Tempo de luta. Lutemos

Por
Valterlucio Campelo

Todos sabem que ali do lado, na Venezuela, há uma ditadura em plena vigência. Cerca de 20% da população se mandou, principalmente para a Colômbia, um tanto para o Brasil e assim por diante. São pessoas que de um modo ou de outro perderam as condições de permanecerem no país que durante algum tempo foi o mais promissor da América Latina, pois combina enormes riquezas naturais, especialmente petróleo, com uma população que atualmente está em torno de 30 milhões de pessoas. O país, infelizmente, sucumbiu ao socialismo e é hoje o retrato do fracasso social e econômico.


Apesar de toda a desgraça, pergunte-se a um venezuelano quando a ditadura se instalou e ouvirá um “não sei”. Isso porque não houve efetivamente uma data em que um líder revolucionário declarou o país uma ditadura. Pelo contrário, toda a operação foi realizada dizendo se tratar de uma democracia. Cada passo, cada medida extraordinária de centralização, cada decreto, cada expropriação, cada fechamento, cada enfrentamento à oposição, cada cassação de mandato, cada eleição viciada e assim por diante, foi realizada em nome da democracia, embora fosse a sua derrubada. De tal modo que, ao se saber sob uma ditadura, o venezuelano comum se perguntou, como isso foi possível e não obteve resposta. 


É o caso brasileiro. Para quem possui um pingo de inteligência, uma nesga de honra e senso crítico, é certo que já estamos sob um sistema ditatorial. Nossas liberdades foram relativizadas, nossos líderes estão sob ataque, nossa ideia de sociedade aberta e livre foi pro vinagre, o parlamento que deveria representar o povo está sob cabresto, a imprensa foi adquirida e as mídias sociais estão sob vigilância. No comando, tal qual na Venezuela, o consórcio executivo-judiciário esmaga a democracia, o devido processo lega e as garantias individuais. 


Pergunte-se a qualquer brasileiro sério, consciente da realidade política, quando teve início a ditadura e ninguém responderá com exatidão. Terá sido quando o STF deu um cavalo de pau de 180 graus e tirou Lula da cadeia? Foi quando lhe deram um incompreensível alvará para ser candidato? Foi a partir de quando interferiram no executivo e proibiram o Bolsonaro de nomear seu diretor de Polícia Federal? Foi quando prenderam o deputado Daniel da Silveira? Foi quando a Ministra Carmen Lúcia disse que só um pouquinho de censura não faria mal? Foi quando protegeram Lula durante o processo eleitoral e restringiram a campanha do Bolsonaro? Foi quando negaram a possibilidade de auditagem das urnas eletrônicas? Foi quando transformaram o vandalismo em tentativa de golpe e prenderam milhar de manifestantes? Foi quando moveram a perseguição ao Bolsonaro? Foi mais recentemente, quando na canetada jogaram no lixo os votos dos deputados no projeto do IOF? Impossível dizer.


Cada um de nós, que observe com olhar crítico o dia a dia do brasileiro e não seja um sabujo do sistema, pode ter a sua própria ideia, a sua avaliação individual e situar o gatilho da ditadura em qualquer momento, o que não pode é negar que estamos sob um regime de força, de medo e ameaça.


No Brasil, assim como na Venezuela, não sabemos quando a coisa começou nem porque fomos sendo condescendentes com cada arbítrio. Tudo era “em defesa da democracia”, era contra um autoritarismo de fantasia. Tal qual na Venezuela, eles se firmaram numa falsidade para agir contra a liberdade e assim, pouco a pouco, introduzir um socialismo podre, nefasto, assassino.


Alguns mentecaptos na imprensa acham que ditadura tem que fechar igrejas, trancar jornais, rasgar bandeiras e mudar o hino nacional. É não, imbecil! O socialismo moderno é contar com sua voz e sua caneta estúpida endossando cada passo do ditador. O socialismo de século 21 não tem guilhotinas nem paredões, ele é exercido no ajoelhamento do congresso nacional, no silenciamento jurídico da oposição, no acadelamento da imprensa e dos jornalistas, no amedrontamento do indivíduo. 


Os últimos dias estão escancarando a ditadura. Por fora do devido processo legal, resolveram emparedar em casa o maior líder da oposição, Jair Bolsonaro. É uma prisão domiciliar sem ser condenação. Uma medida cautelar fora da ordem jurídica, um assombro legal. Mesmo assim, apoiado pela imprensa de modo geral e pelos jornalistas treinados na sabujice do momento. 


Aí vem o debatedor de um lado só transformar Donald Trump num intruso, num invasor da soberania brasileira. Ora, ora. Esgotadas as possibilidades de enfrentamento interno da ditadura, é legítimo que outras nações ajam em defesa da democracia. Não se trata do indivíduo Bolsonaro, mas daquilo que ele representa, ou seja, a defesa da nação brasileira que está sendo gradualmente transformada em satélite Chinês. As sanções econômicas e políticas ao Brasil e determinados brasileiros são o anúncio de que o mundo democrático está nos observando e não vai ficar de braços cruzados.


Os tiranos contam com a servidão voluntária para estabelecerem seu ordenamento autoritário, os servos contam com os tiranos para lhe garantirem segurança e estabilidade. É um conluio nefasto identificado há séculos. Vejo isso em caixa alta em cada artigo ou nota de jornal que leio na imprensa avassalada. Vejo isso em cada político que se omite porque acha que não é com ele, ou que declarar sua opinião o jogará na “polarização”. Vejo isso no silêncio de juristas que não querem comprometer as causas de seu interesse. Vejo isso nas corporações que trocam a liberdade por uma vaga no vagão do tirano. É a servidão sem a qual a tirania desabaria.


Felizmente, não há apenas servidão. Há luta. Milhões de brasileiros percebem que não se trata de mero confronto jurídico, mas de um processo crucial para o futuro de nossos filhos e netos. O Brasil não será a Venezuela que Lula e Fidel e Chavez prometeram no Foro de São Paulo. Para isto, basta seguirmos o jovem francês Etienne de La Boétie e não entregarmos o que eles querem. Lutemos.


Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no  DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.


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Valterlucio Campelo