Para meu grande chapa professor Sergio Souza.
Deus na hora. Meu bom amigo professor e jornalista Sergio Souza, mestre na arte de conhecer o modus vivendi do povo acreano, humorista nato, “de nascença!”, grande fazedor de piadas, doutor em fazer a gente achar graça de um tudo, de um nada. Foi meu colega de trabalho, na saudosa redação do finado jornal Página 20, na meada dos anos 90, do século passado. Tempo em que mucura apagava a luz de todo o estado do Acre e se levavam seis horas para viajar de Rio Branco a Xapuri, terra de meu dileto amigo.
Passando em seu possante Volkswagen Gol 3.2, todo cinza arroxeado, brilhando mais que beiço de quenga, duas portas asa delta, rebaixado, freios ABS e uma ruma de luz neón pelas beiras dos pára-choques, mais outras nas calotas das rodas, banco trazeiro cheio de “santinhos” e outros apetrechos de quem é bom de voto, meu amigo, candidato a vereador me viu, ali, na parada de ônibus do bairro Aviário, em frente ao hotel Imperador Galvez. Parou adiante, meteu ré cantando pneu.
Junto com todos os que esperavam, há horas o maldito ônibus, que teimava em não chegar eu corri pro rumo das paredes, pra longe da beira da rua, da lama que a freada levantou pelos ares. Dona Maria Edite, coitada, não escapou da chuva quente daqueles dias amazônicos, xingou até a minha mãe, prima dela, xingou até a mãe dela. Pense numa mulher pra saber xingar?! Sai da minha posição de conforto, como bom cidadão que sou, acodi a criatura vituperante quando meu amigo chegou.
Educadamente, desculpou-se e, sem querer, obviamente deixou sobre mim sua culpa, pois que parara abruptamente porque me vira e, como bom amigo queria me oferecer carona em seu automóvel. Todos aquiesceram, mesmo ainda dando cotôco, dona Edite também se aquietou mandando-nos à putaquipariu quando o carro dali rumou. Serginho é muito legal. Parou porque me viu. O cara é sensacional. É mesmo! É um cara ino e voltano!
– E aí, Braguinha? Beleza?
– Pô, cara, valeu. Chuva da porra, hein?!
– Tá morando onde?
– Moro ali, no Galvez.
Sabe aquele barulho horroroso de freio? Cantada de pneu? Não sei descrever… Bosta que quis sair e voltou? Mijo que se estagnou? Lágrima que parou assustada, no ar? Olhos cilhopassados, beiços pelaventados, orelhas batendo nos olhos?
Glória a Jesus! Por Nossa Senhora! Aleluia! O carro parou.
– Tu mora no Hotel Imperador Galvez?
– É… Em troca da moradia, eu faço o marketing do hotel…
– Que legal, cara! Mas, tu num paga nada, nada, nada?
– Err… tem uma taxazinha de manutenção, sabe? Porteiro, restaurante, garçom…
– Sei… e quanto é?
– Assim… uns tantos contos…
– Porra! Paráfusos!
– É claro que a gorgeta do garsom é desse tantão assim! E a gente tem que se desviar, e se desviar a todo custo! Afinal, quem tem cus…to tem medo, né?
– Vixe! Garsom caro, hein?!
– Mas, tem a arrumadeeeira…
– Humm! Inda tem vaga lá? Precisa de um redator?
– Não, não. Eu dou conta.