Rede Globo anuncia saída de William Bonner do ‘Jornal Nacional

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Folha de São Paulo

A notícia mais importante do Jornal Nacional desta segunda-feira, 1º, não estará na escalada, as manchetes no começo do telejornal. Ela será apenas uma nota, lida pelo apresentador William Bonner no último bloco do mais importante e influente jornalístico do País: a cara do jornalismo da Rede Globo vai mudar. Após 29 anos na bancada do JN, o jornalista, de 61 anos, decidiu deixar o posto. Ele será substituído por César Tralli, de 54 anos. A data para o anúncio foi escolhida a dedo: a atração completa hoje 56 anos no ar.


A mudança não será imediata. Ela só deve acontecer em novembro, provavelmente no dia 3, quando Tralli assumirá seu lugar no telejornal ao lado de Renata Vasconcellos. Bonner permanecerá na emissora até 31 de outubro apresentando o JN e só deve voltar à tela em fevereiro, quando passará a trabalhar como repórter e apresentador do Globo Repórter, ao lado de Sandra Annenberg. Roberto Kovalick deixará o telejornal Hora 1 e assumirá o Jornal Hoje.


O anúncio da Globo deve despertar um terremoto na internet. Bonner guarda o texto que será lido hoje em seu celular – já o revisou duas vezes. Mas o que faz alguém deixar essa vitrine, o mais valioso lugar ocupado por um jornalista no País? Afinal, o que teria motivado Bonner ou a Rede Globo a tomar a decisão que vai despertar uma enxurrada de especulações, manifestações e análises?


A resposta é simples, mas, para alguns, será difícil de acreditar: Bonner está cansado. Quer ficar longe do celular, abrir um livro e não precisar interromper sua leitura por causa de um push, de uma nova mensagem ou notícia. A digitalização da vida moderna acabou com o deadline, o momento do fechamento de um jornal, o rien ne va plus do jornalismo, quando o editor, finalmente, podia descansar. Ou cuidar da próxima edição.


Vive-se em um fechamento contínuo, constante, sem refresco; ao menos é assim a vida atual dos jornalistas comprometidos com seu trabalho. Não há folga. Contudo, a velha piada da caserna – quem faz o que gosta está sempre de férias – um dia perde a graça. Ainda mais em um mundo polarizado, onde a legitimidade do jornalista para lidar com os fatos é cada vez mais posta à prova.


“A especulação é assim, pode surgir a toda hora; ainda que não houvesse nenhuma coincidência, um calendário, coisa alguma, haveria especulação. Porque, se há uma coisa que eu aprendi há muitos anos já no exercício da função, é que não importa mais a verdade. A verdade já não importa mais. No universo regido pelas redes sociais, o que vale é a versão. E por mais absurdo que seja, as versões mais absurdas florescem”, afirmou Bonner nesta tarde. E conclui: “Eu tenho casca. Não se chega a um número desses – 29 anos de JN, 26 de chefia– sem isso”.


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