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O líder, as tramas e a rima que nunca haverá

Foto: Sérgio Vale

Enfim, Lula no Acre. Até o próprio Lula estranhou a demora. Foi o que disse o presidente ao afirmar para todos ouvirem: “uma visita muito cobrada por mim”. O problema é que Brasília não tolera voos muito altos e longos. A coisa vai no modo curto e baixo. E acaba tomando o tempo e a energia do sujeito. O fato é que foi a primeira visita na versão “Lula 3” ao Acre. E teve de tudo.


A cena toda é construída para ele brilhar. Mesmo porque, Lula está em plena campanha. Dos sete oradores, nenhum esqueceu a tarefa principal: enaltecer o líder. É parte do rito. É bem verdade que há uma diferença crucial, comparado a outros líderes: das ações de governo lembradas, nenhuma era ficção. Exceção feita às que foram anunciadas (daquilo que ainda será executado). Mas as que foram lembradas, eram verdadeiras. É preciso ser justo.
A frase “Nenhum presidente investiu tanto no Acre quanto eu” é uma paquera com a arrogância. Mas nem os opositores mais ferrenhos (caso tenham a pretensão de serem honestos) terão condições técnicas de dizer o contrário. E quando Lula faz essa sugestão de comparação, não nos enganemos: o convite não é com mira no governo passado. Este nem se reconhece no ítem “obras realizadas”.


A comparação de feitos só encontra algum paralelo (da redemocratização até o momento) em Fernando Henrique Cardoso. Por isso, a fala de Lula com tanta convicção. No entanto, o próprio Lula sabe que isso diz pouco. Tecnicamente, contabilmente, nos registros formais de Brasília, o placar pode lhe ser favorável. Mas politicamente, a conversa é outra.


A obra, por mais necessária e urgente que seja, se não houver o convencimento político do feito, de nada adianta. Lula é professor dessa lógica. Mas o Acre lhe desautoriza o ensinamento. Se nenhum presidente investiu tanto no Acre quanto Lula, por que a rejeição a ele é tão grande aqui?


Alguém não fez a lição no passado e o extremismo de direita do presente se encarregou de fazer o resto. Só que o bicho é teimoso e vai querer tirar a prova dos nove. Na Cooperacre, aconteceram mais conversas além do pedido a Petecão de que não votasse pelo impeachment de Alexandre de Moraes. Isso todo mundo viu. Mas após o ato, nos bastidores, Lula solicitou ao senador que agendasse uma reunião com a ministra de Estado de Relações Institucionais, Gleisi Hoffman. Quer conversar a sós com Petecão, sem nenhum outro interlocutor, para entender a cena política do Acre “sem arrudeio”.


Mas as explicações para a falta de autoria de Lula das coisas que realiza por aqui podem estar mais perto dele do que se imagina. É o que se pode depreender do que aconteceu no final do evento. Uma sutileza que não passou despercebida por olhos mais calejados na rotina das tramas das cortes.


Quando Lula pega de um bilhete e faz com que os produtores de café do Juruá lhe agradeçam o investimento de R$ 40 milhões, por meio do trabalho da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, o presidente não apenas quebrou o protocolo. Ele evitou uma sabotagem. Ninguém chega à presidência da República democraticamente por três vezes, ignorando as tramas paroquiais. Por mais sutis que elas se apresentem. Resultado: levou café do Juruá, produzido por tudo o que exige a Nova Indústria Brasil (NIB). Talvez, seja o café que tomará com Petecão. Açucarado com desconfianças de toda ordem.


Com a rotina tensa que o presidente tem tido em Brasília, o Acre dificilmente voltará à agenda oficial este ano. E, a depender da temperatura da Economia, nem o ano que vem. Não é Lula que tem se ausentado do Acre. É o Acre que, democraticamente, o tem rejeitado. Não é opinião. Não é um lamento. É apenas um fato. Se é justo ou não, já é outra conversa. Mas quem disse que Justiça e Política geram algum tipo de rima?


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