O secretário de Indústria, Ciência e Tecnologia do Acre (Seict), Assurbanipal Mesquita, concedeu entrevista ao programa Bar do Vaz nesta terça-feira (12), em que falou sobre os avanços da indústria no estado, os impactos dos recentes investimentos federais e as ações estratégicas do governo para fomentar o desenvolvimento econômico. Entre os principais temas abordados, Mesquita destacou a importância da Expoacre como vitrine do setor produtivo, a redução do IPTU para indústrias, os incentivos fiscais em vigor, o fortalecimento das cooperativas e a expectativa positiva em torno da recuperação das rodovias e da futura ferrovia China-Brasil.
Mesquita classificou a feira agropecuária de 2025 como um sucesso. “Acredito que foi um sucesso, dentro do esperado, a melhor e maior feira, considerando os investimentos realizados não apenas pelo governo, mas também pela iniciativa privada. Tradicionalmente, a participação da Seict tem foco no trabalho em parceria com a Fieac, no Espaço Indústria, voltado a expositores e empresários do setor. Este ano, conseguimos ampliar esse espaço, agregando startups e atividades voltadas à inovação e tecnologia, com destaque especial para a robótica”, destacou.
O secretário citou que o Acre já conta com um movimento estruturado de incentivo à inovação, com ações de instituições públicas e privadas. Entre os avanços recentes, mencionou a inauguração do Senai Hub de Inovação e a criação de incubadoras de empresas. Ele adiantou que o governo prepara a implantação de um coworking e hub de inovação para apoiar empreendedores e startups locais.
Incentivos à indústria
Mesquita também falou sobre os programas estaduais que visam fortalecer a indústria no Acre. Segundo ele, o governo mantém dois programas de incentivos fiscais que reduzem o ICMS em até 95%, além de um programa de compras governamentais que permite ao Estado adquirir produtos diretamente de indústrias acreanas, sem intermediários. “Esse programa tem beneficiado especialmente setores como confecções, movelaria e gráfica”, explicou.
Outro ponto destacado foi a concessão de terrenos no Parque Industrial e em outros espaços destinados ao setor produtivo. Somente neste ano, três áreas já foram concedidas para instalação de indústrias. “São três frentes principais: incentivos fiscais, programa de compras governamentais e concessão de terrenos. Todas visam fortalecer o ambiente industrial e atrair investimentos para o Acre”.
Assur destacou a redução do IPTU para as indústrias, que caiu de uma média de 2% para 1%. “É mais um incentivo, agora no âmbito municipal. Foi um trabalho de concepção e dimensionamento, porque a prefeitura precisa abrir mão de receita, mas conseguimos convencer a equipe técnica e contar com a sensibilidade do prefeito para adotar essa medida. Temos empresas que pagavam cerca de R$ 60 mil por ano de IPTU. Essa redução ajuda no custeio e no dia a dia das indústrias. Foi um grande ganho, muito esperado pela categoria industrial, e ontem todos comemoraram.
Demorou um pouco, mas a prefeitura tinha suas justificativas e precisava concluir os estudos. O mais importante é que agora o incentivo é permanente: foi inserido no Código Tributário. Antes, ele era concedido por leis pontuais ou decretos, que podiam ser revogados. Agora é lei, sem prazo de validade, o que dá mais firmeza e segurança jurídica.”
O secretário ressaltou ainda que essa economia pode gerar impacto positivo na geração de empregos. “Toda economia que chega à indústria pode até ajudar na contratação de mais pessoas. A indústria é um setor diferenciado, que demanda mais atenção e fixa mais recursos na região, garantindo maior circulação da economia. Por isso, é tão importante incentivar. Esse benefício vem em um momento oportuno e se soma a um pacote de medidas já existentes, tanto do governo quanto da prefeitura, para apoiar o setor”.
O gestor falou sobre incentivo fiscal na indústria: redução de 50% no ICMS da energia elétrica “O governo oferece um incentivo fiscal para a indústria participante do programa, que prevê redução de 50% do ICMS sobre a conta de energia. Muitos empresários ainda não conhecem esse benefício, por isso estamos buscando divulgar mais. Quem faz parte do programa e não utiliza esse incentivo acaba pagando a conta de luz mais cara”, explicou o secretário.
Ele destacou que, para uma indústria com uma conta de energia em torno de R$ 50 mil, cerca de R$ 7 mil a R$ 8 mil correspondem ao ICMS, podendo ser reduzidos pela metade. “Um exemplo prático são os produtores de café, que usam a ‘energia verde’, consumindo entre 22h e 5h para irrigar os plantios e ganham 80% de desconto no consumo nesse período”.
Assur ressaltou que, apesar da legislação tarifária ser modelada principalmente para o Sudeste, onde o consumo à noite é menor, na nossa região o consumo noturno é maior. “Esse incentivo é uma forma de facilitar para quem trabalha à noite, permitindo pagar menos em horários de menor uso”.
O secretário de Indústria, Ciência e Tecnologia do Acre, Assurbanipal Mesquita, destacou que a indústria no estado vem apresentando um crescimento significativo nos últimos dois anos. “Já estamos há dois anos em um processo de retomada. A indústria está exportando, crescendo e motivada. Cada vez mais vemos empresas vindo para o estado e se regularizando. Recentemente, concedemos três terrenos para novos investimentos. Fizemos um mapeamento que revelou cerca de R$ 700 milhões em investimentos na indústria, boa parte deles privados, com aporte do Estado em alguns casos. A indústria realmente está despontando, especialmente dentro do contexto de conexão internacional, com exportação e importação”, afirmou.
Setores tradicionais necessitam de atenção especial, aponta secretário
Mesquita ressaltou que alguns segmentos industriais tradicionais ainda enfrentam desafios e demandam atenção especial. “Setores como o cerâmico e o gráfico, que passa por uma transformação digital, têm sofrido e precisam reivindicar políticas de apoio. A parceria do governo com o setor gráfico, inserindo-o em programas de fomento, tem gerado esperança, mas é algo temporário. É necessário que esses setores se ajustem e inovem com produtos que o mercado exige”.
Ele também destacou o setor de confecções, que enfrenta forte concorrência e necessita de incentivos para se manter competitivo. “No Acre, por exemplo, o programa de uniformes escolares do governo envolve cerca de 40 indústrias locais, o que representa um grande impulso econômico e distribuição de renda, além de fortalecer a produção regional frente a grandes empresas de fora do estado”.
Outros setores enfrentam desafios tecnológicos e competitivos
O secretário mencionou ainda o setor de areia e outros segmentos industriais que enfrentam dificuldades para modernizar seus parques tecnológicos e competir de forma justa no mercado. “Alguns desses setores necessitam apenas de políticas de atenção específicas, que ainda não conseguimos implementar totalmente, mas que estão no nosso radar. Estamos acompanhando de perto para identificar o que pode ser feito”.
Mesquita comentou também sobre o setor madeireiro, tradicional e de exportação no estado. “A madeira exportada no Acre já é beneficiada, embora possa melhorar nesse aspecto. O setor madeireiro tradicional tem enfrentado desafios. Se olharmos para os últimos quatro ou cinco anos, ele foi o principal exportador do estado, mas não conseguiu se recuperar completamente. A demanda internacional reduziu, assim como a do mercado brasileiro”.
Ele explicou que houve uma melhora nos preços no ano passado, o que impactou positivamente as exportações, embora o volume ainda não tenha retornado aos níveis anteriores. “É um produto de alto valor agregado e o estado tem grande potencial. Observamos também o movimento da Secretaria de Meio Ambiente para retomar o programa de concessões florestais, que pode impulsionar ainda mais o setor nos próximos anos. Se o programa avançar, o Acre poderá registrar um crescimento significativo nos próximos três anos”.
O secretário Assurbanipal Mesquita comentou sobre a visita do presidente Lula ao Acre na última semana, quando foi anunciado um aporte de R$ 1,1 bilhão para obras no estado, sendo a maior parte destinada à recuperação das rodovias federais (BRs).
“Esse recurso será fundamental para ativar contratos já em andamento e iniciar a reconstrução da BR-364. Ainda há etapas a serem concluídas, como licitações, mas a notícia é muito positiva e esperada”, afirmou Assur.
Ele destacou também o anúncio da retomada do anel viário de Brasileia, projeto que simboliza a última conexão viária da rota do quadrante Mandu, fundamental para melhorar a logística local. “A ponte atual em Brasileia não suporta o fluxo, então esse investimento é crucial para o Acre e sua internacionalização”, explicou.
Assur abordou a importância das cooperativas, que funcionam como verdadeiras indústrias em escala maior, unindo pequenos produtores para fortalecer a produção e a exportação. “Para o Acre, o modelo cooperativista é uma vantagem, pois agrega pequenos produtores e fortalece a cadeia produtiva local. A Coopercafé, por exemplo, tem investimentos da ordem de dezenas de milhões de reais, com um programa total estimado em R$ 150 milhões”, afirmou.
O secretário destacou que esse movimento já impacta a vida dos produtores no campo, que têm visto melhora na renda e na qualidade de vida. “Estive recentemente na Coopercafé e ouvi relatos de produtores que conseguiram deixar empregos informais para se dedicar à agricultura de forma mais digna”.
Assur Mesquita falou sobre os efeitos positivos dos investimentos do governo federal para o Acre, destacando especialmente a importância da BR-364 para o desenvolvimento regional. “Quem acredita e está otimista é quem espera um alento para a nossa BR-364. Hoje, esse é um dos principais gargalos que o Estado enfrenta para garantir a conexão até o Juruá, que tem um grande potencial, mas está um pouco desconectado. Essa felicidade é de todos”, afirmou.
Mesquita ressaltou que o maior beneficiado com os investimentos será o município de Cruzeiro do Sul, pois ali está o maior volume de produção. “Quem vai ganhar mais com esses investimentos é Cruzeiro do Sul, com certeza. Mas a sociedade como um todo e o setor empresarial do entorno também serão beneficiados.”
Sobre parcerias com a iniciativa privada, o secretário garantiu que os esforços continuam. “É uma luta que não para, pois as demandas só crescem. Estamos trabalhando no fortalecimento das associações comerciais municipais, em parceria com a Federacli e o Sebrae, para que os empresários assumam protagonismo nas pautas regionais e colaborem com o desenvolvimento econômico local.”
Mesquita destacou ainda o programa “Protagonismo Empresarial” e o sucesso das expofeiras realizadas em municípios como Xapuri, Brasileia, Tarauacá e Sena Madureira, eventos organizados pelos próprios empresários com apoio governamental.
Para 2025, o desafio do governo será fortalecer ainda mais os incentivos para atrair e qualificar empresas, ampliar a exportação e melhorar a infraestrutura dos polos industriais municipais. “Já iniciamos um trabalho para aprimorar a infraestrutura desses polos, com previsão de conclusão até o meio do próximo ano”.
Sobre a ferrovia que ligaria o Acre ao Brasil e à China, Mesquita demonstrou otimismo. “Essa ferrovia já é uma realidade em termos de intenção dos principais atores. Faz parte da Nova Rota da Seda, projeto global da China. No ano que vem, haverá um leilão para conectar o Brasil até o Mato Grosso, facilitando o escoamento da soja”.
Ele comentou ainda os desafios ambientais para a ferrovia, especialmente em território peruano, onde existem áreas indígenas que demandam um convencimento técnico e paciente. “Se depender da burocracia ambiental, pode atrasar, mas acreditamos que essa ferrovia será uma realidade nos próximos cinco anos”, argumentou.
Assista à entrevista:
