apoio de professores na produção da obra.


Assista a entrevista na íntegra:


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Saimo Martins