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Com alma de roqueiro, DJ Cesinha marcou a dance music no Acre

DJ Cesinha tem 54 anos atualmente e ainda toca em ocasiões especiais (FOTO: Sérgio Vale/ac24horas)

Houve uma época em que a vida noturna era agitada em Rio Branco (AC). Com inúmeras boates, a dance music e eletrônica comandavam as pistas nos anos 90 e início dos anos 2000. Os DJs? Personagens principais das noites acreanas. Entre dezenas de nomes, um sobressai pela originalidade: Antônio Cesar Sampaio dos Santos, o DJ Cesinha, que esgotava mais de 5 mil cópias de CDs em poucas horas no camelódromo. Em 35 anos de carreira, lançou 48 CDs.


No início, não tinha computador, mas contava com ajuda de um amigo (DJ Cristiano) para gravar as canções e vinhetas. Após muitas noites de trabalho, o estouro musical veio em meados de 1994, resultado do sucesso de suas mixagens. A partir daí, passou a viver exclusivamente da música, feito que durou até 2012, quando lançou seu último CD, de volume 48.


Foto: cedida/arquivo pessoal

Engana-se quem acha que o estilo musical preferido do DJ Cesinha, hoje com 54 anos, é o eletrônico. “Sou roqueiro. Sou do rock. Sempre gostei, minha área é do rock. Entrei no mundo da música em 1990, quando comprei um contrabaixo. Tentei tocar baixo profissionalmente, mas minha família dizia que era coisa de maconheiro. Acabou que vendi o instrumento, e depois de um tempo saí da casa dos meus pais”, relembra.


Saindo do bairro Cadeia Velha, foi morar com um amigo, o apresentador Zezinho Kennedy. Nesse período, conheceu o DJ Juca Lima, que já trabalhava no ramo. “Aí comecei a andar com o Juca, andando nas festas, ajudando ele, até que ele me sugeriu: vamos tocar comigo? E assim comecei, carregando caixas com ele, correndo para cima e para baixo, tocando em aniversários, festas de 15 anos, casamentos”.


Cesinha marcou época comandada pela dance music no Acre (FOTO: Sérgio Vale/ac24horas)

O trabalho como assistente nao durou muito e em pouco tempo Cesinha já estava tocando sozinho como DJ. “Fizemos muitos desfiles de moda, festas, Réveillon. Em certo momento, entre 1997 e 1998, parei de fazer festas de aniversário e migrei para as boates. Foi aí que conheci o DJ Roney Mattos, que me acompanhou em casas noturnas mais conhecidas, como a Hollywood, que ficava no antigo Cine João Paulo, e Via Expressa”.


Dj Cesinha tem três décadas de trabalho no ramo da música (FOTO: Cedida)

Primeiro CD

Cesinha reconhece que sempre foi bastante eclético em relação ao trabalho como DJ. “Como fazia festas de diferentes tipos, tinha que tocar de tudo. E aí em 2004 tive a ideia de lançar um CD. Peguei umas músicas. Selecionava as melhores músicas. Eu sabia o que o povo gostava. Sabia quando um ritmo iria fazer sucesso com as pessoas”, afirma.


Apesar de não ter sido o primeiro DJ a lançar um CD no Acre, o produto de Cesinha marcou uma geração. “Foi um estouro. No volume 4, que tinha Festa no Apê (Latino), foi estouro total. Aquele CD foi muito procurado”. Cesinha conta que nessa época não chegou a ganhar dinheiro com a venda dos CDs. “Eu só gravava a matriz e quem ganhava eram os famosos pirateiros, que vendiam. Eles chegavam fazer 3 mil cópias, 5 mil cópias, 8 mil copias, 3 e não duravam um dia. Vendiam tudo”, garante.


DJ Cesinha gravou 48 CDs em 35 anos de carreira (FOTO: Sérgio Vale/ac24horas)

No entanto, a venda de CDs ajudou a difundir o trabalho do DJ Cesinha, que ficou conhecido em todo o estado e até fora do Acre. “O CD divulgou o meu trabalho e me ajudou a fazer muitas festas fora de Rio Branco. Tive essa ideia, sabia que não iria ganhar com a venda do CD, mas ele se tornou um cartão de visita. Meu CD começou a fazer sucesso em Cruzeiro do Sul, Xapuri, Sena Madureira, Boca do Acre (AM). O CD ajudou a expandir meu nome e carreira”.


Ao todo, foram 48 CDs. O último foi lançado em 2012, quando ainda tocava como DJ residente no Chalé Bar. “Acredito que fiz mais de mil shows. Eram muitos, naquela época não parava, não. O período de maior auge na minha carreira foi entre 2004 a 2012, quando parei de tocar, pois as boates começando a cair em Rio Branco”.


Receita para o sucesso

Desde que saiu da linha de frente da música eletrônica local, Cesinha toca apenas em eventos especiais, esporadicamente. Mas até hoje recebe o carinho dos fãs que conquistou ao longo dos anos. “Acho que fiz sucesso por causa do meu tipo de repertório. Eu não pensava só em mim na hora de tocar, nem no que eu gostava de ouvir. Eu pensava no público”.


Com a experiência das noites, Cesinha acredita ter aprendido a decifrar a preferência de músicas entre a massa. “Sabia quais músicas iam fazer mais sucesso. Na própria festa, eu prestava atenção em qual ritmo ou estilo que agradava mais as pessoas. Tocava música internacional, dance nacional, como Pollyanna, DJ Maluco, porque sabia que o pessoal gostava”.


DJ Cesinha trabalha agora como supervisor de uma loja de acessórios (FOTO: Sérgio Vale/ac24horas)

Entre 2007 a 2010, o funk surgiu muito forte nas casas noturnas e Cesinha acompanhou a tendência. “Comecei a colocar funk na minha playlist, pois sabia que a mulherada gostava. Já os homens curtiam mais o dance, e misturei os dois ritmos. Isso que eu acho que pode ter feito as pessoas gostarem do meu trabalho. Muita gente até hoje comenta sobre meu repertório, falam: cara, gostava muito do teu CD”.


Ele escolhia as músicas e seu amigo, DJ Cristiano, que tinha computador em casa, o auxiliava. “Eu ia para casa dele e ele que fazia as coisas que eu pedia, recortava as músicas, inseria as vinhetas, que ficaram bastante famosas, como a que diz: Essa é pra detonar, DJ Cesinha”.


As mixagens do Dj Cesinha continuam sendo procuradas atualmente. Vez por outra aparece alguém lhe pedindo para comprar um CD. “Agora que estou ganhando com a venda do meu trabalho, gravo meus CDs antigos e envio no pendrive. As pessoas vêm buscar comigo. Já vendi muito para pessoas fora do Acre, enviando por correios. Continuo ganhando um dinheiro com a música dessa forma”, assegura.


Mudanças

Para ele, o cenário musical eletrônico mudou muito no Acre. “Antes a música era mais cantada, como na década de 90, início dos anos 2000. Hoje não, o eletrônico já tem pouca voz, tem uma voz mais robótica e o funk entrou no mercado. Hoje, onde tem festa, tem que tocar funk”.


DJ Cesinha lembra que fazia mais de oito shows por mês. “Tinha época que era de quinta a domingo, às vezes. De 1994 a 1998, todos os domingos tocava nas boates de Senador Guiomard. Se a vida noturna em Rio Branco ainda tivesse muitas boates, acho que ainda estaria vivendo disso”.


Com estilo único e repertório original, DJ Cesinha faz sucesso até hoje (FOTO: Sérgio Vale/ac24horas)

Cesinha lamenta: “hoje em dia tudo mudou muito. Antigamente você chegava 23 horas numa boate e era dance até 4 horas da manha. Mas depois que entrou o sertanejo nas boates, o DJ passou a tocar menos. Agora é mais sertanejo e no intervalo colocam o DJ. Foi a partir disso que eu fui me afastando das boates”.


Segundo ele, as pessoas também começaram a ficar com medo de frequentar boates, pois antigamente era bem melhor de curtir a noite. “Hoje a pessoa tem que saber curtir, saber onde está. As coisas mudaram muito. Antigamente uma boate era um ambiente mais tranquilo, até mesmo as brigas eram literalmente no tapa, hoje está mais perigoso. Tem que saber respeitar ainda mais as pessoas. É isso que digo aos DJs mais novos”.


Nova fase

O contato com o público agora é feito, na maioria das vezes, através das redes sociais. DJ cesinha acabou de criar uma conta no Tik Tok e já vem fazendo o maior sucesso, atraindo antigos fãs e ganhando novos admiradores de seu trabalho. “Esse perfil está bombando. Em apenas 4 meses consegui milhares de visualizações”.


Ele grava vídeos fazendo a mixagem com seus equipamentos em casa e publica nas redes. “Todo dia faço alguma publicação, posto foto antiga nas boates de Rio Branco, um vídeo com minhas mixagens. Os internautas têm curtido bastante essa interação”.


O garoto que começou a tocar na Le Village, no Tropical, só não se apresentou em Cruzeiro do Sul e Tarauacá. “Em Cruzeiro do Sul, inclusive, uma pessoa se passou por mim e tocou lá como DJ. Foi quando comecei a colocar minha foto na capa do CD, junto ao meu número de telefone”, brinca.


Apesar do estilo eclético, DJ Cesinha tem alma de roqueiro (FOTO: Sérgio Vale/ac24horas)

Até hoje Cesinha mantém contato com os amigos DJs Roney Mattos, Juca lima, Jean Ney, entre outros. Atualmente trabalha como supervisor de uma loja de acessórios. O próximo passo é inserir seu trabalho musical nas plataformas de músicas. Para Cesinha, o Acre ainda tem espaço para esse tipo musical, apesar de estar carente no ramo eletrônico. “Surgiram novos talentos, muitos DJs na ativa ainda, mas com outro gênero. O funk está dominando tudo. Os que tocam dance e só música eletrônica, são mais de fora do estado”, conclui.


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