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Fazedores de cultura se revoltam com repasse de R$ 100 mil para evento evangélico no Acre

Por
Whidy Melo

O repasse de R$ 100 mil da Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM) para a realização da Semana Evangélica 2025 no município de Assis Brasil, no interior do Acre, provocou revolta entre fazedores de cultura do estado. A principal crítica dos artistas e produtores culturais é a dificuldade recorrente de acesso a recursos para eventos culturais, enquanto o apoio financeiro a um evento religioso foi viabilizado “fora das normas habituais”. A FEM justificou o repasse afirmando que a verba é oriunda da Casa Civil do governo e não faz parte do orçamento anual da cultura. Já a secretaria de comunicação do estado afirma que a origem do recurso é a Secretaria de Estado de Planejamento – SEPLAN.


O extrato do convênio foi publicado no Diário Oficial do Estado da última terça-feira (16) e detalha que os recursos foram transferidos da FEM para a prefeitura de Assis Brasil com a finalidade de realizar a Semana Evangélica. O evento terminou em 8 de setembro e teve como ponto alto a 4ª edição da Marcha Para Jesus no município, encerrada com show da banda gospel Som e Louvor.


Produtores e agentes culturais questionam a disparidade no acesso aos recursos públicos. É o caso de Mirna Rosário, produtora cultural de 41 anos e integrante do grupo folclórico Jabuti Bumbá. Ela afirma que a FEM costuma negar apoio a eventos culturais sob o argumento de que os pedidos não constam no orçamento anual da instituição.


“A gente vai até a Fundação de Cultura e nos dizem que não dá para apoiar, porque o que solicitamos não faz parte do plano orçamentário. Nos orientam a planejar com um ano de antecedência para entrar no plano plurianual. E mesmo assim, dizem que só há recursos via editais, como os da PNAB”, relatou Mirna.


Segundo ela, o cenário cultural do estado estaria estagnado se não fosse o repasse de recursos do governo federal por meio da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB).


“Se não fosse a PNAB, como estaria a cena cultural acriana? Estaríamos vivendo uma inércia cultural total. O governo estadual não reconhece o fazer artístico como trabalho. E o que é mais absurdo: enquanto isso, recursos são liberados para eventos religiosos”, afirmou a produtora.


Foto: Marcha Para Jesus em Assis Brasil I Prefeitura de Assis Brasil/reprodução

Ela também denuncia a falta de apoio ao grupo Jabuti Bumbá, que representou o Acre no maior festival de folclore do Brasil, realizado em Olímpia (SP), em agosto: “Levamos a identidade amazônica, personagens como Mapinguari, Curupira, Martinta Pereira. Mas a Fundação não nos ajudou com nada. Fomos na coragem. Isso é lamentável.”


Procurada, a Fundação Elias Mansour divulgou nota afirmando que a verba de R$ 100 mil não faz parte do orçamento da pasta. A FEM diz que apenas formalizou a transferência dos recursos, cuja origem é a Casa Civil do Governo do Estado.


“O presidente da Fundação Elias Mansour, Minoru Kinpara, tomou conhecimento dos questionamentos referentes ao convênio nº 09/2025, firmado entre a FEM e a Prefeitura de Assis Brasil, no valor de R$ 100 mil. A Fundação esclarece que o convênio é de iniciativa da Casa Civil, cabendo à FEM apenas a formalização da transferência dos recursos, que não integram o orçamento da instituição”, diz a nota oficial divulgada pela assessoria.


Ao jornal ac24horas, Kinpara reforçou que o apoio não compromete os recursos destinados à cultura. “O recurso não saiu do orçamento anual da Fundação de Cultura Elias Mansour. O Governo do Acre apoia, dentro do possível, todas as manifestações culturais de todas as religiões e, também, manifestações culturais não religiosas como o carnaval, por exemplo”, complementou.


Embora o evento em questão seja de cunho evangélico, a indignação dos artistas não gira em torno da fé professada, mas da priorização e facilidade de acesso ao recurso público.


“Não se trata de ser contra manifestações religiosas. A questão é: por que para a cultura tudo é burocrático, travado, cheio de desculpas, enquanto um evento evangélico consegue R$ 100 mil com tanta facilidade?”, questiona Mirna.


Consultada pela reportagem para esclarecer sobre o critério adotado pela Casa Civil para a viabilização do recurso, a secretária de Estado de Comunicação do Acre, Nayara Lessa, afirmou que o recurso foi viabilizado pela Secretaria de Estado de Planejamento (SEPLAN), atendendo a uma solicitação do prefeito de Assis Brasil. “O recurso foi viabilizado pela SEPLAN. O Governo do Estado atendeu à solicitação do prefeito de Assis Brasil. Na ocasião, estava presente o secretário da Casa Civil, que foi chamado para participar da reunião, tomar conhecimento do pedido e viabilizar os trâmites burocráticos, por meio do encaminhamento do processo à FEM”, esclareceu.


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Whidy Melo