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Coisas dos tempos

Por
Narciso Mendes

“Ó tempos, ó costumes”. Esta expressão foi utilizada por Cícero. para lamentar a decadência política e moral dos seus tempos.


Marco Túlio Cícero, ou simplesmente Cícero, foi um advogado, político, escritor, orador e filósofo ao tempo da República Romana. Nasceu em 3 de janeiro de 106 a.C, e foi assassinado em 7 de dezembro de 43 a.C. Enquanto viveu defendeu ardorosamente a República, sempre buscando governos baseados na virtude, na justiça e na participação de elites virtuosas.


À seu tempo ele já se preocupava com a corrupção e a falta de caráter dos poderosos. Defendia as formas que garantissem o consenso social, e ao mesmo tempo tinha ciência que a verdade absoluta seria inatingível. Foi um incentivador da participação dos cidadãos virtuosos na vida política romana, isto para evitar que o poder viesse cair nas mãos dos ambiciosos e corruptos.


Os seus discursos se constituem entre os mais belos documentos da nossa história humana. Portanto, qualquer semelhança que se faça com a nossa contemporaneidade, inclusive em relação ao nosso país, não é mera coincidência. Graças aos seus discursos, Cícero conseguiu evitar o golpe que Catalina planejava contra a própria República Romana.


Catilina era um político romano e conhecido por suas ambições, entre elas, as suas conspirações contra a República, daí a oposição que Cícero lhes fazia via seus discursos inflamados, as famosas Catilinárias.


Por que fui buscar nos velhos tempos alguns exemplos para compará-los com os atuais? Simples assim: porque eram tantas as suas diferenças e ainda ajudado pela sua extraordinária eloquência que, para Cícero, derrotar Catilina os mesmos se fizeram necessários.


Presentemente, mundo afora e no nosso país, abundam os Catilinas e faltam os Cíceros, e disto tem resultado no que de pior poderia existir para a humanidade. Daí a pergunta que não pode calar: o que haveremos de esperar, em se tratando de paz e tranquilidade do atual presidente dos EUA, Donald Trump? E de um Benjamin Netanyahu, primeiro ministro de Israel?


Por incrível que pareça, não fosse à guerra Rússia/Ucrânia, até o beligerante Wladimir Putim estaria sendo lembrado como um estadista e defensor da paz. Volto a repetir Cícero: Ó tempos, ó costumes.


Enquanto isto, e cá entre nós, a polarização Lula/Bolsonaro continua empurrando-nos para o caos, afinal de contas, ainda que nenhum dois mereça ser alçado à condição de herói, infelizmente, o antilulismo vem alimentando o heroísmo do ex-presidente Jair Bolsonaro e o antibolsonarismo, igualmente, alimentando o heroísmo do presidente Lula.


Como não sou lulista e nem bolsonarista e como bem disse, Bertolt Brecht, “maldito é o país que precisa de herói”. Portanto, me desanima testemunhar, e em tempos de internet e das falaciosas redes sociais, que as desinformações continuam influenciando a nossa já bastante e deficiente consciência política.


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Narciso Mendes