Nos últimos anos, as exportações do estado do Acre para os Estados Unidos, tradicionalmente centradas em produtos florestais e agroextrativistas, têm oscilado diante de fatores comerciais globais e mudanças na política internacional. Em 2025, esse cenário foi profundamente impactado pela imposição de novas tarifas por parte do governo americano, que deverão afetar diretamente as vendas externas brasileiras, incluindo aquelas originadas da região amazônica.
Este artigo analisa os efeitos dessas medidas protecionistas sobre o comércio internacional acreano, com ênfase nos produtos exportados aos Estados Unidos entre 2015 e 2025. Considera-se, especialmente, a redução da participação dos EUA no total exportado pelo estado e a vulnerabilidade de cadeias produtivas dependentes desse mercado, como a de madeira industrializada e castanha-do-brasil. A análise busca compreender os desdobramentos dessa crise comercial e as alternativas possíveis diante das tensões diplomáticas e econômicas em curso.
A análise das exportações do Acre entre 2015 e 2025 evidencia oscilações expressivas tanto no valor total exportado quanto na participação dos Estados Unidos como destino dos produtos acreanos. Embora os Estados Unidos tenham sido, em vários anos, um dos principais mercados para as exportações do estado, os dados mais recentes indicam uma forte redução na sua participação relativa.
Em valores absolutos, observa-se que o total exportado pelo Acre saltou de US$ 15,9 milhões em 2015 para uma previsão de mais de US$ 109 milhões em 2025 (valores estimados até o momento do levantamento), o que representa um aumento significativo de 581% no período. Esse crescimento demonstra a ampliação do mercado externo para os produtos acreanos, refletindo a entrada da soja, e das carnes bovinas e suínas. Portanto, uma maior diversificação da pauta exportadora e de destinos comerciais.
Contudo, no que se refere às exportações para os Estados Unidos, o cenário é inverso. Em 2021, por exemplo, o Acre exportou mais de US$ 11,3 milhões para o mercado norte-americano, o equivalente a 23,3% do total exportado naquele ano — o maior percentual da série. Já em 2025, esse valor estimado deverá cair para apenas US$ 1,44 milhão, representando meros 1,3% das exportações totais.
Essa queda acentuada na participação dos EUA, conforme tabela a seguir, é atribuída a queda das exportações de madeira e seus derivados. Ao longo dos 11 anos analisados, os Estados Unidos responderam por 8,4% do total exportado pelo Acre, percentual que revela sua importância histórica, mas que também denuncia a atual perda de protagonismo desse destino no comércio exterior acreano.
A composição da pauta de exportações do Acre para os Estados Unidos entre 2015 e 2025 revela uma forte concentração em produtos florestais, especialmente madeira compensada, madeiras tropicais e castanha-do-pará — juntos, esses itens responderam por mais de 70% do valor exportado ao longo do período, totalizando US$ 42,6 milhões, conforme demonstrado na tabela a seguir.
Entretanto, as recentes medidas protecionistas adotadas pelos Estados Unidos, com o aumento das tarifas de importação para uma série de produtos brasileiros, incluindo bens do setor agrícola e madeireiro, tendem a impactar diretamente o desempenho futuro dessas exportações. Como grande parte dos produtos exportados pelo Acre possui baixa agregação de valor e forte concorrência internacional, qualquer aumento nos custos de entrada nos EUA reduz significativamente sua competitividade.
Esse efeito já pode estar sendo antecipado nas estatísticas mais recentes. O resultado das exportações do mês de julho de 2025 para os Estados Unidos foi de apenas US$ 75 mil, representando somente 1,3% do total exportado no mês (US$ 5,74 milhões). A totalidade das exportações para aquele país foi composta somente por madeira. Esse é o menor percentual de participação desde 2017, sugerindo uma retração acentuada do mercado norte-americano como destino dos produtos acreanos.
Além das tarifas, outros fatores como exigências técnicas e barreiras não tarifárias (certificações, rastreabilidade, critérios ambientais rigorosos) podem estar contribuindo para a redução no acesso aos EUA. Isso é particularmente sensível para produtos florestais, frequentemente associados a debates sobre desmatamento, legalidade da origem e sustentabilidade.
Diante desse cenário, torna-se urgente para o Acre:
- Revisar estratégias comerciais, buscando novos mercados menos protecionistas;
- Investir na agregação de valor e certificações que atestem a origem sustentável dos produtos;
- Aprimorar a diplomacia comercial, por meio da articulação nacional, para reverter ou mitigar os impactos das novas tarifas.
A permanência das restrições pode comprometer ainda mais a já limitada participação do Acre no comércio internacional, aprofundando a dependência de mercados únicos e produtos primários.
O Brasil busca, de forma firme e estratégica, a reversão das tarifas impostas pelos EUA através do diálogo bilateral, complementado por recursos institucionais como a Lei de Reciprocidade Comercial e eventual recurso junto à OMC. Apesar das tensões políticas e adoção de medidas protecionistas pelos EUA, o país mantém uma visão multilateral e diplomática, sem descartar respostas legais e econômicas caso o impasse se prolongue.
Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas