O turismo é, para muitos lugares do mundo, mais do que uma atividade econômica: é uma estratégia de desenvolvimento, uma fonte de renda sustentável e um vetor de dignidade social. Cidades que antes eram pequenas vilas tornaram-se potências econômicas e sociais graças à inteligência com que souberam explorar suas belezas, culturas e vocações locais. Gramado, Pinto Bandeira, Bento Gonçalves — todas essas cidades do Sul do Brasil são exemplos vivos de como o turismo bem planejado transforma realidades.
Volto a esses destinos pela terceira vez e, a cada visita, a percepção se reforça: são lugares limpos, organizados, com ruas floridas, empreendimentos familiares prósperos e, sobretudo, sem miséria aparente. É raro ver moradores de rua. Por quê? Porque o turismo gira a economia local. Emprega o jovem que trabalha em pousadas, o idoso que guia turistas, a mãe que cozinha doces artesanais, o agricultor que fornece ingredientes típicos. É a economia da inclusão.
Enquanto isso, o Acre — com sua floresta, sua cultura rica e seu povo acolhedor — ainda engatinha no turismo, mesmo tendo potencial para se tornar um dos principais destinos da América do Sul. O estado pode, sim, gerar emprego, renda e riqueza por meio do turismo — e há caminhos claros para isso.
Eventos como a Expoacre em Rio Branco e a Expoacre Juruá já demonstram, em menor escala, o impacto do turismo de entretenimento. Durante os dias da feira, hotéis lotam, restaurantes trabalham em capacidade máxima, o comércio aquece. Esses eventos movimentam milhões de reais em poucos dias. Se forem estruturados com mais profissionalismo, comunicação estratégica e pacotes turísticos integrados, podem colocar o Acre no calendário nacional de eventos.
A Serra do Divisor, com sua biodiversidade única e paisagens de tirar o fôlego, é um dos destinos com maior potencial para o ecoturismo no continente. O turista do século XXI quer mais do que praias e compras — ele quer experiências, contato com a natureza, sustentabilidade. Com uma logística aérea mínima, formação de guias locais, pousadas de selva e campanhas de divulgação, a Serra pode se tornar o “Vale Sagrado” do Brasil, a exemplo do que o Peru fez com Cusco e Machu Picchu.
O Acre também tem enorme potencial no turismo étnico-indígena e religioso. Os rituais, a espiritualidade da floresta, as aldeias que preservam tradições milenares, tudo isso desperta interesse crescente no Brasil e no mundo. Além disso, o estado possui forte expressão de religiosidade cristã que pode ser convertida em roteiros de fé, como ocorre em Juazeiro do Norte, Trindade e Aparecida.
O turismo não é a única saída. Mas pode ser a melhor estrada.
É claro que o turismo, sozinho, não resolverá todos os problemas econômicos do Acre. Mas ele pode ser uma grande via rumo ao progresso. Ao gerar emprego local, ao valorizar a cultura, ao atrair investimentos e dar orgulho ao povo, ele se torna um motor de desenvolvimento de baixo impacto ambiental, mas de alto impacto social.
Investir em turismo é investir em autoestima coletiva. É dizer ao mundo que temos algo precioso a mostrar. Que temos riquezas que não saem da terra, mas que brotam do coração da floresta e da alma de seu povo.
Marcello Moura é empresário, presidente do CDL Rio Branco e idealizador do movimento CIDADANIA EMPREENDEDORA.