Novamente, Rio Branco se vê diante do debate sobre transporte coletivo. É a consequência de um cenário econômico empobrecido: uma cidade com comércio pobre, com cidadãos igualmente pobres e com pouca circulação de dinheiro. Em um lugar assim, não seria o transporte coletivo a exceção à cena. Os ônibus refletem esta condição. Essa é uma premissa. Não se está debatendo a rotina de um povo com finanças equilibradas em uma cidade estruturada, em que tudo vai bem e apenas o transporte coletivo vai mal.
O transporte coletivo chama atenção por uma série de fatores. O fator financeiro é um deles. A única empresa que atua na cidade é mantida por meio de um contrato precário que, segundo debates na tribuna da Câmara de Vereadores de Rio Branco, já custou R$ 200 milhões aos cofres públicos por meio de subsídios.
E aqui, este espaço retoma uma defesa já feita anteriormente: o prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom, sente os efeitos das declarações inconsequentes que fizeram o sucesso de sua eleição ainda no primeiro mandato. Ele manipulou o debate, criticando o subsídio praticado pelos antecessores, ignorando a realidade do sistema. Falou, de forma populista e beirando o preconceito, que iria “abrir a caixa preta” do transporte coletivo na Capital.
De gosto duvidoso e politicamente incorreta, a expressão lhe rendeu simpatias do eleitor que, cinco anos depois, se vê enganado. Há três anos, a Prefeitura de Rio Branco não consegue finalizar uma licitação. O tempo foi passando. O cenário lembrado no primeiro parágrafo deste texto foi se impondo. E o prefeito foi se sufocando na própria língua.
O leitor mais sensível ao ambiente de pobreza e exclusão econômica já percebeu que o subsídio não é objeto de crítica por parte da oposição na Câmara de Vereadores. Quem criticava era o atual prefeito. O subsídio é uma necessidade: ou a Prefeitura de Rio Branco subsidia o transporte coletivo, ou não há ônibus circulando na Capital. Simples assim.
A crítica renovada ao prefeito guarda relação não com o subsídio em si, mas com a qualidade do serviço prestado pela empresa e a falta de transparência com o recurso público aplicado. Essa é a questão. Querer repactuar o subsídio sem prestar contas com o que já foi gasto, diante de uma frota que se desmancha todo dia pelas ruas da cidade, não é razoável e nem honesto.
Como todo esse sistema é bancado pelo usuário/cidadão, essa nova empreitada do prefeito Bocalom peleja para aumentar subsídio quando, na verdade, o que está em jogo é aumento de tarifa. Seja subsídio, seja aumento de tarifa, quem paga é o cidadão. O problema não é subsidiar. A prestação de serviço de qualidade sufocaria qualquer crítica. Mas o que o usuário percebe, na prática, é que ele paga duas vezes (na roleta e no subsídio) para ser maltratado.
Os 420 trabalhadores do sistema (230 motoristas) acabam sendo massa de manobra, tanto da empresa quanto da Prefeitura de Rio Branco. Humilham-se, para garantir ao menos o que comer. São profissionais que veem os postos de trabalho diminuírem a cada incompetência renovada. Não faz muito tempo, havia mais de 140 ônibus circulando na Capital. Hoje, 115 se esfumaçam, incendeiam-se e desmantelam-se rotineiramente. É parte da cena de ingerência.
A única empresa que opera na Capital tem uma situação um tanto quanto cômoda. Os “desertos” das licitações fazem com que a empresa olhe para o prefeito e diga: “Ou é comigo ou não será com ninguém!”. Rio Branco não é atrativa para empresas de transporte coletivo. A lucratividade é baixa, comparada a outras regiões, sem contar os outros modais concorrendo (mototaxi, táxi lotação, motoristas por aplicativo, táxis).
Do ponto de vista político, é aguardar para saber se a Câmara de Vereadores irá aceitar ser o “puxadinho da Prefeitura” e chamar para si o pagamento dessa fatura: o parlamento não avaliza tecnicamente o contrato que se estabelece juridicamente entre a empresa e a Prefeitura de Rio Branco. Espertamente, Bocalom está querendo dividir essa responsabilidade. A Câmara irá se submeter a isso?