Foto: Iago Nascimento
Durante entrevista concedida ao ac24agro neste sábado (2), nos estúdios montados no Parque de Exposições Marechal Castelo Branco, em Rio Branco, durante a penúltima noite da Expoacre 2025, o consultor rural Adelar da Silva, da empresa Agroterra, e o gerente do Banco da Amazônia (BASA) de Plácido de Castro, Jussyê Mendes, discutiram os principais desafios enfrentados pelos produtores rurais da região, como a falta de sucessão familiar nas propriedades, a assistência técnica insuficiente, os embargos ambientais e as dificuldades para acessar crédito.
Adelar da Silva destacou um problema crescente: a falta de sucessão familiar no campo. Segundo ele, muitos produtores envelhecem sem conseguir repassar suas terras para os filhos, que acabam se afastando da vida rural. “Os filhos saem para estudar e não retornam. O pai, que trabalhou a vida inteira na propriedade, chega a uma certa idade e precisa vender tudo, muitas vezes por um valor abaixo do mercado. Só em Acrelândia, já identificamos mais de dez propriedades nessa situação. É um ciclo que enfraquece o campo e compromete o futuro da produção”, afirmou.
Para Adelar, mesmo nas propriedades produtivas, a ausência de assistência técnica contínua é outro entrave. “Hoje, temos um governo, mas não temos pernas para chegar a todas as propriedades. A Agroterra atua há 10 anos oferecendo assistência em diversas áreas, como piscicultura, café, bovinocultura de leite e corte, além de financiamento e regularização fundiária”, explicou.
O gerente do BASA em Plácido de Castro, Jussyê Mendes, apontou que a regularização fundiária continua sendo o principal impeditivo para o acesso ao crédito no Acre e em outros estados da região Norte. “Quase 100% das propriedades ainda enfrentam problemas documentais. Para acessar crédito, é necessário ao menos o título de posse da área. Além disso, há entraves como licenciamento ambiental, embargos e pendências no Cadastro Ambiental Rural (CAR)”, afirmou.
Mendes reforçou que o banco tem buscado alternativas para facilitar o acesso ao financiamento, especialmente aos pequenos produtores, que representam a maioria dos atendidos na região. “Temos linhas como o BASA Digital, que permite crédito de até R$ 30 mil com documentação mínima, e o Quintal Produtivo, do novo Plano Safra, voltado para projetos em pequenas áreas, com limite de até R$ 20 mil”, destacou.
Segundo ele, a política do banco busca atender tanto os grandes quanto os pequenos produtores, com atenção especial para os pronafianos. “Queremos que o crédito seja um instrumento de transformação social, geração de emprego e renda. O papel do BASA vai além do lucro — buscamos desenvolvimento regional”, declarou.
Ao falar sobre as diferenças econômicas entre municípios vizinhos, Mendes citou que, apesar da proximidade geográfica entre Plácido de Castro e Acrelândia, os contextos produtivos são bastante distintos.
“Acrelândia hoje é a principal produtora de café do Acre, respondendo por cerca de 58% da produção estadual. Já Plácido se concentra na pecuária de corte. Houve um tempo em que também teve destaque na produção de leite e banana, mas isso foi se perdendo com o tempo. Faltaram políticas públicas e incentivos para manter essa vocação”, avaliou.
Adelar também abordou o impacto dos embargos ambientais em Acrelândia. De acordo com ele, o número de áreas embargadas tem crescido, o que impede muitos produtores de acessar crédito e compromete o desenvolvimento local. “Temos muitas áreas embargadas, o que prejudica não só o produtor, mas o município e o estado. O desembargo é extremamente difícil, e sem crédito, o produtor não consegue investir. Precisamos de uma política pública mais eficiente e diálogo entre os órgãos ambientais, sindicatos e produtores”, defendeu.
Ele citou que há assentamentos com até 1.500 famílias que não conseguem acessar financiamento devido à situação fundiária irregular e aos embargos do Programa de Desmatamento Ilegal (Prodes). “O produtor rural tem vontade de trabalhar, mas sozinho não consegue. Sem assistência técnica e financiamento, ele não tem como tirar dinheiro do próprio bolso para manter a produção”, concluiu.
Ao ser questionado se os produtores conseguem efetivamente acessar crédito rural, Adelar da Silva, da Agroterra Consultoria, afirmou que aproximadamente 70% dos casos têm solução. “A gente consegue reverter em torno de 6 a 7 casos a cada 10. É um bom percentual. Os outros 30%, 20%, são situações que realmente não têm saída, mas mesmo assim, a gente tenta de tudo. Vamos atrás de brechas, alternativas, e não desistimos do produtor rural”, garantiu.
Já o gerente do Banco da Amazônia (BASA) em Plácido de Castro, Jussyê Mendes, destacou os desafios da atuação no Acre. “Apesar de ser um estado relativamente pequeno em comparação com outros da região Norte, as dificuldades são imensas. Sem o apoio dos parceiros técnicos, não conseguiríamos alcançar tantos produtores. A visita in loco, o levantamento de documentação e a orientação técnica exigem tempo e estrutura que, sozinhos, o banco não teria como oferecer”, afirmou.
Mendes citou que o novo Plano Safra destinou R$ 12 bilhões para a região, abrangendo agricultura e demais atividades rurais, e que a execução dos recursos depende da atuação conjunta com consultores técnicos. “Em estados como o Amazonas, que tem dimensões continentais, seria inviável atender determinadas localidades sem o parceiro técnico. E o mesmo vale para o Acre. O técnico representa o banco lá na ponta e ajuda desde a análise de necessidade do crédito até a viabilidade real do investimento”, explicou.
Ele também reforçou que os principais entraves para o acesso ao crédito continuam sendo a regularização fundiária e o licenciamento ambiental. “São gargalos sérios que prejudicam o avanço do crédito no estado. É um tema que precisa ser enfrentado em diálogo com o poder público, porque afeta diretamente o desenvolvimento da produção rural”, concluiu.
Assista à entrevista: