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Nos últimos 3 anos, 88 presos fugiram de presídios do Acre e policiais penais são investigados

Por
Whidy Melo

O sistema prisional do Acre enfrenta uma onda de fugas que expõe vulnerabilidades estruturais e humanas, com 25 evasões registradas apenas em 2025 até esta data, igualando o total de 2024. No entanto, o número de recapturas despencou para apenas quatro neste ano, contra 22 no anterior e 19 em 2023. Em entrevista exclusiva ao ac24horas, nesta segunda-feira (15), o presidente do Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen), Marcos Frank, contextualizou a situação, defendeu sua gestão e rebateu críticas de parlamentares na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), lamentando a ausência de diálogo.


Foto: presidente do Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen), Marcos Frank I Whidy Melo/ac24horas

Frank, que assumiu o cargo em junho de 2024, reconhece que as fugas representam o principal indicador de crise no sistema. “Muito se fala a respeito que o sistema prisional do Acre vive uma crise. Para você falar em crise, você tem que elencar alguns critérios. Creio que o critério mais adotado nesse momento seja a quantidade de fugas”, afirmou. Ele destacou que, apesar dos números absolutos iguais entre 2024 e 2025 (25 cada), há uma redução relativa, considerando o aumento de mil presos na população carcerária. “Temos sim uma redução se você considerar os números relativos. Mas esse fato não deve ser comemorado por nós. O ideal é que não hajam fugas no sistema prisional.”


Os dados revelam um cenário preocupante: em 2023, foram 38 fugas, com 19 recapturas; em 2024, 25 fugas e 22 recapturas; e em 2025, até 15 de setembro, 25 fugas com apenas quatro recapturas. Frank atribui o baixo índice de recapturas em 2025 a desafios operacionais, mas enfatiza parcerias com a Polícia Civil e Militar. “Nós temos uma boa relação com a Polícia Civil, também com a Polícia Militar, que tem nos ajudado nessa busca dessas pessoas que se valem do sistema”, disse, mencionando o trabalho de inteligência para monitorar denúncias.


Um dos pontos mais alarmantes da entrevista foram as suspeitas levantadas sobre a ausência de policiais penais em seus postos durante fugas. Frank citou exemplos específicos investigados pela Corregedoria do Iapen. Na fuga de 3 de novembro de 2024, no pavilhão B, do presídio Francisco de Oliveira Conde (FOC), em Rio Branco, seis presos pularam o muro enquanto os guardas escalados não estavam no local monitorado por câmeras. “As mesmas imagens identificam o lugar e eles não estavam no lugar onde estavam devidamente escalados”, explicou. Outro caso ocorreu em 19 de junho de 2025, no pavilhão P, também no FOC, com nove evasões às 6h42 da manhã. “Haviam seis policiais penais escalados. Ocorre que somente um policial penal estava ocupando o posto”, questionou Frank, indagando se a falha é apenas falta de efetivo. Em 19 de dezembro de 2024, no Pronto Socorro de Rio Branco, um preso em pós-operatório escapou apesar de dois guardas escalados.


Foto: Imagens de câmera de monitoramento mostra fuga de presos, no canto superior esquerdo I IAPEN/Divulgação

Essas ausências geram suspeitas de envolvimento ou negligência. Segundo Frank, as investigações administrativas buscam esclarecer se houve “desídia ou negligência pré-ordenada”, mas negou indícios de conduta criminosa até o momento. “Não há nenhum indício de que realmente, de fato, haja alguma conduta criminosa por parte dos policiais penais”, afirmou, sem confirmar verificações em extratos bancários. Os policiais sob investigação continuam em suas funções durante o processo. Frank defende que as fugas nem sempre decorrem de ausências: muitas envolvem buracos em paredes camuflados pelos presos. “Os presos utilizam diversos artifícios para encobrir essa prática”, disse. Ele negou um perfil específico para os fugitivos, que incluem membros de diferentes facções, homicidas, traficantes e ladrões, sem distinção econômica ou hierárquica.


Foto: Imagens de câmera de monitoramento mostram policiais penais que deveriam estar monitorando câmeras, fora do posto, no canto inferior direito I IAPEN/Divulgação

Para combater as evasões, o Iapen investe em infraestrutura: quase R$ 4 milhões em monitoramento eletrônico e revistas estruturais. “Temos três milhões de investimentos. Quase quatro, três milhões e novecentos mil que vão ser investidos em estrutura prisional”, detalhou Frank. Equipes especializadas, como o GPOE, realizam rondas externas e apreenderam cerca de 100 quilos de maconha em tentativas de arremesso para dentro dos presídios no último mês. Recentemente, 50 servidores administrativos foram realocados para funções operacionais após o fim de contratos de agentes provisórios, priorizando a segurança até a posse de 170 novos policiais penais, nomeados em concurso. “Isso não significa que os demais não vão ser chamados”, garantiu, citando estudos para convocar o restante dos aprovados.


Reação às críticas na Assembleia Legislativa

Frank rebateu duramente as críticas de deputados na Aleac, que questionaram sua gestão sem convidá-lo para debate. “Houve alguma coisa, uma manifestação na Assembleia em que vários deputados se manifestaram no sentido contra a nossa gestão. Respeitamos a opinião dos deputados, são os representantes do povo… Então, se assim for, se a Assembleia for a casa do povo, eu também quero participar desse debate”, declarou. Ele lamentou a falta de diálogo: “Em nenhum momento houve o convite para que fosse feito um diálogo aberto… Preferiram tecer críticas ao sistema prisional e à nossa gestão.”


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Whidy Melo