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Pai, a dor é quase um toque!

É madrugada e a noite estende-se como um véu de silêncio, pontuado apenas pelo latido distante de um cão e pelo barulho de um carro que passa ao longe. Silêncio que me acompanha por todos os lugares sempre que lembro de você, pai.


No subsolo, o meu inconsciente se agita como um mar em noite de tempestade. Estou no Cabo Horn. Nessas horas de profunda angústia lembro do Filho de Deus na cruz do calvário. Por quê?


O céu, lá fora, iluminado pelas estrelas, parece uma tela imóvel, enquanto o mundo ao meu redor se desdobra em uma monotonia entediante como o gotejar contínuo das chuvas.


A solidão me permite acessar a parte mais profunda do meu ser. Quanto mais me afasto do mundo exterior, mais me aproximo do humano que e habita em mim. Vou para um lugar que eu existo: os pensamentos e os sonhos. Onde Deus me permite conversar com você, pai.


A insônia, uma visita indesejada, deixa-me preso em um ciclo de pensamentos, sem escapatória. O tempo se arrasta, lento e preguiçoso, como se tivesse perdido todo o sentido. Na superfície, a vida congela.


Mergulho no passado distante, e a saudade me envolve como uma névoa. Lembro da infância, dos amigos, dos parentes e dos muitos que já se foram. Recordo as velhas toadas e canções que você gostava. Te encontro nessas melodias.


Sinto um emaranhado de emoções e me pergunto: como estaria você hoje, meu pai? Seu sorriso, suas palavras, seus gestos, seu andar, o olhar… parece tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe.


No silêncio do quarto, na penumbra, impregnado de melancolia, sinto que posso quase tocá-lo novamente. É como se o tempo tivesse parado, e eu pudesse sentir sua presença ao meu lado.


A tua ausência dói profundamente, e a saudade me invade com a pergunta que se repete: o que teria sido da minha vida se você estivesse aqui? Tive que viver, tive que suportar a dor e continuar por mim e por você. Deus ensinou na cruz que a dor não desumaniza, é o caminho para a glória. O paraíso.


Queria sentir sua presença nos momentos de alegria e nos momentos de dor, nos sucessos e nos fracassos que você não viu nem viveu ao meu lado. A ausência dói uma dor doída de alma.


Como disse, a sua falta ainda é uma dor aguda, é quase um toque. O Filho de Deus tocou o coração de Pai na dor mais profunda e angustiante.


A saudade é um fio que me liga ao passado e a você, mas também me afasta do presente. Nesse movimento, sinto-me suspenso entre o que foi e o que poderia ter sido a convivência com você depois que partiu. Estou preso em um limiar de tempo e memória.


Meus olhos embotados, pesados pela fadiga, começam a se fechar. Meu coração, um turbilhão de emoções puras, lateja com a saudade. A exaustão do pensar me arrasta para o desconhecido, e eu me deixo levar pelo sono. O dia está amanhecendo…


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