Foto: Jardy Lopes
Durante o terceiro dia da Expoacre 2025, o presidente do Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do Acre (Fundepec), José Marcos Leite, conhecido no setor como Juninho, e o ex-presidente e pecuarista Alcides Teixeira da Rocha concederam uma entrevista ao ac24agro na tarde desta segunda-feira (28). A conversa revelou bastidores decisivos da história sanitária do Acre e destacou o papel vital do fundo na erradicação da febre aftosa e no fortalecimento da cadeia produtiva da carne no estado.
Logo no início, Alcides resgatou a origem do Fundepec. “O Fundepec foi criado em setembro de 96, porque já havia uns fundos nos outros estados, porque seria uma determinação do Mapa, pra gente ter mais controle da febre aftosa”, explicou, referindo-se ao início dos esforços locais para controle sanitário.
Segundo o pecuarista, o cenário na época era crítico. “Em 99, nós éramos risco desconhecido”, lembrou Alcides. A partir daí, uma força-tarefa uniu produtores, governo do Estado e entidades como a Federação da Agricultura. “O fundo já era constituído, aí foi quando entrou o governo, entrou a Federação da Agricultura, entrou o Fundepec”, destacou Alcides.
Foto: Jardy Lopes
“O Acre partiu da estaca zero. Era uma exigência do Mapa para que se avançasse a criação de um fundo privado pelos produtores. Saímos do zero em termos sanitários de aftosa e hoje estamos mandando gado pro Brasil inteiro. Quatro frigoríficos operando com CIF”, afirmou Juninho.
Questionado sobre o funcionamento prático do fundo, Juninho explicou que 50% do recurso arrecadado é destinado exclusivamente ao rifle sanitário. “O objetivo primordial do fundo era você guardar uma reserva dele para o rifle sanitário. Nada mais é do que, se você tiver um foco [de aftosa], você faz um cerco sanitário e o fundo entra com caráter indenizatório”, explicou.
O fundo, no entanto, também apoia diretamente o poder público. “Desde o início que nós começamos a trabalhar a orientação do Mapa, o fundo é parceiro do governo. Com pessoal, com logística, com serviço de campo”, disse Juninho. Ele relatou que o Fundepec chegou a bancar salários de até 50 técnicos em parceria com o Idaf. “Hoje são 26, com convênio renovado a cada três anos”, destacou.
Foto: Jardy Lopes
O fundo é alimentado diretamente pelos produtores, como explicou Juninho: “Estamos em torno de 3,8 milhões no caixa. Estamos com a mesma taxa há quatro anos. São R$ 2,40 que o pecuarista paga por cabeça na hora do abate. E R$ 0,25 em caso de transferência de CPF para CPF.”
Um dos episódios mais dramáticos narrados na entrevista foi a reta final da luta pela classificação do Acre como área livre de aftosa sem vacinação. “Chegou uma hora que Rondônia queria deixar a gente de fora. Eu conversei com o conselho deliberativo e vários fazendeiros falaram: ‘Alcides, não adianta o dinheiro do fundo ficar no caixa. Se nós não for agora (2004), seria somente em 2026”, relatou Alcides.
Foto: Jardy Lopes
“Teve uma reunião em Manaus, e praticamente o Acre ia ficar de fora (zona livre de aftosa). Com muita habilidade, o governo do Estado na época conseguiu mais 90 dias. Não tinha meio-termo nisso, eram só questões pontuais. O Fundepec foi instado a cooperar, cooperamos e avançamos”, acrescentou Juninho.
Sobre os desafios atuais, Juninho foi categórico ao afirmar que o maior desafio é manter o Acre na zona livre de aftosa. “Difícil foi chegar onde chegamos. Mais difícil ainda é manter. Agora, sem a vacina, é muito mais importante o cuidado. Mas eu estou muito seguro em falar que o Idaf é hoje um dos melhores institutos de defesa do Brasil. Eu não tenho vergonha de dizer: estamos na frente de Rondônia hoje”, afirmou o pecuarista.
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