A Federação PP e União Brasil decidiu hoje que todos os filiados devem entregar os cargos no governo Lula (PT). A decisão atinge os ministros do Esporte, André Fufuca (PP-MA), e do Turismo, Celso Sabino (União Brasil-PA).
O que aconteceu
Ministros terão até 30 de setembro para deixar a Esplanada. Foi decidido que todos os detentores de mandato devem renunciar. Em caso de descumprimento, haverá afastamento do partido. Se persistir no cargo, haverá expulsão, de acordo com o estatuto do partido.
O anúncio acontece durante o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Aliados da federação aumentam a pressão por anistia. Em nota, a federação diz que a atitude “representa um gesto de clareza e de coerência”. “É isso que o povo brasileiro e os eleitores exigem de seus representantes.”
Integrantes do União Brasil e do PP afirmam que Fufuca e Sabino resistem à saída. Procurados, os ministros ainda não se manifestaram. O espaço segue aberto.
Indicações do presidente do Senado e de Arthur Lira não devem ser prejudicadas. Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) apadrinhou os ministros das Comunicações, Frederico Siqueira Filho, e da Integração Nacional, Waldez Góes. Já o ex-chefe da Câmara indicou o presidente da Caixa, Carlos Vieira.
Caciques dos dois partidos se reuniram com Fufuca hoje de manhã. O UOL adiantou que ele foi chamado à sede do União Brasil, em Brasília, para conversar com Antônio Rueda, presidente do União Brasil, e o senador Ciro Nogueira (PI), do PP, para tratar da saída do governo.
Ciro já vinha pedindo a saída do ministro. O presidente da sigla sempre foi contra a ida de Fufuca para o governo Lula. Conhecido por suas posições firmes, o deputado licenciado conseguiu fazer valer sua vontade de assumir a pasta do Esporte.
Lula pressionou os ministros a defenderem o governo. O presidente reclamou que os ministros não defendem a gestão em eventos partidários que são atacados.
Apoio a anistia
Um apoio mais irrestrito à anistia também aconteceu. Com a chegada do julgamento, bolsonaristas têm aumentado a pressão para que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), paute a questão que poderá beneficiar o ex-presidente. “A federação é a favor da anistia. A gente está conversando com o Hugo para poder pautar o mais breve possível”, disse o deputado Pedro Lucas (PP-MA), líder na Câmara
O assunto tinha perdido força com os últimos acontecimentos, mas voltou a ser considerado pelo centrão. Na tarde de ontem, Bolsonaro recebeu Lira em sua casa, em prisão domiciliar, e o avanço da pauta foi o principal tema da conversa.
Aliados de Motta dizem que ele não votará. A pressão é vista como uma oportunidade de bolsonaristas fazerem barulho, mas interlocutores garantem que o presidente que vai evitar temas espinhosos durante o julgamento e deverá “optar pelo diálogo”.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também entrou no jogo para negociar a anistia na Câmara. Ele tem vindo a Brasília com frequência para agendas com aliados e integrantes de seu partido, e deverá voltar nesta terça para uma reunião com Motta para debater o tema, que a presidência da Casa não confirma.
Com Bolsonaro inelegível, Tarcísio é cotado como o principal nome à direita para disputar o Planalto em 2026. O caminho natural do governador seria a disputa pela reeleição no estado paulista, no entanto, durante a convenção de 20 anos do Republicanos, o presidente da sigla admitiu a possibilidade de lançá-lo à disputa presidencial —e Lula tem ciência disso.
O Republicanos espera que Bolsonaro indique Tarcísio. O governador e o presidente da sigla, deputado Marcos Pereira (SP), tiveram um encontro ontem para tratar de anistia e o governador entrou no jogo para negociar a pauta na Câmara.
Ministros miram apoio em 2026
Fufuca está mirando uma das duas cadeiras do Senado pelo Maranhão. O ministro contava com o apoio de Lula na eleição do ano que vem em um estado em que ele é popular. O presidente, por sua vez, quer o maior número de pessoas em seu palanque para a reeleição —mesmo que não tenha o apoio do partido como um todo, como deverá ser o caso do PP e do União.
Paraense, Sabino passa por situação semelhante. Além de também ter como positivo um apoio do presidente nas eleições do ano que vem —mesmo que ele não esteja com o governador Helder Barbalho (MDB), aliado de Lula—, ele é ainda um dos ministros mais participativos para a COP30, a ser realizada em Belém em novembro.
Planalto rebate com estatais
O governo tem condicionado o desembarque dos partidos à entrega das estatais. No governo, o argumento é que seria “fácil” para os partidos entregar ministérios como Esporte e Turismo, que estão longe dos maiores orçamentos da Esplanada, mas a figura muda com outras indicações.
O PP é responsável hoje pelas indicações na Caixa. O presidente Carlos Vieira assumiu em novembro de 2023 em negociação direta com o então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o partido ganhou relevância no principal financiador de grandes obras sociais e públicas, como Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida.
Já o União tem influência em estatais relevantes. Hoje, é da “cota” do partido os Correios e a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), por exemplo, que atende mais da metade dos municípios brasileiros.