Alan Rick – o pré-candidato e Maquiavel

Por
Valterlucio Campelo

Como mero observador da cena política acreana, aqui do meu cantinho, arremedo de contemplação platônica onde me situo, sem amarras além das que eu mesmo me ponho, venho dizendo há meses que a pré-candidatura do senador Alan Rick ao governo do Acre decolou e viaja com ventos favoráveis. No dizer popular, “sua pipa pegou vento”, o que lhe permitiu se ausentar por um bom tempo dos embates e mesquinharias cotidianas até que o cenário ficasse mais firme, o que aconteceu recentemente com decisões partidárias sobre as quais ele não tinha controle.


Daí, assistimos nesta semana algumas entrevistas e exposições públicas do senador, que vem nos termos da lei percorrendo seu itinerário de pré-candidato ao governo do Estado. Parece certo que ele não poderia ficar mais tempo na coxia, depois que a formação da federação UP (União Brasil + Partido Progressista) estabeleceu um contexto eleitoral que não o contempla. Ainda que de forma administrada, é hora de mostrar a cara e dar explicações, justificar decisões e apresentar sua bagagem como homem público.


Estranhamente, vejo aqui de longe que Alan Rick exemplifica um caso que, embora pareça atípico, não é raro. A contradição pode ser resumida da seguinte forma: Como é que um candidato com pelo menos 50% a mais de preferência sobre o segundo colocado, apurada em seguidas pesquisas, é preterido pelo seu partido em função de outra candidatura? Se o critério fosse unicamente as chances de vitória, soaria até estúpido, mas não é. Também não é ideológico, porque estamos tratando de alternativas no mesmo campo, de comportamentos e votos praticamente iguais no cenário nacional. Dessa vez, aqui no Acre todo mundo é direita, todo mundo é mais ou menos “bolsonarista”, todo mundo odeia o Chris, digo, o PT.


Então, se não é por chance de vitória nem por ideologia, talvez seja por sua moral, sua idoneidade. Também não é. Longe disso. Alan Rick é um homem honrado, preparado, casado e cristão. Seja como profissional de imprensa, jornalista, parlamentar de três mandatos, ou mesmo como cidadão, não há qualquer tisnado consequente em sua conduta profissional ou pessoal.


Assim, já se vão três finas peneiras e Alan Rick passou em todas. Então, o que será que o inviabiliza nos meandros do poder, pelo menos por enquanto, já que por cá o vento dá reviravoltas que nem o deus mitológico Eólio esperaria? Para responder, é preciso buscar um pouco de ciência política. 


Se na psicanálise é Freud que quase sempre explica, na política, é a Maquiavel que recorremos de modo mais ligeiro para desanuviar grande parte das inquietações que surgem. Vamos então ao Florentino. Em seus “discursos” Maquiavel explica que o afastamento de um líder querido pelo povo em favor de outro menos popular ocorre porque as elites priorizam a preservação de seu próprio poder e influência. O líder popular, ao depender menos delas, torna-se uma ameaça, enquanto o menos popular pode ser um aliado mais previsível. Seria este o caso? Daqui, distante do furdunço, não posso confirmar, mas é uma hipótese a considerar.


Maquiavel dá mais pistas. Isso ocorre também porque o povo e as elites têm interesses divergentes. Enquanto o povo quer segurança e liberdade, as elites buscam domínio e privilégios. Então, um líder querido pelo povo pode ser visto como uma ameaça pelas elites, pois sua popularidade lhe dá autonomia e poder independente. Para evitar o confronto, as elites podem conspirar para substituí-lo por alguém menos popular, mas que dependa mais delas para se manter no poder. Parece que há aí uma espécie de defesa do establishment.


Outro ponto é a estabilidade do poder, e esta depende do apoio das elites. Para elas, sendo volátil, como de fato é, a popularidade pode ser um risco se não for equilibrada com o apoio do establishment. Um líder muito querido pode gerar ciúmes ou insegurança entre outros poderosos, que temem perder influência. Assim, as elites podem apoiar um candidato menos carismático, mas que garanta maior estabilidade aos seus interesses. Novamente, vejo no meu telescópio a ânsia de permanência.


Certamente, Maquiavel teria muito mais a nos dizer sobre a contradição que expomos inicialmente, mas, chega, não quero encher o saco dos leitores e eleitores com invocações filosóficas. Esta reflexão pretende apenas e tão somente, compreender friamente questões que se apresentam sem muita clareza perante a sociedade acreana neste momento. De fato, estamos apenas iniciando um processo que será longo e muito disputado, outros fatores importantes ainda não entraram totalmente em campo, como gostam de dizer aqueles que homenageiam o uso da máquina pública e medem o dinheiro a ser derramado. Será que, como eles defendem, a máquina resolve tudo e no tempo certo cortará a linha da pipa do Alan Rick? A ver. Vou limpar as minhas lentes.


Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no  DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.


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