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Exportações do Acre avançam 12,8%, mas EUA reduzem compras em mais de 60%

Foto: Embaixada dos EUA/Divulgação

A análise das exportações do Acre evidencia como políticas comerciais globais, em especial as tarifas impostas pelo governo Donald Trump, repercutem até mesmo em economias periféricas da Amazônia. A retração da participação dos Estados Unidos no destino das vendas externas do estado, que caiu de 3,8% em 2024 para 1,2% em 2025, revela o impacto direto de barreiras tarifárias e regulatórias sobre produtos tradicionais, como madeira e castanha, e a consequente necessidade de diversificação de mercados e estratégias de inserção internacional.


No acumulado de janeiro a agosto de 2025, o Acre exportou US$ 69,1 milhões FOB, dos quais apenas US$ 799,7 mil tiveram como destino os EUA, o que corresponde a 1,2% do total. Em contraste, no mesmo período de 2024, as exportações totais foram de US$ 61,2 milhões FOB, sendo US$ 2,3 milhões para o mercado norte-americano, equivalente a 3,8% do total. Os dados podem ser observados na tabela a seguir.



Em 2025, apenas quatro meses (janeiro, abril, junho e julho) registraram embarques para os EUA, todos em valores modestos. O destaque foi janeiro, com US$ 552,7 mil, respondendo por 6,7% das vendas totais do mês.


Já em 2024, os EUA tiveram presença mais consistente, com compras mensais em quase todo o período e percentuais significativos em janeiro (15,0% do total exportado) e junho (4,8%).


Em 2024, as exportações do Acre para os Estados Unidos estavam fortemente concentradas em poucos produtos: 60,8% em castanha, 32,9% em madeira e 6,3% em soja. Esse perfil já indicava uma pauta limitada, dependente de nichos específicos. No mês de agosto, a situação se tornou ainda mais clara: 100% das exportações acreanas para os EUA foram exclusivamente de madeira, revelando a fragilidade da relação comercial.


O cenário de 2025 consolidou essa tendência de retração. Não houve registros de exportações do Acre para os Estados Unidos, e os produtos que antes tinham como destino o mercado norte-americano foram redirecionados a outros países. A castanha, no valor de US$ 224 mil, foi exportada integralmente para o Peru. Já a madeira, somando US$ 363 mil, teve como principais destinos a Alemanha (34,4%), República Dominicana (18,3%), Portugal (15,3%), Espanha (9,5%), China (8,0%), França (7,7%) e Bélgica (6,8%).


Esse deslocamento revela dois pontos centrais: por um lado, a perda de relevância dos Estados Unidos como comprador do Acre, que passou de importador expressivo em 2024 para completamente ausente em 2025; por outro, a diversificação de mercados, ainda que limitada em escala, com destaque para a entrada de países europeus na pauta da madeira.


Exportações do Acre em 2024 e 2025: evolução e contrastes

Entre janeiro e agosto de 2025, o Acre exportou US$ 69,1 milhões FOB, valor 12,8% superior ao registrado no mesmo período de 2024 (US$ 61,2 milhões). O resultado foi impulsionado, sobretudo, por: 1) Janeiro de 2025, com crescimento de 159,7% em relação a janeiro de 2024 (US$ 8,2 milhões contra US$ 3,1 milhões); 2) Fevereiro e março de 2025, que também tiveram forte expansão, de 48,4% e 42,6%, respectivamente; 3) Abril de 2025, que atingiu o maior valor mensal do período, US$ 16,9 milhões, 11% acima do mesmo mês de 2024.



Na tabela acima permite avaliar o desempenho das exportações do Acre no acumulado de 2024 e nos primeiros oito meses de 2025.


Apesar desse desempenho positivo, alguns meses mostraram retração: maio (-14,5%), junho (-21,7%), julho (-3,6%) e agosto (-22,1%). Isso evidencia oscilações típicas da pauta exportadora acreana, fortemente concentrada em poucos produtos. A tabela também mostra que o total anual de 2025 ainda não é definitivo. O valor parcial, de janeiro a agosto, já alcança US$ 69,1 milhões, superior ao total de exportações do mesmo período de 2024, mas inferior ao total anual consolidado daquele ano (US$ 79,4 milhões).


Exportações do Acre por grupos de produtos – janeiro a agosto de 2025


O desempenho das exportações do Acre nos oito primeiros meses de 2025 evidencia uma forte concentração em produtos agropecuários e agroextrativistas, refletindo a estrutura produtiva do estado. O valor total exportado alcançou US$ 69,1 milhões FOB, distribuído entre alguns segmentos principais, conforme demonstrado na tabela a seguir:



A soja liderou a pauta com US$ 20,3 milhões, equivalente a 29,4% do total. Isso confirma a consolidação do grão como um dos pilares recentes da inserção do Acre no comércio internacional, associado à expansão da fronteira agrícola. A potencialidade da pecuária bovina, teve o seu desempenho muito próximo da soja, o setor de carne bovina gerou US$ 20,1 milhões (29,1%). Pela ampliação do mercado externo, a exportação de carne bovina deverá superar a soja já no mês de setembro, justificando a sua relevância histórica para o estado, reforçando o peso da pecuária na economia acreana.


A carne suína, também em ascensão no mercado externo, alcançou US$ 11,4 milhões (16,5%), consolidando-se como a terceira força exportadora do Acre, resultado do avanço da cadeia de proteína animal.


Os produtos agroextrativistas e florestais tiveram destaques. A Castanha, tradicional produto da floresta, registrou US$ 9,6 milhões (13,9%), mostrando resiliência e importância socioeconômica para comunidades extrativistas. A Madeira, respondeu por US$ 3,3 milhões (4,8%), participação modesta, mas ainda significativa dentro da pauta estadual, associada a um setor sujeito a regulamentações ambientais e de mercado.


Em síntese, os números mostram que, embora o Acre tenha registrado crescimento nas exportações até agosto de 2025 (+12,8% frente a 2024), a pauta permanece altamente concentrada em poucos produtos – soja, carne bovina, carne suína e castanha, que juntos representam quase 90% do total. 


Além disso, a perda de participação dos Estados Unidos, cuja fatia caiu de 3,8% para 1,2% no período, evidencia a necessidade de ampliar e diversificar mercados externos. O desempenho recente confirma o potencial competitivo da agropecuária e do extrativismo tradicional, mas também aponta para o desafio estratégico de garantir maior estabilidade, reduzir vulnerabilidades e explorar novos segmentos da bioeconomia e da indústria florestal sustentável como forma de fortalecer a presença acreana no cenário internacional.


Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas


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