O IBGE lançou, no último dia 11/7, os resultados do Censo Demográfico 2022: Unidades de Conservação – Principais características das pessoas residentes e dos domicílios, por recortes territoriais e grupos populacionais específicos – Resultados do universo, com apresentação realizada no Anfiteatro Garibaldi Brasil, no campus da Universidade Federal do Acre (UFAC), em Rio Branco (AC).
O estudo trouxe as principais características dos moradores e domicílios dessas localidades, incluindo populações indígenas e quilombolas.
O objetivo deste artigo é apresentar os dados gerais resultantes do estudo sobre as Unidades de Conservação no Acre. Em seguida, vamos focalizar as informações mais detalhadas relativas à Reserva Extrativista Chico Mendes.
Floresta habitada: 1 em cada 25 acreanos vive em áreas protegidas
Para uma população total de 830 mil pessoas, 34,4 mil moravam em Unidades de Conservação – UC’s, correspondendo a 4,14% da população acreana. O que significa que um de 25 acreanos moram em UC’s. Desses moradores da Unidades, 6,7 mil moravam na zona urbana e 27,7 mil na zona rural.
O Acre possui 15 UC’s distribuídos pelo seu território. Na tabela abaixo contém a quantidade de moradores em cada uma das UC’s, destacando a situação de domicílio em cada uma delas. Na tabela a seguir constam os dados das pessoas por situação do domicílio das 15 UC’s do Acre.
Os municípios acreanos com maiores proporções de moradores morando em UC’s, pela ordem são: Marechal Thaumaturgo (43,74%), Xapuri (20,79%), Brasiléia (10,78%), Jordão (9,66%) e Epitaciolândia (9,44%).
Os município com as menores proporções de população morando em UC’s, pela ordem são: Feijó (0,55%), Manoel Urbano (0,56%), Bujari (0,62%), Santa Rosa (0,71%) e Capixaba (1,12%).
Os municípios de Acrelândia, Plácido de Castro e Porto Acre não possuíam nenhum morador em UC’s.
Os números do Ceso de 2022 da Resex Chico Mendes: símbolo da resistência seringueira e marco do extrativismo sustentável no Acre
A Reserva Extrativista Chico Mendes foi oficialmente criada em 12 de março de 1990, por meio do Decreto nº 99.144. A unidade foi instituída como uma área de uso sustentável destinada às comunidades tradicionais de extrativistas, inspirada na luta de Chico Mendes e pioneira nesse modelo no Brasil.
A criação das reservas extrativistas representa, antes de tudo, uma vitória na luta pela terra. A intensa corrida por terras no Acre, na década de 1970, motivou uma resistência organizada por parte dos seringueiros, tendo em Chico Mendes seu maior líder. Assim, as reservas são fruto do movimento sindical rural, surgido no contexto da luta pela reforma agrária e em diálogo com o movimento ambientalista.
Conforme relatório do Conselho Nacional dos Seringueiros, de 1992, a Resex Chico Mendes contava com 1.428 famílias, distribuídas em uma área de 970.570 hectares, com 1.142 colocações. A reserva representava cerca de 6% do território acreano, abrangendo os municípios de Rio Branco, Senador Guiomard, Capixaba, Xapuri, Epitaciolândia, Brasiléia e Assis Brasil.
Panorama dos Moradores da Resex Chico Mendes em 2022
Em 2022, a Reserva Extrativista Chico Mendes abrigava um total de 10.210 moradores, dos quais 5.618 eram homens e 4.592 mulheres, evidenciando uma ligeira predominância da população masculina (cerca de 55% do total).
A faixa etária com maior número de residentes foi a de 20 a 59 anos, com 5.220 pessoas, representando aproximadamente 51% da população total. Essa faixa concentra a maior parte da força de trabalho ativa na reserva, refletindo a importância da mão de obra adulta nas atividades extrativistas e agrícolas locais.
Já o grupo de 0 a 19 anos contabilizou 4.285 moradores (cerca de 42% da população), o que revela uma população jovem significativa e indica a necessidade de políticas públicas voltadas à educação, saúde e formação profissional.
Por fim, a população com mais de 59 anos somou 705 pessoas, sendo a menor entre os três grupos etários, o que pode refletir tanto as condições de vida na floresta quanto o êxodo de idosos para áreas urbanas com maior acesso a serviços de saúde especializados.
Conforme pode ser constatado no gráfico abaixo, esse perfil populacional destaca o papel estratégico da juventude e da população em idade produtiva na continuidade dos modos de vida tradicionais e na sustentabilidade socioambiental da reserva.
A taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais de idade na Reserva Extrativista Chico Mendes, em 2022, alcançou 80,02%, com uma leve vantagem das mulheres (82,01%) em relação aos homens (78,49%).
O grupo com maior nível de alfabetização foi o dos jovens de 15 a 19 anos, com taxa média de 96,19%, refletindo avanços no acesso à educação nas gerações mais recentes. Nesse grupo, as mulheres apresentaram um índice de 97,42%, superando os 95,21% dos homens.
Na faixa etária de 20 a 64 anos, que corresponde à maior parte da população economicamente ativa, a taxa de alfabetização foi de 77,63%, também com leve predominância feminina (78,69%) sobre os homens (76,82%).
O menor índice foi registrado entre os moradores com mais de 64 anos, com uma taxa de apenas 33,68%, evidenciando as dificuldades históricas de acesso à educação enfrentadas pelas gerações mais antigas da região.
Esses dados revelam importantes conquistas educacionais, especialmente entre os jovens, mas também apontam a necessidade de políticas públicas voltadas à alfabetização de adultos e idosos na reserva, reforçando o papel da educação como instrumento de inclusão social e cidadania.
Na próxima semana voltaremos com mais informações censitárias da Resex Chico Mendes.
Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas