Foto: Iago Nascimento/ac24horas
No programa Médico 24 Horas, exibido nesta segunda-feira (1) nas redes sociais e no site do ac24horas, o médico e apresentador Dr. Fabrício Lemos entrevistou o psiquiatra Dr. Rodrigo Dourado, referência em saúde mental no estado, para discutir a gravidade da situação e os desafios enfrentados pela rede de atendimento psicossocial em cenário alarmante, onde a saúde mental no Acre enfrenta uma crise sem precedentes, com aumento expressivo de transtornos psiquiátricos e tentativas de suicídio após a pandemia de Covid-19.
De acordo com Rodrigo Dourado, os meses de pandemia parecem ter aberto uma “caixinha de Pandora”, revelando um crescimento exponencial nos casos de transtornos mentais. “A prevalência dos transtornos aumentou assustadoramente”, afirmou, referindo-se à chamada “quarta onda” – a onda de adoecimento mental que se intensificou nos últimos anos. Ele explica que os transtornos psiquiátricos, muitas vezes crônicos, se manifestam de forma progressiva, agravando-se com o tempo e culminando em situações extremas, como tentativas de suicídio.
Dr. Fabrício Lemos relatou casos recentes atendidos na emergência, como uma paciente que ingeriu chumbinho e precisou ser internada em estado grave na UTI. “Estamos horrorizados com o aumento de tentativas de suicídio, não só entre jovens, mas também em idosos”, destacou, reforçando a gravidade do problema.
Um dos principais pontos levantados na entrevista foi a precariedade da rede de atenção psicossocial no Acre. Segundo Dr. Dourado, o estado possui a pior estrutura de atendimento psiquiátrico do Brasil. Rio Branco, por exemplo, carece de clínicas psiquiátricas e de um número adequado de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). “Era para termos dois CAPS-III e um CAPS infantil-juvenil, mas não temos nenhum estruturado adequadamente”, lamentou o psiquiatra. O único CAPS-AD (voltado para álcool e drogas) disponível é insuficiente para a demanda.
Foto: Iago Nascimento/ac24horas
A falta de prevenção é outro fator crítico. Dr. Dourado enfatizou que a ausência de suporte na atenção primária leva a um aumento de casos graves atendidos nas emergências. “Quanto menos prevenção, mais casos chegam à emergência”, afirmou. Ele destacou que os CAPS existentes não conseguem atender à população, agravando o problema.
A responsabilidade pela estruturação dos CAPS recai principalmente sobre a Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA), mas também envolve o governo estadual. Dr. Dourado criticou a falta de prioridade dada à saúde mental, sugerindo que o tema não é visto como “eleitoralmente vantajoso”. Dr. Fabrício fez um apelo direto ao secretário municipal de saúde, Rennan Biths, para que reúna os psiquiatras do estado e invista na ampliação e melhoria dos serviços de atenção psicossocial. “O cobertor é curto, mas é preciso meter a mão na massa”, cobrou.
Outro ponto abordado foi o aumento dos transtornos de ansiedade, que Dr. Dourado atribui a uma sociedade “ansiogênica”, impulsionada pelo uso excessivo de tecnologia. Ele comparou a dependência de celulares à de substâncias como cocaína, explicando que ambos estimulam as mesmas áreas cerebrais relacionadas à dopamina, o “hormônio do prazer”. “O excesso de dopamina vicia o cérebro, levando a uma busca constante por estímulos”, alertou.