O presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), teria recebido, em agosto de 2024, uma sacola de papelão com dinheiro vivo pago pelos chefes do esquema do PCC revelado em uma megaoperação na semana passada. A informação é do site ICL Notícias.
O que aconteceu
Informação veio de fonte anônima que teve contato direto com os dois chefes do esquema. De acordo com a reportagem, a pessoa afirma ter ouvido de Roberto Augusto Leme da Silva, o Beto Louco, que a propina seria entregue a Ciro Nogueira. A revelação foi oficializada em depoimento à Polícia Federal, segundo o ICL.
Dinheiro teria sido entregue pelos chefes do esquema no gabinete de Nogueira no Senado, em agosto do ano passado. Beto Louco é considerado pela Polícia Federal como colíder do esquema criminoso do PCC junto com Mohamad Hussein Mourad, o Primo, apontado como epicentro das fraudes. A propina teria sido paga a Nogueira pela dupla.
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Nogueira negou as acusações em ofício enviado ao Ministério da Justiça. No documento, o senador chamou o site de “pistoleiros de reputação” e afirmou que jamais manteve contato com os suspeitos. Pediu ainda que a Polícia Federal apure com urgência os registros de entrada em seu gabinete e escritórios, além de imagens de segurança. Nogueira também disse que coloca seus sigilos— telefônico, bancário e do gabinete— à disposição para comprovar que não tem ligação com qualquer facção criminosa.
Testemunha oficializou informação em depoimento à Polícia Federal, conforme o ICL. “Sim, ele falou que [a sacola com dinheiro] era para o Ciro Nogueira. Eles estavam indo encontrar o Ciro, em posse dessa sacola”, afirmou a testemunha em conversa gravada para a reportagem.
“Era uma sacola de papelão. Era uma sacola grampeada. De uma largura compatível com o tamanho de uma cédula”, disse a fonte. A propina estaria relacionada à defesa dos interesses dos suspeitos junto à ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) e a projetos de lei que tramitam no Senado. Na ANP, eles tentavam reverter a revogação das licenças da Copape e Aster, as principais empresas envolvidas no esquema criminoso, onde contariam com a interferência do senador.
O ICL Notícias é um portal ligado ao Instituto Conhecimento Liberta, fundado pelo empresário e ex-banqueiro Eduardo Moreira. O site tem uma linha editorial à esquerda, assim como seu proprietário, que é apoiador do presidente Lula (PT), ligado ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e conhecido por críticas ao sistema financeiro.
Mudanças em projeto do “devedor contumaz”
Como o UOL mostrou em junho de 2024, emendas apresentadas por Nogueira em um projeto irritaram o setor de combustíveis. As sugestões de mudanças foram apresentadas em um texto que trata da modernização do contencioso tributário no Brasil, com um capítulo sobre o “devedor contumaz”, e chamaram a atenção dos distribuidores de combustíveis. “Devedor contumaz” é aquele que declara seus impostos, mas sistematicamente não paga e recorre à Justiça. Como as margens de lucro de alguns setores são baixas, o tributo não pago se transforma numa vantagem competitiva. Executivos do setor dizem que diferentes movimentações do Congresso dificultam e atrasam a aprovação do projeto.
Nogueira apresentou duas emendas ao texto. A primeira excluía da classificação de “devedor contumaz” os setores com influência estatal na formação de preço. É o caso de combustíveis, por conta do tamanho da Petrobras na extração de petróleo e no refino. A segunda emenda deixava a cargo da agência reguladora definir que empresa se encaixa ou não no critério de “devedor contumaz”. A medida foi vista como uma maneira de excluir algumas companhias.
O que diz Ciro Nogueira em ofício
Ao informar Vossa Excelência que essas pessoas jamais estiveram em meu gabinete, que por jamais ter tido proximidade de qualquer espécie, e portanto nunca poderia ter advogado em benefício delas e a inaceitável hipótese de que poderiam ter me favorecido financeiramente, de qualquer forma, é absolutamente mentirosa, peço a Vossa Excelência que determine, com a máxima urgência, à Polícia Federal, que solicite os registros de entrada em meu gabinete no ano citado ou em qualquer ano, e que requeira as imagens e os registros de entrada na sede ou nos escritórios dessas pessoas.
Coloco, por meio deste, TODOS os meus sigilos à disposição (a começar pelos de meu gabinete, de meu telefone e todos os demais para comprovar que em tempo algum mantive qualquer ligação com qualquer facção criminosa.
Solicito urgência e quero crer que o importante combate e repressão às organizações criminosas não serão usados como instrumento de perseguição política, por meio da proliferação de informações falsas e absolutamente mentirosas e que jamais aconteceram ou aconteceriam.
Ciro Nogueira, em ofício enviado ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski