Gostava demais de encontrar os amigos no restaurante e bar O Casarão. Almoçar, beber umas brejas, trocar ideias, falar amenidades, esculhambar político, endeusar os artistas dos quais eu e os amigos gostávamos, resolver todos os segredos de nosso universo e dos paralelos.
Por vezes, criar uma charge, conhecer pessoas, fazer negócios, escrever uma poesia, ali mesmo, no guardanapo e enviar, via garçonete, para a moça que paquerava com a minha paquera. Recebi muitas mensagens positivas e negativas através de olhares, pestanadas entre folhas de alface, carnes, talheres e rabissacas.
Também tinha aquelas vezes em que tinha que ver, ouvir e aguentar coisas desagradáveis. Mas me apegava sempre às que me faziam rir, porque risada é meu traje até hoje. Minha parca memória, agora só me entrega aquilo que eu creio que será agradável e, possivelmente fazer o leitor rir. Esse é meu modus operandi como escrevedor, meu jeito de dizer, falar das coisas que eu achei engraçadas e que puderem gerar sorrisos, quiçá.
Então.
O Alcântara (estrelado) e a Zezé Mortari, observadores que eram, perceberam a aproximação de Luiz Sardinha, músico, baixista bom demais da conta, que adentrava a pequena porteira que dava acesso ao restaurante e descia os três degraus, antes do caixa do estabelecimento. Logo atrás, um pouco mais distante, atravessavam a avenida Brasil, por entre carros, suados, ofegantes – Pareciam estabanados! – Gilson Pescador e Jorge Anzol.
Assim, num átimo de pensamento lógico, numa atitude heroica, o bailarino Antônio Alcântara, de um metro e oitenta, levantou-se, pernapassou, esticou o braço num gesto de proteção, empurrou Luiz para lá. Zezé, que até então conversava comigo, que não entendi nada, gargalhou! Havia mais pessoas que riram alto também. Só fui compreender e rir muito também, depois que o baiano explanou sua atitude exacerbada.
– Corre, Sardinha! Vai lá pra trás que eu seguro os caras! Aqui ninguém te pesca!
Acontece que, naquele tempo existiam os “showmícios”. Jorge Anzol é músico e Gilson Pescador estava candidato e precisava de Sardinha na banda, para animar seu comício.
Só isso.