Por Marcelo Zamora, advogado tributarista
Na última semana, os Estados Unidos impuseram uma tarifa de 50% sobre diversos produtos brasileiros, medida que ficou conhecida como o “tarifaço de Trump”. O anúncio, feito em tom de retaliação política, impacta diretamente o agronegócio nacional — em especial a pecuária e a cafeicultura, dois pilares da economia do Norte e Centro-Oeste do país.
A justificativa oficial da Casa Branca é comercial: Trump alega que os EUA enfrentam desvantagem nas trocas com o Brasil. No entanto, a realidade é bem outra — os Estados Unidos mantêm superávit na balança comercial com o Brasil há mais de uma década. A medida vem à tona justamente após o avanço do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump, acusado de planejar um golpe de Estado.
A decisão americana atinge em cheio o agro brasileiro, que hoje representa cerca de 25% do PIB nacional e é um dos setores mais dinâmicos da nossa economia. No Norte, o avanço da pecuária bovina é um exemplo claro disso: estados como Acre e Rondônia vêm ganhando destaque nacional com aumento de produtividade, rastreabilidade e integração com frigoríficos exportadores.
A pecuária no Are representa 60% do agronegócio, que representa algo em torno de 22% do PIB acreano.
A cafeicultura também merece atenção. Embora ainda em expansão no Acre, ela já é realidade nos estados vizinhos, como Rondônia, que se tornou referência na produção de café robusta de qualidade. Os EUA compram 30% do café que consomem do Brasil. Com a nova barreira, o impacto nos produtores e exportadores é inevitável — menos competitividade, redução de margem e risco de queda na demanda.
As tarifas não afetam apenas grandes empresas. O impacto se espalha pela cadeia produtiva, atingindo pequenos produtores, transportadoras, cooperativas, fornecedores de insumos e atacadistas.
A carne que não for exportada terá que ser absorvida internamente, pressionando os estoques e os preços locais. Além disso, a queda na renda do campo repercute em outros setores, como comércio e serviços — sobretudo nas cidades do interior.
Quando um setor perde competitividade por causa de tarifas internacionais, como as impostas pelos Estados Unidos, ele precisa vender por um preço menor ou arcar com prejuízo — o que reduz sua margem de lucro. Nesse cenário, o planejamento tributário deixa de ser apenas uma estratégia de longo prazo e passa a ser uma necessidade urgente de sobrevivência. Torna-se preciso monitorar estoques, fluxo de caixa e oportunidades de financiamento rural.
A pujança do agronegócio brasileiro — e da pecuária amazônica, em especial — é resultado de décadas de investimento, inovação e trabalho no campo. Mas decisões geopolíticas como o tarifaço de Trump mostram que força produtiva sozinha não basta. É preciso inteligência comercial, articulação política e planejamento tributário para proteger o que construímos.
Neste momento, o Norte do país precisa estar atento. O futuro da nossa produção agropecuária depende da capacidade de adaptação, da segurança jurídica e da estabilidade nas relações internacionais, como acomodar os produtos para outros mercados.
Os efeitos do tarifaço ainda são incertos, mas tendem a ter algum impacto relevante, na medida em que aproximadamente 17% das exportações de carne bovina e de café são para os Estados Unidos.