Menu

Ícone político do Acre, Nilson Mourão diz que STF foi complacente com Bolsonaro

Foto: Nilson Mourão, aos 73 anos I Whidy Melo/ac24horas
Receba notícias do Acre gratuitamente no WhatsApp do ac24horas.​

O ex-deputado estadual e federal Nilson Mourão, de 73 anos, fundador do PT no Acre e uma das figuras mais influentes da política estadual, deu entrevista exclusiva ao ac24horas, na sede do partido que fundou, em Rio Branco. A conversa ocorreu no sábado (13), apenas minutos antes do filho dele, Tiago Mourão, superintendente do Patrimônio da União no Acre (SPU), ser empossado como novo presidente do diretório municipal do PT. Apesar dos desafios impostos pelo Mal de Parkinson, Mourão compartilhou reflexões profundas sobre sua trajetória, o cenário político nacional e a continuidade de seu legado por meio de seu filho.


Natural de Tarauacá, Nilson Mourão é sinônimo de luta e resistência no Acre. Fundador do PT em 1980, ele dedicou 45 anos à construção do partido no estado, ocupando cargos como presidente da Executiva Regional (1991-1993), líder e vice-líder do PT na Câmara Federal, além de mandatos como deputado estadual (1991-1999) e federal (1999-2011). Sua trajetória política é marcada pela defesa da democracia, da soberania popular e da justiça social, valores que o tornaram uma referência na esquerda acreana.


Além da política, Mourão deixou sua marca na educação. Como professor de Sociologia, Teoria Política e Realidade Brasileira, atuou em instituições como o Centro de Educação Popular Seringueira, o Instituto Sedes Sapientiae e a Universidade Federal do Acre (UFAC), onde também foi diretor de Divulgação Científica (1989-1990). Sua dedicação à formação de consciências críticas reforçou seu papel como educador e militante, influenciando gerações no Acre.

Anúncio


Mourão reconhece os altos e baixos de sua trajetória. “Olhando para trás, vejo que acertamos e erramos. Pesando os pratos da balança, acertamos mais que erramos. Isso foi compreendido pelo povo e está sendo até hoje”, afirmou. Sua vida, permeada por sacrifícios, reflete o compromisso com a construção de uma sociedade mais justa, um ideal que ele carrega mesmo enfrentando limitações motoras causadas pelo Mal de Parkinson.


Foto: Nilson Mourão (de vermelho), ao lado de Lula (camisa preta), em Rio Branco, na década de 80 I Arquivo Pessoal/cedida

Ao abordar o cenário político nacional, Mourão foi contundente em suas análises, especialmente sobre a recente condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados por tentativa de golpe de Estado e organização criminosa. Para ele, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) foi uma resposta necessária à sociedade. “Os crimes praticados por Bolsonaro e sua equipe mereciam uma resposta contundente. O Brasil é uma democracia consolidada, e não podemos ficar na dependência de pessoas com interesses pessoais desvirtuando esse caminho”, declarou.


Mourão expressou indignação com episódios como a gestão de Bolsonaro durante a pandemia de Covid-19, destacando as imagens de Manaus como particularmente chocantes. “A postura dele vendo as pessoas morrerem, na condução da crise das vacinas, foi uma coisa horrorosa, inadmissível”, afirmou. Ele também criticou a presença de bandeiras estrangeiras em manifestações pró-Bolsonaro, como as vistas no Dia da Independência, classificando o fenômeno como “uma traição ao próprio povo”, algo sem precedentes em sua experiência como militante e estudante de história.


Foto: bandeira americana estendida durante protesto pró-Bolsonaro no Dia da Independência, em 7 de setembro, em São Paulo I Nelson Almeida/Estadão

Sobre a atuação do STF, Mourão defendeu a imparcialidade do julgamento, mas sugeriu que a corte foi “complacente demais” diante da gravidade dos crimes. “Essas pessoas têm que ser responsabilizadas. Não foram crimes quaisquer, foram horrorosos”, enfatizou. Ele enxerga a condenação como um marco para virar a página de um período conturbado, reforçando a soberania e a democracia brasileira.


Mourão também abordou a percepção hostil que parte da população tem do PT atualmente. Com otimismo, ele minimizou o fenômeno como passageiro: “É um momento histórico em que as pessoas visualizam o PT com muitas restrições. Mas isso passa. Na vida, tudo passa. Nós reconquistaremos o coração do povo.” Sua confiança reflete a resiliência de quem enfrentou décadas de desafios políticos no Acre e no Brasil.


Foto: Nilson Mourão e Tiago Mourão se preparam para posse, na sede do PT em Rio Branco I Whidy Melo/ac24horas

A posse de Tiago Mourão como presidente do diretório municipal do PT em Rio Branco é, para Nilson, um símbolo de continuidade. “Fico muito feliz que ele esteja abraçando a causa do Partido dos Trabalhadores. O PT é uma causa pela qual se luta, o desejo de construir um mundo mais participativo, com menos desigualdades, mais justo, mais fraterno”, declarou. Ele destacou que Tiago foi educado com valores de respeito à democracia e à organização popular, mas enfatizou que a escolha pela política foi livre. “Jamais disse a ele: ‘Você vai ser do PT’. Eu dei o exemplo, e ele escolheu seguir esse caminho. Que seja feliz.”


Questionado sobre a possibilidade de Tiago seguir outro espectro ideológico, Mourão foi claro: “Dialogar com todos os setores, inclusive adversários, é uma coisa. Abandonar os princípios é outra”. Para ele, a direita representa “um mundo que se consolida na desigualdade”, enquanto o PT busca igualdade de oportunidades. Ele confia que Tiago carregará seu legado, não por imposição, mas pelo exemplo. “Os exemplos falam mais alto que as palavras. Tenho a firme convicção de que ele continuará essa luta”, afirmou.


INSCREVER-SE

Quero receber por e-mail as últimas notícias mais importantes do ac24horas.com.

* Campo requerido
plugins premium WordPress