Moradores da comunidade Santo Antônio, em Novo Airão (AM), denunciam que a ONG norte-americana Global Thinkers Now vem utilizando fotos e vídeos de ribeirinhos sem autorização para pedir doações em dólares no exterior. Segundo eles, o dinheiro arrecadado não chega à comunidade, localizada dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro.
De acordo com relatos ao g1, a ONG — fundada pelo casal Beatriz Augusta, brasileira, e Robert Ritzenthaler, americano, ligados à Igreja Adventista — divulga campanhas na internet com metas de arrecadação de milhares de dólares para “ajudar” moradores da região. Líderes comunitários afirmam que, além de não receber recursos, passaram a sofrer ameaças e intimidações de seguranças contratados pela organização.
A vice-presidente da comunidade, Marineuza Miranda Pontes, diz ter descoberto que sua própria imagem, assim como a de outros moradores, era usada nas campanhas sem qualquer autorização.
Em 2015, a Associação de Produtores Agrícolas de Santo Antônio doou à ONG um terreno de 5 mil m² para a construção de uma casa de apoio, mediante a promessa de benefícios para os ribeirinhos. Porém, segundo os moradores, no local foram erguidas casas de alto padrão, com materiais e mão de obra trazidos de fora, e houve desmatamento para as obras.
Em junho deste ano, a Secretaria de Meio Ambiente do Amazonas (Sema) multou a ONG em quase R$ 60 mil e interditou as construções. A comunidade então convocou uma assembleia para revogar a doação do terreno, mas a ONG acionou a Justiça, alegando que “o Brasil não é terra sem lei” e pedindo que o assunto fosse retirado da pauta.
A Justiça do Amazonas concedeu liminar proibindo qualquer intervenção no imóvel, sob pena de multa diária de R$ 200. Para evitar mais gastos com advogados, os moradores acionaram a Defensoria Pública do Estado (DPE-AM), que assumiu a representação do grupo. O caso segue em disputa judicial.