Foto: Jardy Lopes/ac24horas
Em palestra realizada nesta sexta-feira (25), no auditório da Fecomércio, em Rio Branco, o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo traçou um panorama preocupante sobre os desafios enfrentados pela região amazônica, especialmente no que se refere à segurança pública, soberania nacional e desenvolvimento econômico.
Com o tema “Segurança e Soberania”, Rebelo iniciou sua explanação destacando a extensão das fronteiras brasileiras na Amazônia, que ultrapassa dois mil quilômetros, incluindo divisas com Peru, Colômbia, Venezuela e Guianas. Segundo ele, essa realidade impõe a necessidade de integrar segurança pública e defesa nacional. “É muita fronteira e muita atividade criminosa, muitos crimes transnacionais. Então, não tem como separar segurança pública e defesa nacional numa região como essa”, afirmou.
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O ex-ministro citou a Operação Ágata, executada durante sua gestão, como exemplo de ação eficaz. A operação envolveu as Forças Armadas, polícias estaduais e a Receita Federal. “Durante a Operação Ágata, a criminalidade caía a quase zero. Mas isso exige inteligência, equipamento e investimento. E custa caro”, destacou.
Ele lamentou a falta de infraestrutura de patrulhamento nos estados amazônicos. Como exemplo, questionou quantas lanchas ou barcos de patrulha estão à disposição da Polícia Militar e da Polícia Civil do Acre. “Quase tudo aqui é rio. Como fazer patrulhamento sem equipamento?”, indagou.
Rebelo também relatou uma visita à Finlândia, onde conheceu lanchas-patrulha usadas no Mar Báltico. Para ele, esse modelo seria ideal para combater o crime na Amazônia.
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Em sua palestra, Rebelo fez duras críticas à política ambiental brasileira, que, segundo ele, tem bloqueado cadeias produtivas e impedido alternativas de sustento para a população amazônica. “O mundo ideal para eles é com todas as fazendas lá [nos países desenvolvidos] e todas as florestas aqui. E a gente importa o que eles produzem”, ironizou.
Segundo ele, o bloqueio à atividade econômica legal tem contribuído para o avanço do crime organizado, que se apresenta como única alternativa de sobrevivência para muitos jovens. “Hoje há três Estados na Amazônia: o oficial, o paralelo (controlado pelo crime organizado) e o da economia clandestina”, afirmou. Ele ainda citou o relato de um prefeito do Amazonas: “Não sou mais o maior empregador do meu município. Perdi esse posto para o narcotráfico”.
Rebelo criticou a ausência de infraestrutura e oportunidades para profissionais qualificados formados na região. Ele citou o caso de jovens engenheiros no Acre que, ao se formarem, são obrigados a deixar o estado por falta de oportunidades.
“Aqui não tem estrada, não tem ferrovia, não tem obra. O menino se forma em engenharia e precisa pedir passagem para ir embora. Castanheira não contrata engenheiro, seringueiro ou técnico. Não tem trabalho.”
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Ele também usou como exemplo a Reserva Extrativista Chico Mendes. Segundo Rebelo, o morador é forçado a criar gado para ter liquidez imediata, já que a atividade extrativista tradicional não garante renda suficiente.
Ao abordar o tema da mineração, o ex-ministro foi enfático ao defender a exploração regulada de recursos como petróleo, ouro e diamantes. Ele comparou o Brasil à Venezuela, que exporta 470 toneladas de ouro por ano, enquanto o Brasil exporta apenas 70, mesmo tendo maior potencial. “Estamos abrindo mão de riquezas que continuam sendo exploradas ilegalmente. E o pior: quem tenta trabalhar legalmente é tratado como criminoso.”
Ele relatou casos de repressão a garimpeiros, cujas casas e equipamentos são destruídos por operações de fiscalização. “Nem traficante tem a casa queimada. Mas garimpeiro tem. Isso é um absurdo”, disse, relatando inclusive a ameaça feita a uma família que se recusou a sair de casa durante uma operação.
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Aldo Rebelo também não poupou críticas à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e à forma como, segundo ele, ela representa uma visão idealizada da Amazônia para agradar líderes internacionais. “Dizem que isso aqui é um paraíso. Mas cuidado com esse paraíso. A Marina foi a segunda mulher que fugiu do paraíso. A primeira foi a Eva — e, pelo menos, a Eva tinha uma paixão pelo Adão”, ironizou.
Aido defendeu mudanças constitucionais e infraconstitucionais para limitar os poderes de órgãos como Ibama, Conama e Funai, que, segundo ele, agem de forma abusiva e impedem o progresso da região. “Esses órgãos hoje têm poder demais. Precisamos rever a Constituição e leis que dão a eles esse poder. Não podemos continuar bloqueando o desenvolvimento de uma das regiões mais ricas do mundo em nome de uma política ambiental equivocada”, pontuou.
O ex-prefeito de Sena Madureira, Mazinho Serafim, elogiou a palestra do ex-ministro Aldo Rebelo e aproveitou para reforçar a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento para a região. Segundo ele, o extrativismo já não é mais suficiente para sustentar o estado do Acre.
Mazinho se disse impressionado com a memória e o domínio de informações apresentados por Rebelo durante sua fala. “O senhor falou do Rio Curuís, do Anel Santa Rosa, do Rio Tapajós… Fiquei me perguntando: como é que ele guarda tanta coisa na cabeça para falar assim, com tanta clareza, para esse público maravilhoso que está aqui debatendo?”, declarou.
O ex-prefeito também defendeu a revisão da legislação ambiental brasileira, seguindo a linha crítica de Rebelo. “O colega que falou antes de mim está certo: se a legislação não mudar, vamos continuar como estamos. Um morando aqui e outro indo embora para São Paulo. Essa é a realidade de quem vive na Amazônia Legal. Precisamos encontrar uma saída para o nosso estado”, disse.
Segundo ele, a situação social do Acre é alarmante. “Sempre digo: o Acre tem 1% de pessoas que vivem mais ou menos, 49% são pobres e 50% são miseráveis. A parte mais difícil do nosso estado está entre Sena Madureira e Cruzeiro do Sul, onde eu moro. É a região mais carente do Acre.”
Mazinho finalizou agradecendo a presença de Aldo Rebelo e elogiando sua trajetória. “Agradeço por estar aqui com a gente. Hoje fiz 148 km para vir até aqui, e não me arrependo. Vou voltar enfrentando buraco, estrada ruim, mas com a certeza de que valeu a pena”.
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