Hugo Motta, Lula e Davi Alcolumbre em reunião no Palácio do Planalto • Ricardo Stuckert / PR
Num gesto de reaproximação, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apareceu ao lado do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), em evento de ajuda aos setores afetados pelo tarifaço americano nesta quarta-feira (13) no Palácio do Planalto.
Lula fez questão de ter os dois parlamentares ao seu lado, ao do vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), e de ministros ao posarem para foto após assinatura de uma Medida Provisória do pacote de socorro. A Medida Provisória começa a ter efeito imediato depois da publicação no DOU (Diário Oficial da União), mas precisa ser aprovada pelo Congresso em até 120 dias para não perder a validade.
A presença de Hugo e Alcolumbre se torna ainda mais significativa após a briga envolvendo Planalto e Congresso em relação ao aumento do IOF (Imposto Sobre Operações Financeiras) — da qual o governo saiu mais vitorioso. E ainda após a ocupação dos plenários das Casas pela oposição bolsonarista.
A expectativa do Planalto é que as ações para mitigar os efeitos do tarifaço possam unir a cúpula do Congresso com a gestão Lula, junto ainda com o empresariado.
Na noite de terça-feira (12), Lula já havia se reunido com os dois no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência em Brasília. Hugo também conversou com a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, sobre a pauta do governo no Congresso.
Uma das principais preocupações do Planalto é acelerar a análise da isenção do IR (Imposto de Renda) para quem ganha até R$ 5.000 mensais. O projeto é a principal vitrine eleitoral de Lula para 2026.
Pacote contra tarifaço
Lula lançou nesta quarta um pacote de medidas econômicas para proteger setores brasileiros afetados pelo aumento tarifário imposto pelos Estados Unidos. Batizado de Plano Brasil Soberano, o programa reúne ações emergenciais para mitigar os impactos da tarifa de 50% sobre produtos exportados ao mercado norte-americano — medida em vigor desde 6 de agosto.
Entre os principais pontos do plano está a criação de uma linha de crédito de R$ 30 bilhões, voltada principalmente à manutenção de empregos e da renda nos setores mais atingidos. O governo também adiou a cobrança de impostos de empresas prejudicadas, anunciou a ampliação de seguros para exportadores e reforçou a política de desoneração de vendas externas, com impacto estimado de R$ 5 bilhões até 2026.
Outra medida prevê que parte dos produtos perecíveis originalmente destinados aos EUA — como peixes e frutas — seja comprada pela União e por governos locais. Os alimentos devem abastecer a merenda escolar e restaurantes populares, evitando desperdícios e garantindo apoio social.
O governo pretende ainda solicitar ao Congresso que R$ 9,5 bilhões das novas despesas fiquem fora da meta fiscal deste ano.
Lula critica postura dos EUA
Durante a cerimônia de lançamento do plano, no Palácio do Planalto, o presidente Lula criticou a política comercial norte-americana e defendeu o diálogo.
“Quem não quer negociar são eles, quem está com bravata são eles. O meu time só sabe negociar, mas, se for preciso brigar, a gente vai brigar. A gente não merecia isso, mas não foi só conosco. Eles taxaram a Índia em 50%”, afirmou o presidente.
Segundo dados do governo, a tarifa afeta 36% das exportações brasileiras aos Estados Unidos. De janeiro a julho deste ano, o Brasil exportou US$ 23,9 bilhões para os norte-americanos — alta de 4,23% em relação ao mesmo período de 2024. No mesmo intervalo, o país importou US$ 26 bilhões dos EUA, um aumento de 12,56%.
Atualmente, mais de 9,5 mil empresas brasileiras exportam para os EUA, principalmente de médio e grande porte. Os setores mais afetados pelas tarifas são maquinário e equipamentos, café, madeira, carnes e açúcar.
A oposição classificou o plano como “paliativo e eleitoreiro”.
Paralelamente, o governo federal trabalha para diversificar mercados internacionais e prepara uma defesa diplomática contra novas sanções. O Itamaraty montou uma força-tarefa para rebater as acusações de práticas comerciais desleais, feitas por autoridades norte-americanas. Entre os argumentos questionados está até mesmo o Pix.
A primeira resposta formal deve ser entregue ao governo dos EUA até a próxima segunda-feira (18).
Nova sanção e tensões bilaterais
No fim da tarde desta quarta, os Estados Unidos anunciaram novas revogações de vistos, atingindo funcionários e ex-funcionários do governo brasileiro e da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) ligados ao programa Mais Médicos, criado no governo Dilma Rousseff (PT).
Segundo autoridades americanas, o programa teria gerado receitas para o governo cubano, burlado sanções dos EUA e explorado profissionais da ilha.