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O artigo de hoje examina a afirmação de que a agricultura acreana teria sido mais forte no governo Edmundo Pinto/Romildo Magalhães (1991–1994) do que nos governos da Frente Popular (1999–2018). O debate surgiu depois de uma entrevista dada ao jornalista Itaan Arruda, na edição do ac24agro de 01/09/2025 (https://ac24agro.com/2025/09/01/entrevista-de-economista-causa-indignacao-em-ex-gestor/). A declaração polêmica suscitou um debate sobre a veracidade dessa afirmação.
Minha análise vai basear-se nas informações do documento Produção Agrícola Municipal (IBGE, 2024), com foco em quantidades produzidas das principais lavouras temporárias e permanentes. Complementarmente, discutimos produtividade (kg/ha) de arroz e feijão usando a previsão do IBGE para 2025, a fim de explicar movimentos estruturais por trás da queda desses grãos no Acre.
Da subsistência à competitividade: a transição agrícola acreana
Na tabela a seguir, constam os dados das quantidades produzidas das principais lavouras temporárias e permanentes de 1987 a 2018, divididos por cada governante de 4 em 4 anos.
Conforme os dados, ao longo da série estudada, observa-se o declínio na produção de dois produtos. O primeiro, o arroz que saiu de 174 mil toneladas (1987–1990), para 26 mil toneladas (2015–2018). O segundo pelo Feijão, que saiu de 42,5 mil toneladas (1991–1994) para 16,0 mil toneladas (2015–2018).
A queda da produção de arroz e feijão no Acre resulta da baixa produtividade por hectare, que mantém o estado em desvantagem frente ao restante do Brasil e compromete a sustentabilidade desses cultivos no longo prazo. As previsões do IBGE para 2025 revelam a grande defasagem desses dois produtos em relação à média nacional. Enquanto no Brasil o rendimento do arroz deve alcançar 7.095 kg/ha, no Acre não passa de 1.200 kg/ha. No feijão, a diferença é semelhante: 1.150 kg/ha no país contra apenas 553 kg/ha no estado.
Por outro lado, 04 produtos aparecem em expansão: a mandioca: 1,23 milhão de toneladas (1987–1990) para mais de 4,0 milhões de toneladas (2011–2014). A banana, que saiu de 22,9 mil toneladas (1987–1990) para 413,4 mil toneladas (2015–2018). O milho, que saiu de 180 mil toneladas (1987–1990) para 346,6 mil toneladas (2015–2018). E finalmente o café, que mesmo antes da modernização e ganhos de produtividade obtidos nos últimos anos, encerra 2015–2018 em 8,9 mil toneladas, reacomodando a cultura.
O crescimento da produção de banana, mandioca, milho e café no Acre está diretamente associado às suas produtividades médias mais favoráveis em comparação a lavouras tradicionais como arroz e feijão. Enquanto estes últimos apresentam rendimentos muito abaixo da média nacional — tornando-se economicamente inviáveis —, as quatro culturas em destaque conseguiram aproveitar melhor as condições de solo, clima e manejo, alcançando ganhos de escala e maior competitividade. Assim, o avanço dessas culturas reflete a combinação entre produtividade média superior, políticas de incentivo e integração de cadeias, o que explica sua expansão contínua frente ao declínio de grãos de baixo rendimento no Acre.
Agricultura acreana: do colapso à expansão sustentável (1987–2018)
No gráfico a seguir constam o total em toneladas das principais lavouras temporárias e permanentes de 1987 a 2018, divididos por cada governante de 4 em 4 anos.
Percebe-se que entre 1987–1990 (Flaviano/Cadaxo) e 1991–1994 (Edmundo/Romildo) o Acre sai de 1,63 milhão de toneladas para 2,2 milhões de toneladas, avanço significativo. Entretanto, esse patamar não se sustenta. No período1995–1998, no governo Orleir Cameli a produção recua para 1,26 milhão de toneladas (-42,5% em relação ao período 1991–1994), o menor nível da série.
No período de 1999–2018, acontece um período de recuperação, consolidação e auge. Começa com o primeiro governo de Jorge Viana (1999–2002), onde ocorreu um retorno ao crescimento (+44,5%), com o início da diversificação (banana, café).
No seu segundo governo de Jorge Viana (2003–2006): +40,5%. Em Binho Marques (2007–2010): +34,2%. No primeiro governo de Tião Viana (2011–2014), ocorre o auge histórico (4,82 milhões de toneladas, mais de 40,1% de aumento em relação ao governo anterior. No segundo governo do Tião Viana (2015–2018), o patamar continua elevado, com 4,62 milhões de toneladas, mesmo apresentando uma queda de 4,2%, em relação ao seu primeiro governo, superior a 110% do período 1991–1994.
Portanto, o ciclo 1999–2018 combina recuperação do colapso anterior com mudanças qualitativas: diversificação da fruticultura, consolidação da mandioca, integração de cadeias produtivas, apoio institucional e políticas públicas. O auge ocorre em 2011–2014 e o patamar elevado se mantém em 2015–2018.
Os dados do IBGE mostram que 1991–1994 foi um pico não sustentado; já 1999–2018 configurou expansão sustentada, diversificação e patamar histórico em 2011–2014, mantido depois. A queda de arroz e feijão é explicada pela baixa produtividade local frente à média nacional. Dizer que a agricultura foi mais forte no governo Romildo contraria as evidências.
Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas.