Vontade de falar

Por
Francisco Braga

Vontade de falar com alguém. Vontade de escrever algo legal, alguma coisa bacana de se ler, para que alguém leia algo legal e bacana, maneiro, alguma coisa divertida, fora de qualquer coisa ruim, que mantenha o leitor lendo e gostando do que lê e querendo ler mais. Vontade de fazer algo legal, alguma coisa bacana, algo maneiro… aquela coisa que, se alguém que ler tenha vontade de compartilhar com mais alguém que também goste do que lerá. Vontade de falar…


Falar o que? Por vezes fico assim, cutucando o teclado, buscando palavras, querendo falar, mas… falar o quê, meu bom Deus? A falta de conhecimento não tem nada a ver com falta do que dizer. A falta de inspiração, de assunto faz a gente perguntar pro taxista se vai chover, se o carro é de tal ano, mesmo não entendendo nada de automóveis, mesmo não sabendo patavinas de meteorologia, mesmo sabendo escrever esta palavra tão difícil de dizer.


Olhar pela janela e observar os transeuntes, as pessoas que vem e vão, não se sabe d’onde nem para aonde. Os trejeitos da moça, com bolsa e sacolas plásticas nos braços, falando ao telefone portátil, acenando para o coletivo. O menino se largando da mão da mãe e correndo para o asfalto. Sol clareando e esquentando os corpos, o dono da banca de jornais gritando: Segura o menino! O cantar de pneus freando. O baque desagradável do dia-a-dia.


Vontade de que não seja, nem fosse assim, desse mesmo jeito que as coisas são. Queria contar outra estória, falar de História, mas não sei… não sei mesmo, de jeito nenhum. Dizer do que acontece, sem chorar, sem me sentir impotente, porque é demasiadamente ruim não poder fazer qualquer coisa que mude o destino. Ficar de arquibancada enquanto a vida se move, se multiplica, se cansa e melancolicamente se vai.


E a vida vai, por vezes atrasada, tal qual o ônibus lotado, pesado, que teve que esperar uma mãe correr para pegar toda a sua vida pela orelha e salvar seu amor eterno e inexorável, e se ajoelhar de joelhos firmes no asfalto quente do dia-a-dia, e parar o trânsito, e parar a respiração da gente atônita que a observa, e que suspira de alívio, e que a aplaude em êxtase. Me fala aí! Eu vou falar o quê?


Vontade de dar um abraço nela, mas a vida vai sem falar nada pra gente, abraçando a gente, sem deixar a gente falar nada pra ela.


Casimiro de Abreu-RJ, 31 de abril de 2017, Bar do Cafuncho.


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